Os campeonatos profissionais de futebol masculino voltam neste fim de semana. Os estádios vão voltar a ficar preenchidos por adeptos sedentos de ver a bola a rolar ao longo de 34 jornadas de norte a sul do país, ilhas incluídas. O carro ainda é visto como a melhor opção para ir ver os jogos ao vivo, mas por todo o lado não falta uma estação de comboios ou de metropolitano e até terminais rodoviários com serviço expresso (viagens superiores a 50 quilómetros). Falta é alinhar horários e promover uma deslocação mais coletiva, sem ter de obrigar sócios e simpatizantes a alugar meios de transporte por si próprios. 

Na I Liga, metade dos estádios está a menos de 15 minutos a pé deste tipo de serviços de transporte, revela a pesquisa feita pelo SAPO24 e que inclui todas as equipas continentais — ficaram de foram o Nacional (da Madeira) e o Santa Clara (dos Açores). 

A caminhada mais curta é para o Estádio do Dragão: a estação do Metro do Porto fica a cinco minutos a pé; há ainda a alternativa do comboio da CP, com o apeadeiro de Contumil a 15 minutos. Casa Pia e Rio Ave estão empatados: o estádio de Rio Maior, atualmente emprestado à equipa de Lisboa, tem o terminal rodoviário da cidade a seis minutos e é servido por autocarros expresso; para ver o Rio Ave, a estação do Metro de Vila do Conde também fica à mesma distância. 

Em Lisboa, o transporte por metropolitano serve para ver os jogos do Benfica (Colégio Militar/Luz e Alto dos Moinhos), do Sporting (Campo Grande e Telheiras) e do Estrela da Amadora, com percursos a pé de 10 minutos. A zona da Reboleira também é servida pela estação da Linha de Sintra, que fica a apenas oito minutos de caminhada do Estádio José Gomes. Os mesmos oito minutos separam o Estádio Dom Afonso Henriques da central de camionagem de Guimarães. No entanto, se os apoiantes do Vitória Sport Clube quiserem usar o comboio, a estação terminal já fica a 22 minutos, implicando o uso de um autocarro urbano (GuimaBus) para chegar ao estádio com menos cansaço.

Também se anda menos de 15 minutos a pé do estádio para o transporte nos casos do Boavista (estação do Metro do Porto de Francos) e do Famalicão (serviço CP). No caso do Arouca, o centro coordenador de transportes apenas conta com autocarros locais, o que dificulta a vida a adeptos visitantes de outras paragens.

Ver um jogo do Braga obriga a caminhar pelo menos 23 minutos do terminal rodoviário até ao estádio municipal; quem vir de comboio tem de andar meia-hora. Servidos pela CP estão igualmente os aficionados do AVS, Estoril Praia, Farense, Gil Vicente e Moreirense mas o percurso a pé nunca é inferior a 20 minutos.

Neste fim de semana arranca igualmente a II Liga, com os adeptos a terem de fazer um esforço maior para ir ver os jogos sem ter de usar o carro em grande parte dos casos. Para ir ver o Paços de Ferreira, o terminal da Auto-Viação Pacense fica a 40 minutos a pé do Estádio da Capital do Móvel e só tem serviço de longa distância para o Porto. No caso do Penafiel, o Municipal 25 de Abril localiza-se a 35 minutos da estação ferroviária, obrigando a procurar alternativas.

Em Vizela, a estação ferroviária fica a mais de 20 minutos do estádio local, distância temporal semelhante entre o campo do Académico de Viseu e a estação rodoviária da cidade e entre o Estádio Marcolino Castro e a estação de Vila da Feira.

Em oposição, o estádio do Torreense é o que está mais próxima de uma estação de comboios (Torres Vedras), bastando um percurso a pé de seis minutos. Em nove minutos, os adeptos do Leixões deslocam-se da estação de metro Pedro Hispano para o Estádio do Mar.

Empresas abertas a parceria

Para evitar a concentração de carros e de filas de trânsito junto aos recintos, os festivais de música apostam há vários anos em bilhetes conjuntos para promover os transportes coletivos. Um só ingresso dá acesso aos concertos e ao autocarro ou comboio para voltar para casa. A CP e a FlixBus admitem alargar esta lógica aos jogos de futebol.

“Até à data, a CP não foi contactada pela Liga Portugal para estabelecer uma parceria que incluísse descontos nos bilhetes de comboio para detentores de bilhetes de jogos de futebol. No entanto, estamos abertos a explorar esta possibilidade, reconhecendo a importância de facilitar o transporte sustentável e eficiente para os adeptos de futebol”, refere ao SAPO24 fonte oficial da transportadora. Até lá, a empresa pública realiza pontualmente serviços especiais, como o transporte de adeptos do SC Braga até Lisboa para verem os “guerreiros do Minho” na Taça de Portugal ou então o aluguer de comboios a grupos de adeptos.

A FlixBus sinaliza que quando há eventos especiais em determinada região, como jogos de futebol, “reforça a capacidade nas linhas e horários que servem a localidade” de cada um dos acontecimentos. Falta o resto: “nunca estivemos em contacto com a Liga Portugal, no entanto, uma parceria deste género é algo que podemos equacionar no futuro, já que o fazemos regularmente para outros eventos, tais como festivais ou mesmo feiras profissionais”, refere o operador alemão. A Rede Expressos diz apenas que nunca recebeu um contacto da Liga Portugal para a criação de parcerias comerciais.

Liga Portugal sem iniciativas

Na página da Liga Portugal não há referências às componentes da sustentabilidade e da mobilidade. O SAPO24 tentou entender se há alguma iniciativa nesta área por parte da entidade que organiza os campeonatos profissionais de futebol masculino. A resposta só chegou depois da publicação do artigo.

“A mobilidade sustentável é um tema que está presente na ordem de trabalho e no propósito da Liga Portugal e estamos sempre a trabalhar com o objetivo de aumentar o número de projetos nesta área. É um trabalho gradual, no qual estamos totalmente empenhados.” Na área ambiental, a organização dos campeonatos profissionais tem medidas para separar os resíduos, trocar os vales dos bilhetes em papel por vouchers digitais e ainda a redução do consumo de água e electricidade. As medidas são executadas através da Fundação do Futebol Liga Portugal e contam com parceiros como a Sociedade Ponto Verde.

A nível europeu, a UEFA pretende que as operações e eventos sejam neutras em carbono até 2040. E o mais recente europeu de futebol foi muito baseado nos transportes coletivos, com o comboio, autocarro e metropolitano a transportarem os milhões de adeptos que vieram ver as partidas em todo o país. Resta saber quando é que Portugal começa a olhar seriamente para o ambiente à volta dos estádios.

Veja aqui os tempos até aos estádios: