“Não teve golpe nenhum. Quando começou a história da chamada procedência da acusação [contra Dilma Rousseff] na Câmara dos Deputados, eu vim para São Paulo e fiquei no meu escritório várias semanas por uma razão, que eu reconheço existe, é que o vice é sempre suspeito”, declarou Temer numa entrevista ao portal de notícias Uol.
“Não houve golpe, o que houve foi um cumprimento da Constituição Federal. Basta ler lá, está dito, que se o Presidente cair assume o vice-presidente, primeiro ponto. Segundo ponto, eu quero dizer que a senhora ex-presidente, às vezes falam em corrupção, é mentira. Ela é honesta. Eu sei, o que eu pude acompanhar, que não há nada que possa apontá-la de corrupta. Para mim [Dilma Rousseff] é honestíssima”, acrescentou.
Na entrevista, Temer – que foi chamado de golpista por Rousseff e seus apoiantes durante o processo de destituição baseado em supostas irregularidades fiscais na gestão de programas sociais, acusação da qual foi declarada inocente pela justiça brasileira -, afirmou que a ex-presidente teve problemas políticos com o Congresso.
“Houve problemas políticos. Ela [Dilma Rousseff] teve dificuldades no relacionamento com o Congresso Nacional, teve dificuldade no relacionamento com a sociedade e teve as chamadas ‘pedaladas’ [manobra fiscal que consiste no atrasos de envio de dinheiro a bancos públicos referentes ao pagamento de benefícios de programas sociais]”, afirmou Temer.
“Este conjunto de fatores é que levou multidões às ruas. Quem derruba Presidente, num ‘impeachment’ [destituição], não é o Congresso Nacional. É o povo nas ruas que influencia o Congresso Nacional”, completou o ex-presidente.
Temer fez questão de dizer que atendeu o pedido de Dilma Rousseff para estabelecer um diálogo com o Congresso antes do processo de destituição e frisou não ter tido “participação em nada e nem foi golpe parlamentar porque [o processo de destituição] foi levado adiante pelo Congresso”.
À época da destituição de Dilma Rousseff, o Brasil era palco de grandes protestos contra o Governo e contra políticos e empresários envolvidos em escândalos de corrupção investigados pela Operação Lava Jato, que levaram milhões de pessoas às ruas e também grupos menores de apoiantes da ex-presidente que defendiam a sua permanência no Governo.
Em 2019, o próprio Michel Temer acabou preso duas vezes acusado de corrupção em investigações da Lava Jato que desvendaram uma ampla rede de corrupção na estatal petrolífera Petrobras e em outras empresas públicas do país.
Temer foi acusado de receber subornos de empresas que ganharam contratos no consórcio vencedor da licitação da unidade Angra 3, que faz parte da central nuclear Almirante Álvaro Alberto, no Rio de Janeiro, e também de ter recebido supostas vantagens indevidas em razão de um decreto para a área de portos, acusação da qual foi considerando inocente.
Em junho passado, o Tribunal Regional Federal da 1.ª região decidiu manter a rejeição da denúncia contra o ex-presidente e outros sete investigados na operação Descontaminação, que envolvia supostas irregularidades em contratos firmados para a construção da empresa de energia nuclear Angra 3.
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