Mais um dia com os peregrinos em forte presença na Cova da Iria. De acordo com informação disponibilizada pelo Santuário de Fátima, fizeram-se anunciar, às 09h00, 151 grupos de peregrinos organizados. Destes, 82 são oriundos de Portugal. No total, 200 mil peregrinos estiveram no recinto e 320 doentes para a bênção.

Estiveram também presentes 274 padres, 23 bispos e três cardeais na celebração de 13 de maio, foi ainda referido ao SAPO24.

Tal como na noite de ontem, as cerimónias integraram os dois símbolos da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), a cruz peregrina e o ícone de Nossa Senhora Salus Populi Romani.

Na homilia, o Cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado do Vaticano, lembrou que a celebração desta manhã começou com uma oração em que se pede para Deus trabalhar "generosamente pela salvação do mundo e pela dilatação do reino de Cristo".

Contudo, é também através de Maria que ajuda a direcionar o seu povo para Cristo. "Sabe estar na hora da Igreja, incessantemente chamada a renascer do sangue e da água do seu Salvador, para sair dos inúmeros Cenáculos fechados a fim de O dar a conhecer ao mundo inteiro, com a força dos dons do Espírito Santo".

Assim, Deus é "sempre um futuro de paz e de esperança" e a casa comum, neste "planeta saqueado", deve ser espaço de encontro, conhecimento e cooperação.

"A história dos crentes, de que Fátima é sinal e anúncio, sempre nos mostra Maria solícita e presente, por graça de Deus, no dia a dia dos fiéis e no seu tempo, para que a luz da Páscoa ilumine as inteligências, os corações, as mãos, as obras e os dias, abrindo-os, assim, ao futuro de Deus, que é sempre um futuro de paz e de esperança", afirmou o Cardeal.

"Santa Maria é conjuntamente sinal e testemunho, porque a sua maternidade universal não conhece os muros das diversidades culturais, sociais, políticas; antes, pelo contrário, ensina a dilatar os espaços da Igreja, para que seja a comunidade onde a harmonia das diferenças inutiliza a vontade do domínio e homologação, ao serviço da qual tantas vezes estão injustamente as leis humanas, seja por cumplicidade, seja por cobardia", refletiu.

No dia em que o Papa Francisco recebe o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, que se encontra em Roma, o secretário de Estado do Vaticano sustentou que "a História não é um afastamento progressivo e inexorável de Deus", como poderia levar "a crer aquilo que, geralmente", são considerados sinais da sua ausência, como "as lágrimas sem resposta, o luto contínuo, os lamentos causados pela infidelidade, a traição e a violência, a fadiga que se sente em viver numa cidade baseada na opressão, a morte que apaga e silencia tudo e todos".

"Ao contrário, a História constitui o aproximar-se fielmente de nós da cidade de Deus, onde tudo resplandece com a novidade que a sua presença e benéfica ação tornam possíveis", considerou.

O Cardeal Pietro Parolin realçou, depois de lembrar que Deus está "naqueles que o mundo esquece e descarta", que Jesus "deseja realizar em cada pessoa humana este mistério oculto há séculos, ser Pai mesmo de quem não passa de terra e cinza".

"Ser terra e cinza pode tornar-se o fundamento para abrir espaço à lei do amor e fazer da casa comum, que é este nosso planeta saqueado, a casa daqueles que, na sua diversidade, se reconhecem entre si irmãos e irmãs” e “segundo a cultura do encontro, do conhecimento recíproco e da cooperação", assinalou.

Sobre Fátima, disse que "há duas palavras que este lugar santo da Cova da iria, com a sua história e espiritualidade", propõe: a penitência e oração.

"A penitência autêntica faz-nos crescer numa justa relação com o próximo; a oração verdadeira educa-nos para o encontro com a Santíssima Trindade", declarou, pedindo que estas palavras nunca se afastem dos corações.

No fim da intervenção, o Pietro Parolini deixou ainda um pedido: "que a luz e os valores da Páscoa de Cristo não nos faltem jamais a nós, a este lugar santo, à Igreja universal e particular, para que a alegria do Evangelho continue a ser anunciada, com zelo e humildade, ao mundo inteiro, e a todos os homens e a todas as mulheres que Deus ama".

"Será sempre só mais um tempo"

No final da celebração, a irmã Ana Luísa Castro, da Aliança de Santa Maria, leu a habitual palavra ao doente, antes de ser dada a bênção a todos os presentes na galeria.

"Querido irmão e querida irmã que te encontras doente, neste momento diante de Jesus presente na Eucaristia, contemplamos juntos o seu Corpo entre por nós. Rezamos unidos diante Daquele que pode curar não só o corpo, mas também o espírito", começou por dizer.

Comparando a doença de cada um ao sofrimento de Jesus na cruz, afirmou ainda que o sofrimento "que os medicamentos para a dor não conseguem tirar" nunca será "invisível aos olhos de Deus ou inútil nesta História de Salvação".

"O bispo italiano D. Tonino Bello, que morreu vítima de cancro e sobre quem corre o processo de beatificação, encontrou na parede de uma sacristia um crucifixo ao lado do qual se encontrava um letreiro com estas palavras: 'colocação provisória'. Observou D. Tonino: 'Colocação provisória. Penso que não deve haver fórmula melhor para definir a cruz, a minha, a tua, e não só aquela de Cristo. A cruz, o gólgota, não é morada de ninguém, é provisória, tem um início e terá um fim, e para além da cruz, espera-nos a glória da ressurreição'", contou.

Associando estas palavras a Fátima, Ana Luísa Castro lembrou que os pastorinhos "viveram assim a sua porção de cruz, na consciência de que o tempo de escuridão é sempre passageiro".

"Se para os santos Francisco e Jacinta o tempo foi realmente breve, para a Irmã Lúcia as palavras ditas por Nossa Senhora de que ficava cá 'mais algum tempo' implicaram quase 98 anos de vida", acrescentou.

Assim, "também nós ficamos cá mais algum tempo e talvez a pergunta fundamental não seja se serão muitos ou poucos anos, anos com muito ou pouco sofrimento, mas como é que viveremos esse tempo. Será sempre só mais algum tempo, um tempo precioso e único que te é dado para nele escreveres a história que quiseres, com os instrumentos e as forças que tens ao teu dispor".

Uma história a ser escrita: a JMJ

Antes da procissão do adeus, o Bispo de Leiria-Fátima, D. José Ornelas, entregou simbolicamente os símbolos da JMJ aos jovens da diocese. "Aqui tendes a cruz que já percorreu mundos inteiros e aterrou nesta diocese de Leiria-Fátima", disse.

"Recebei a cruz e o ícone de Nossa Senhora, símbolos da JMJ. Convidai a todos para a Jornada Mundial da Juventude em Lisboa", acrescentou.

Após esse momento, ouviu-se novamente o hino da Jornada — Há pressa no ar — no recinto, cantado pelo coro do Santuário. Os jovens em frente da cruz juntaram-se ao cântico, também com um breve momento coreográfico.

No fim, o adeus. Como sempre, palmas à passagem do andor de Nossa Senhora de Fátima. E muitos peregrinos de lenços brancos no ar, numa despedida que se quer ver muitas mais vezes.

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