“Aconteceu o desastre porque nós tínhamos muita matéria orgânica seca que, talvez, se nós tivéssemos um pouco mais de gado no Pantanal, isso teria sido um desastre até menor do que aquele que tivemos este ano”, disse a ministra Tereza Cristina, durante uma audiência na comissão temporária do Senado, que acompanha a crise provocada pelos incêndios naquela que é a maior zona húmida do planeta.
Segundo a responsável pela tutela da Agricultura, “o boi é o bombeiro do Pantanal”, tese que já foi defendida pelo próprio ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, mas que é criticada por ambientalistas.
“Eu falo uma coisa que, às vezes, as pessoas criticam, mas o boi ajuda, ele é o bombeiro do Pantanal, porque ele que come aquela massa do capim, seja ele o capim nativo ou capim plantado (…) Com a seca, a água do subsolo também baixou os níveis. Essa massa virou um material altamente combustível”, acrescentou Tereza Cristina.
O Pantanal brasileiro, considerada a maior zona húmida do planeta, teve 14% da sua área devastada pelo fogo apenas em setembro, superando todo o território destruído em 2019, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
No mês passado, o Pantanal brasileiro registou 8.106 focos de incêndio, um número recorde desde 1998.
Já no acumulado do ano, de janeiro a setembro, 26% de todo o bioma do Pantanal foi consumido pelo fogo, num total de 18.259 fogos contabilizados.
Após as declarações da ministra da Agricultura, a organização não-governamental (ONG) Greenpeace indicou que “falar em boi bombeiro para justificar tamanha crise é equivocado”.
“Além de o efetivo bovino ter crescido no bioma, isso desvia o foco dos reais responsáveis pela situação. (…) Se não tivesse ocorrido um desmonte [desmantelamento] da gestão ambiental no Brasil, a situação não teria chegado a este nível de gravidade. Temos um Governo federal falhando deliberadamente no seu dever constitucional de proteger o meio ambiente”, frisou a ONG em comunicado.
Para enfrentar a destruição do bioma, a comissão temporária do Senado aprovou um requerimento para sugerir ao Presidente do país, Jair Bolsonaro, a inclusão, pelos próximos cinco anos, do Pantanal no Conselho Nacional da Amazónia Legal, entidade que coordena diversas ações direcionadas para a preservação daquela que é a maior floresta tropical do mundo.
O objetivo da proposta é garantir estrutura para combater futuros incêndios no Pantanal, com mais recursos financeiros e logísticos, incluindo o uso de helicópteros e apoio de militares e agentes da Força Nacional e da Defesa Civil.
Situado na região centro-oeste, o Pantanal é uma planície que tem 80% de sua área inundada na estação chuvosa e é considerado um santuário de biodiversidade, onde ainda se encontra preservada uma fauna extremamente rica, que inclui animais como o jacaré, arara-azul ou onça-pintada.
Contudo, atravessa agora uma situação preocupante, ao enfrentar os piores incêndios das últimas décadas.
Especialistas indicam que o aumento das chamas na zona húmida do Pantanal se deve ao aumento da desflorestação ilegal, que vem crescendo gradativamente a cada ano, causando uma série de mudanças climáticas, como a alteração do ciclo natural das chuvas.
Este ano não choveu o suficiente durante a temporada, o que baixou os níveis de humidade do Pantanal para os menores índices dos últimos anos.
Diferentemente da Amazónia, o Pantanal brasileiro é divido em propriedades privadas, onde fazendeiros desenvolvem atividades agropecuárias adaptadas ao clima e as condições da região há séculos e que tradicionalmente convivem em harmonia com o meio ambiente.
Contudo, embora exista um bom convívio entre atividade humana e o meio ambiente, o fogo é uma ferramenta usada no trabalho na terra no Pantanal e se for aplicado sem o olhar atento dos agentes públicos pode causar estragos.
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