A reunião do grupo parlamentar do PSD, que ainda decorre, começou com uma intervenção do presidente do partido, Rui Rio, na primeira vez que se juntou à bancada social-democrata, e que terminou sem palmas, ao contrário do que era habitual com o anterior líder, Pedro Passos Coelho.
De acordo com relatos feitos à agência Lusa, entre as intervenções mais duras contam-se, até agora, as de Luís Montenegro, Teresa Morais e Carlos Abreu Amorim.
Luís Montenegro, que já admitiu poder vir a candidatar-se à liderança, considerou que a estratégia de Rui Rio de aproximação ao PS “está a servir para branquear” a atitude do Governo no passado, dizendo que foram sempre os socialistas que não quiseram dialogar com o PSD.
“A posição de Costa é um insulto ao diálogo partidário”, afirmou Montenegro, considerando que o líder do PS e primeiro-ministro “anda a gozar” com o PSD.
“O que o PS fará connosco é o que o PCP e o BE deixarem”, afirmou.
Por outro, o antigo líder parlamentar do PSD pediu a Rui Rio que seja capaz de motivar os deputados, considerando que estes não podem ser “convencidos à força” e frisou que a sua motivação será “o maior crédito” para o sucesso do seu caminho.
Por outro lado, Carlos Abreu Amorim, antigo vice-presidente da bancada do PSD, destacou a “atitude grandiosa” de Fernando Negrão na semana passada, quando o líder parlamentar pediu desculpas aos deputados por alguns excessos de linguagem e sugeriu ao presidente do partido que faça o mesmo.
Luís Montenegro lembrou a Rio que “precisa dos deputados” e salientou que foi muito difícil convencer os parlamentares do PSD a aprovarem as duras medidas da ‘troika’ e que foi nas reuniões da bancada que os convenceu da “bondade das medidas”.
O ainda deputado, que deixará o parlamento em 05 de abril, pediu ainda ao presidente do partido que não desvalorize o trabalho feito pela anterior direção em matérias como a descentralização ou justiça, área sobre a qual diz não conhecer o que pretende Rui Rio.
“Estamos a 17 meses de eleições, é preciso propostas concretas”, desafiou.
Já a antiga vice-presidente do partido Teresa Morais retomou as críticas que tinha feito na semana passada perante Fernando Negrão, lamentando que membros da Comissão Política tenham sugerido a renúncia de mandato aos deputados discordantes.
“Não é um bom principio de quem quer unir”, alertou, voltando a lembrar que o mandato de deputado pertence ao próprio.
Por outro lado, Teresa Morais disse não ter gostado de saber pela comunicação social das “alterações importantes” que Rio pretende introduzir no partido, nomeadamente através da criação de porta-vozes setoriais (nacionais e distritais) através do Conselho Estratégico Nacional (CEN) do PSD, apresentado na quarta-feira.
Esse foi um dos pontos da intervenção inicial de Rui Rio, que chegou à reunião da bancada acompanhado pelo deputado e secretário-geral Feliciano Barreiras Duarte, do líder parlamentar Fernando Negrão, do primeiro vice da bancada Adão Silva e do vogal da Comissão Política Maló de Abreu, que chegou a entrar na Sala do Senado, mas não acompanhou a reunião.
De acordo com os relatos feitos à Lusa, Rui Rio disse que a direção e a bancada parlamentar estavam “no ponto zero” da relação, agora que as eleições internas e divisões tinham ficado para trás, e recordou o seu próprio percurso como deputado.
O novo presidente social-democrata garantiu que “a competência será reconhecida” mesmo entre os que não foram seus apoiantes e, sobre os acordos de regime que quer procurar, manifestou-se confiante de que a opinião pública – embora não a opinião publicada – entende a sua estratégia.
Rui Rio frisou que “ninguém ganha eleições, as eleições perdem-se”, e por isso salientou a importância de denunciar o que Governo faz mal e depois encontrar soluções, considerando que o diálogo com o executivo não impede que sejam apontadas as suas falhas.
Por temas, considerou que a primeira reforma a fazer, “mais difícil e complexa”, será a da justiça, seguindo-se a do sistema político.
Quanto às novas funções do CEN, que alguns consideram desvalorizar o papel dos deputados e das distritais, assegurou que continuará valorizado o papel dos coordenadores das comissões parlamentares e lembrou que nas secções temáticas terão sempre lugar um ou dois deputados.
Rui Rio negou que o novo CEN configure um “governo sombra”, preferindo falar de uma estrutura “macro” que trará mais gente ao partido.
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