Foi mais anos professor que jornalista, mas, numa entrevista ao 'Público', no ano passado, Mário Mesquita já antevia que quando morresse os obituários haviam de o lembrar como jornalista: "Presumo que no meu necrológico também sairá 'o jornalista Mário Mesquita', disse em agosto de 2021. Morreu aos 72 anos, confirmou o SAPO24.
Mário Mesquita, que fez jornalismo na transição de Portugal para a democracia, foi mais do que um operário das notícias: foi deputado à Constituinte e à assembleia que lhe sucedeu. Antes, tinha sido um dos fundadores do Partido Socialista. Quando saiu dessas duas vidas, passou a formar os futuros jornalistas em Portugal, passando pela Nova de Lisboa e pela fundação da licenciatura em Jornalismo da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.
Em Lisboa, foi depois professor na Escola Superior de Comunicação Social.
Mário Mesquita nasceu em Ponta Delgada, Açores, em janeiro de 1950 e era vice-presidente do Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social, desde 14 de dezembro de 2017.
Antes, Mário Mesquita esteve ligado à oposição democrática desde a sua juventude, apoiando a CDE dos Açores em 1969 e 1973 e estando sempre próximo de figuras socialistas como Jaime Gama e Carlos César. Esteve depois entre os fundadores do PS, em abril de 1973, na República Federal Alemã, e após o 25 de Abril de 1974 foi deputado à Assembleia Constituinte (1975-1976).
Na primeira legislatura, voltou a ser eleito deputado pelos socialistas, mas afastou-se do PS em 1978.
Licenciou-se em Comunicação Social pela Universidade Católica de Lovaina. Foi jornalista do 'República' (1971-1975), diretor (1978-1986) e diretor-adjunto (1975-1978) do 'Diário de Notícias' e diretor do 'Diário de Lisboa' (1989-1990), pode ler-se na sua biografia na página da ERC.
Foi ainda provedor dos leitores do 'Diário de Notícias' (1997-98) e ajudou a criar a licenciatura em Jornalismo da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, na qualidade de professor associado convidado (1993-1988). Foi também professor auxiliar da FCSH da Universidade Nova de Lisboa.
Pela sua atividade de jornalista, foram-lhe atribuídos o Prémio Artur Portela, concedido pela Casa de Imprensa pela carreira profissional (1987); o Prémio de Reportagem do Clube Português de Imprensa (1986), o Prémio Gazeta de Mérito, concedido pelo Clube dos Jornalistas, pela atividade desenvolvida na qualidade de provedor dos leitores (1998); e o Prémio Nacional Manuel Pinto de Azevedo Jr., na modalidade de Investigação, concedido pelo jornal O Primeiro de Janeiro (1999).
Foi colunista do 'Público', do 'Diário de Notícias' e do 'Jornal de Notícias'. É autor de oito livros sobre Comunicação Social.
Pela sua atividade cívica e política, de antes e depois do 25 de abril, foi condecorado com a Ordem do Infante D. Henrique (1981), pelo presidente António Ramalho Eanes. Recebeu também comendas da Ordre nationale du Mérite (França, 1979) e da Ordre Léopold II (Belgica, 1982).
Em 2011, foi distinguido com a medalha de reconhecimento pela Assembleia Legislativa Regional da Região Autónoma dos. E, em 2015, com o diploma de reconhecimento municipal pela relevância do seu percurso como jornalista, escritor e político pela câmara municipal de Ponta Delgada.
Foi declarado Deputado Honorário pela Assembleia da República, em 2016, e recebeu a medalha de honra da Sociedade Portuguesa de Autores, no ano seguinte.
ERC destaca passagem marcada "pelas sempre oportunas intervenções"
A Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) destacou hoje que a passagem de Mário Mesquita pelo órgão, onde estava há mais de quatro anos, é assinalada "pelas suas sempre oportunas intervenções" e “permanente empenho no enriquecimento da instituição".
"Foi com profunda tristeza que a ERC tomou conhecimento do falecimento do professor Mário Mesquita, vice-presidente desta instituição, desde dezembro de 2017", salienta o regulador dos media, numa nota de pesar.
Mário Mesquita foi eleito pela Assembleia da República para membro do Conselho Regulador da ERC e escolhido pelos seus pares para vice-presidente.
"No exercício destas funções, pôde aplicar os seus profundos conhecimentos e experiência na área da Comunicação Social, sendo de grande valor os seus muitos contributos", refere a ERC, adiantando que a sua passagem pelo órgão regulador "fica assinalada pelas suas sempre oportunas intervenções e, também, pelo permanente empenho no enriquecimento da instituição, designadamente através da publicação de trabalhos especializados sobre matérias do maior interesse para a Comunicação Social".
A ERC "presta a sua sentida homenagem ao jornalista, político e académico Mário Mesquita e à família enlutada apresenta os sentidos pêsames", conclui o regulador.
(artigo atualizado às 16:03)
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