Cruzeiro Seixas, um dos nomes fundamentais do Surrealismo em Portugal, é autor de um vasto trabalho no campo do desenho e pintura, mas também na poesia, escultura e objetos/escultura.
Em outubro tinha sido distinguido com a Medalha de Mérito Cultural, pelo “contributo incontestável para a cultura portuguesa”.
Cruzeiro Seixas, cuja obra está representada em coleções como as do Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado, Fundação Calouste Gulbenkian e Fundação Cupertino de Miranda, completaria cem anos a 3 de dezembro.
O presidente da Câmara de Vila Nova de Famalicão, Paulo Cunha, decretou hoje dia de luto municipal pela morte de Artur Cruzeiro Seixas, sublinhando tratar-se de um “artista único cuja obra vai permanecer viva” no concelho.
“Partiu um amigo de Famalicão. Um artista único cuja obra vai permanecer viva em Famalicão. O município estar-lhe-á eternamente agradecido pela projeção cultural e artística que trouxe a Vila Nova de Famalicão”, afirmou Paulo Cunha, citado num comunicado municipal.
O comunicado sublinha que Cruzeiro Seixas é “um dos nomes mais importantes” do movimento surrealista em Portugal, estando a sua obra representada no Centro de Estudos do Surrealismo da Fundação Cupertino de Miranda, em Famalicão.
O primeiro ministro, António Costa, expressou-se esta segunda-feira, através da rede social Twitter, dizendo que "Artur do Cruzeiro Seixas deu longa vida ao surrealismo português. Os seus desenhos e objetos, nascidos da associação livre de elementos inesperados, continuam hoje tão irreverentes como quando foram criados. O 'rei Artur' deixou-nos, mas a sua obra seguirá sendo uma inspiração."
"O seu desaparecimento, a semanas de completar 100 anos, constitui uma enorme perda para Portugal e para as artes a nível internacional, ou não fosse o traço inconfundível de Cruzeiro Seixas o traço de um dos últimos surrealistas vivos", sublinha Eduardo Ferro Rodrigues, numa mensagem enviada à agência Lusa.
Ferro lembra Cruzeiro Seixas como o "decano dos artistas portugueses" e como "o último dos surrealistas, movimento que integrou com Cesariny, Calvet ou Vespeira, e a que foi fiel, na arte e na vida, até ao último dos seus dias".
"Tive a honra de o receber na Assembleia da República em 2018, por ocasião da Exposição “Arte, Resistência e Cidadania”, organizada pela Bienal Internacional de Arte de Cerveira nos 40 anos do certame, em cujo acervo se incluem obras de Cruzeiro Seixas, sem dúvidas um dos artistas que mais marcaram a evolução da arte contemporânea em Portugal", assinala, enviando "sentidas condolências" à família e amigos do artista.
A ministra da Cultura, Graça Fonseca, lamentou também a morte do artista, que considerou “sinónimo do património literário e artístico português dos últimos 80 anos”.
Numa série de mensagens publicadas na rede social Twitter, a ministra recordou Cruzeiro Seixas como um “decano da arte portuguesa” e “expoente do surrealismo europeu”.
“A vida e obra do Mestre Cruzeiro Seixas representam um contributo inegável para a cultura portuguesa, com a força criativa, inventiva e sensível que a sua dimensão artística sempre manifestou e que a cultura portuguesa nunca esquecerá”, pode ler-se numa das publicações.
A ministra recorda que entregou ao artista a Medalha de Mérito Cultural no dia 14 de outubro e que, “nesse dia, a cultura portuguesa elevou-se ao reconhecer o seu registo inapagável”
“Hoje, é esse mesmo mérito e esse registo que repetimos e evocamos”, refere Graça Fonseca.
A realizadora Cláudia Rita Oliveira recordou esta segunda-feira a "constante insatisfação" que o artista plástico Cruzeiro Seixas sentia "consigo próprio e com os outros", ao longo de uma "vida muito intensa, em circunstâncias difíceis", como o período da ditadura.
Contactada pela agência Lusa sobre a morte, no domingo, em Lisboa, do artista e poeta Artur Cruzeiro Seixas, aos 99 anos, a realizadora do documentário “As Cartas do Rei Artur” (2016) disse que o filme mostra sobretudo essa "permanente insatisfação", que agia como um motor na vida de um dos nomes fundamentais do Surrealismo em Portugal.
"Foi um privilégio conhecê-lo e conviver com ele", disse Cláudia Rita Oliveira, que, no período das filmagens, sentiu que Cruzeiro Seixas "era uma pessoa muito resiliente, que passou por muitas situações difíceis, refletidas na sua personalidade e na sua vida, como o facto de ter nascido numa família rica que ficou pobre, e viveu as perseguições da ditadura".
A realizadora descreveu o artista e poeta como "uma pessoa de opostos muito fortes, tanto na personalidade, como naquilo que viveu, com um permanente conflito interior, entre a pessoa doce, frágil, sensível, que queria ser anónima, e passar despercebida, e, ao mesmo tempo, alguém que queria ser reconhecido, orgulhoso do seu trabalho".
[Atualizado às 15:07 de 9 de novembro]
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