Estas são as obras de ficção mais famosas do Prémio Nobel de Literatura (2010), nascido em 1936 em Arequipa:

"A Cidade e os Cães" (1963)

Escrito entre Madrid e Paris, descreve o clima de violência no colégio militar Leoncio Prado, em Callao, onde o autor estudou na adolescência e ficou marcado pelo que viveu.

A obra, protagonizada por estudantes impetuosos (Cava, Poeta, Jaguar e o Escravo), é por extensão uma crítica dilacerante de um determinado conceito de masculinidade e da hipocrisia e ódio latentes numa sociedade peruana altamente estratificada.

A sua técnica surpreendeu pela diversidade de pontos de vista, pelo tom fresco, pelo humor ácido e pela linguagem crua, características que deram à sua obra um contraponto ao costumbrismo regionalista que até então prevalecia na narrativa latino-americana.

A obra ganhou o prémio Biblioteca Breve na Espanha, concedido pela editora Seix Barral, e contribuiu para o início do chamado boom latino-americano.

"A Casa Verde" (1966)

Num ambiente de Piura (costa norte do Peru) e na floresta da Amazónia peruana, o filme entrelaça três histórias em torno de um prostíbulo conhecido como "Casa Verde". O seu fundador é Don Anselmo, um empresário com passado desconhecido e sem escrúpulos.

O estilo mergulha na complexidade da técnica narrativa. Vargas Llosa constrói a obra como um quebra-cabeças, com diálogos simultâneos e diferentes planos espaço-temporais.

Em carta ao autor antes da publicação, o escritor argentino Julio Cortázar elogiou o romance: "Basta contá-lo da sua forma para que tudo aconteça numa única instância narrativa, sem essa separação académica entre 'descrição' e 'ação' típica do romancista comum".

"Conversa n'A Catedral" (1969)

Um apelo contra a corrupção, o preconceito social e o autoritarismo, a sua frase de abertura ficou marcada na literatura espanhola: "Quando o Peru foi para o inferno?"

É protagonizada por Santiago Zavala, "Zavalita", um jovem jornalista de Lima, filho de um empresário que colaborou com a ditadura do general Manuel Odría (1948-1956).

A obra, com personagens diversificados e ancorada numa história de homossexualidade oculta, impressionou pela extrema complexidade da sua construção, que contou com diálogos cruzados e multiplicação de tempos.

"A Tia Julia e o Escrevedor" (1977)

Nesta obra de cunho biográfico, Vargas Llosa dá forma literária à sua relação com a tia Julia Urquidi, divorciada e 10 anos mais velha (14 nesta ficção autobiográfica). Um relacionamento ao qual o seu pai se opôs fortemente e que foi um escândalo na sociedade limenha na década de 1950.

O contraponto vem do personagem Pedro Camacho, um excêntrico roteirista de radionovela e colega de trabalho de 'Varguitas'.

"A Guerra do Fim do Mundo" (1981)

Num ambiente de uma área pobre do nordeste brasileiro no final do século XIX, o romance centra-se na Guerra de Canudos, um conflito entre a elite económica-militar da recém-criada República e uma rebelião de agricultores reunidos em torno de Antônio Conselheiro, um pregador messiânico.

Trata-se de uma incursão fora dos cenários habituais de Vargas Llosa e cuja génese se deve ao espanto causado por um livro do autor brasileiro Euclides da Cunha, "Os Sertões" (1902).

"Para mim, ele fez a primeira descrição estritamente americana de um evento americano", disse o autor peruano.

"A festa do Bode" (2000)

Como no caso do colombiano Gabriel García Márquez, do paraguaio Augusto Roa Bastos ou do guatemalteco Miguel Ángel Asturias, na obra de Vargas Llosa não poderia faltar um romance com um ditador, no caso, o dominicano Rafael Trujillo.

Um romance "barroco", como ele o definiu, composto por três histórias interligadas e o assassinato do ditador como ponto focal.

Ao redigi-lo, o autor misturou documentação histórica e ficção para dissecar "o tipo de cumplicidade" na sociedade "que permite que ditaduras se perpetuem".

Prémios

Vargas Llosa, de nacionalidade peruana e também espanhola desde 1993, recebeu o Prémio Nobel de Literatura em 2010.

Académico da RAE, foi também agraciado, entre outros, com o Prémio Rómulo Gallegos (1967), o Prémio Príncipe das Astúrias de Literatura (1986), o Prémio Planeta (1993) e o Prémio Cervantes (1994).