“Hoje deixámos aqui um documento de manhã onde abríamos quase tudo à mediação. Fomos chamados [esta noite] ao Ministério das Infraestruturas para sermos informados de que o sindicato não aceita a mediação e quer impor aumentos salariais e o pagamento de horas suplementares, e isso não é um processo de mediação”, disse o porta-voz da Associação Nacional de Transportadores Públicos Rodoviários de Mercadorias (Antram) aos jornalistas, em Lisboa.
Posto isto, a Antram defendeu que a desconvocação da greve “não passou de mais um número” e vincou que “não é possível conversar com quem quer ir para a mesa de negociações com condições impostas”.
A postura do SNMMP “prejudicará gravemente os trabalhadores do sindicato e o processo de mediação”, acrescentou o representante dos patrões, que sublinhou também que o sindicato terá agora de justificar esta posição ao país.
Apesar de garantir que a associação patronal já conhecia os aumentos propostos pelo sindicato, superiores aos acordados com a Fectrans (Federação dos Sindicatos de Transportes e Comunicações), André Matias de Almeida reiterou que estas condições não devem constituir uma imposição, mas uma possibilidade a incluir no processo de mediação.
“Ao invés de discutir na mediação essas cláusulas, [o sindicato] quer, à partida, vincular o objetivo e condicionar essa mediação, o sindicato quer impor numa mediação o resultado da mesma. Não é assim que as coisas se fazem e lamento profundamente que isto não seja compreendido. É, mais uma vez, impor uma espada sob a cabeça da Antram”, notou.
"Antram não quis evitar uma possível greve por 50 euros"
"A Antram [Associação Nacional de Transportadores Públicos Rodoviários de Mercadorias] não quis evitar estas novas formas de luta ou uma possível greve por 50 euros", afirmou o representante do SNMMP à saída de uma reunião com o Governo, no Ministério das Infraestruturas e Habitação, em Lisboa.
Pedro Pardal Henriques defendeu que o SNMMP quis assegurar que um possível processo de mediação não começaria sem "dois pedidos essenciais”, que fossem valorizados os trabalhadores e que recebessem pelo trabalho que fazem.
O representante do sindicato remeteu para quarta-feira o anúncio de eventuais novas formas de luta por parte dos trabalhadores.
"A única coisa que pedimos à Antram foi que estas horas extraordinárias fossem pagas, porque as pessoas devem receber pelo trabalho que fazem. E pedimos que ficasse estabelecido isto hoje", explicou o porta-voz do SNMMP.
Pedro Pardal Henriques acrescentou que o sindicato pediu ainda "um aumento no subsídio de ADR [de transporte terrestre de mercadorias perigosas], que é um subsídio específico para 800 trabalhadores que manuseiam matérias perigosas".
"A Antram veio dizer que está disponível para negociar, mas que não aceita condição nenhuma", acrescentou.
Pardal Henriques disse ainda que a Antram impôs que o processo de negociação se iniciasse desde que fosse “exatamente aquilo que foi apresentado aos outros dois sindicatos, ou melhor, que foi apresentado à Fectrans [Federação dos Sindicatos de Transportes e Comunicações] e que foi imposto ao SIMM [Sindicato Independente dos Motoristas de Mercadorias]”.
"Achámos que o mínimo da dignidade destes trabalhadores não estava assegurado", considerou o representante do sindicato.
O advogado disse ainda que a estrutura sindical vai dar seguimento ao que foi aprovado em plenário do SNMMP, no domingo.
“Agora vamos tomar as medidas que foram aprovadas em plenário, mas aguardamos que a Antram possa evitar uma nova situação que possa complicar a vida dos portugueses”, referiu.
"Nós já estamos mandatados pelos nossos associados para tomar as formas de luta que iremos tomar", assegurou, acrescentando que na quarta-feira essas formas de luta serão conhecidas.
No domingo, na moção aprovada durante o plenário, os motoristas decidiram mandatar a direção do sindicato para, caso a Antram demonstrasse uma “postura intransigente” na reunião agendada para hoje, tomar medidas, como “a convocação de greves às horas extraordinárias, fins de semana e feriados”, até que os interesses dos motoristas sejam efetivamente assegurados.
Hoje, Pardal Henriques salientou que "quem falou pela Antram foi o Governo" e que os transportadores "estiveram sempre protegidos por uma máquina do Estado a trabalhar para eles".
"Nós não fazemos isto para agradar aos portugueses. As greves não existem para agradar aos portugueses", referiu, concluindo com a ideia de que "o principal objetivo é criar condições dignas" para os motoristas e não "uma questão de popularidade".
Governo diz que "uma das partes não quis"
O ministro das Infraestruturas garantiu hoje que o Governo tudo fez para que patrões e sindicatos não fossem para a mesa de negociações com “pré-condições”, mas a estrutura que representa os motoristas não aceitou esta condição.
“Tentámos por todas as vias fazer com que as partes deixassem cair as pré-condições. Uma das partes não quis, mas, obviamente, uma mediação tem como objetivo chegar a resultados, eles não podem ser impostos antes de a mediação se iniciar”, afirmou Pedro Nuno Santos.
O governante notou que o executivo está, desde abril, a “trabalhar na conciliação” deste conflito entre privados e a tentar que o mesmo se resolvesse pela via do diálogo, acrescentando que todos os portugueses ficaram “com esperança” de que a desconvocação da greve dos motoristas fosse “o início do fim” deste processo.
No entanto, “infelizmente uma das partes [quis] definir os resultados ainda antes da mediação se iniciar e não é assim que se faz um processo de mediação”, referiu.
Pedro Nuno Santos lamentou ainda o sucedido, mas vincou: “Todos temos o direito de exigir que se respeite [o processo negocial]”.
“Quero lembrar que a Fectrans [Federação dos Sindicatos de Transportes e Comunicações] fez um acordo com a Antram [Associação Nacional de Transportadores Públicos Rodoviários de Mercadorias] e que um dos sindicatos que estava em greve [SIMM Sindicato Independente de Motoristas de Mercadorias] aderiu a um processo negocial. Não estamos a falar de nada que seja impossível”, sublinhou.
O titular da pasta das Infraestruturas disse esperar que uma nova greve não venha a acontecer, sobretudo tendo em conta todo o trabalho que tem vindo a ser desenvolvido ao longo dos últimos meses.
“O Governo continuará disponível para fazer o que está a fazer desde abril. Sabemos o impacto que este tipo de conflitos está a ter na vida de todos nós. Não tomamos o lado de nenhuma das partes neste conflito”, assegurou Pedro Nuno Santos.
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