“Vemos esta greve com muita preocupação, na medida em que [o ‘stock’] das fábricas de rações é relativamente reduzido. Apesar de percebermos que o despacho garante que nos serviços mínimos está incluído o transporte de alimentos e até o de animais vivos, é necessário que este acautele a chegada de matéria-prima às fábricas”, afirmou, em declarações à Lusa, o vice-presidente da Federação Portuguesa das Associações de Suinicultores (FPAS), David Neves.
Apesar de defender ser “prematuro” fazer uma estimativa do prejuízo que a paralisação dos motoristas, com início previsto para segunda-feira, poderá ter para o setor, este responsável indicou que o abate semanal de porcos corresponde a cerca de 12 milhões de euros.
No entanto, “o que nos preocupa e bastante é o impacto que isto poderá ter se os animais estiverem a passar fome. Poderemos estar perante uma catástrofe muito grande nas explorações”, alertou.
Por sua vez, no que se refere aos serviços mínimos decretados pelo Governo, David Neves defendeu que “tudo o que tem a ver com a alimentação animal não é excessivo”, uma vez que em causa está “a sobrevivência e o bem estar dos animais”.
O vice-presidente da FPAS lembrou ainda que, quando se reduz a alimentação aos porcos, estes entram em “stress” que, por sua vez, provoca “lesões, muitas vezes, irreparáveis”.
Paralelamente, esta greve pode ainda afetar o processo de exportação de porcos para a China, fazendo com que não sejam cumpridos alguns prazos, previamente acordados, penalizando a economia portuguesa.
“Esperamos que haja bom senso. Há um conjunto de circunstâncias, de um lado e de outro, que devem pesar, independentemente do direito à greve”, concluiu.
O Governo decretou na quarta-feira serviços mínimos entre 50% e 100% para a greve dos motoristas de mercadorias que se inicia no dia 12 por tempo indeterminado.
Os serviços mínimos serão de 100% para abastecimento destinado à REPA - Rede de Emergência de Postos de Abastecimento, portos, aeroportos e aeródromos que sirvam de base a serviços prioritários.
O Governo decretou ainda serviços mínimos de 100% para abastecimento de combustíveis para instalações militares, serviços de proteção civil, bombeiros e forças de segurança.
Também para transporte e abastecimento de combustíveis, matérias perigosas, medicamentos e todos os bens essenciais destinados ao funcionamento dos hospitais e centros de saúde, entre outras unidades de saúde, o executivo decretou serviços mínimos de 100%.
O Governo fixou os serviços mínimos para a greve depois das propostas dos sindicatos e da associação patronal Antram terem divergido entre os 25% e os 70%, bem como sobre se incluíam trabalho suplementar e operações de cargas e descargas.
Também na quarta-feira, o executivo decretou, preventivamente, estado de emergência energética, no âmbito do pré-aviso de greve, permitindo a constituição da REPA, com 54 postos prioritários e 320 postos de acesso público.
A greve foi convocada pelo Sindicato Nacional dos Motoristas de Matérias Perigosas (SNMMP) e pelo Sindicato Independente dos Motoristas de Mercadorias (SIMM), que acusam a Antram de não querer cumprir o acordo assinado em maio, que prevê uma progressão salarial.
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