“O desenvolvimento contínuo [de Veneza], os impactos das alterações climáticas e o turismo de massa ameaçam causar mudanças irreversíveis no valor universal excecional do bem”, observa o Comité do Património Mundial, da Organização das Nações Unidas para a Ciência, Educação e Cultura (Unesco, na sigla em inglês).
A elevação do nível do mar e outros “fenómenos climáticos extremos” ligados ao aquecimento global ameaçam a integridade do local, alerta ainda a Unesco.
O ministro da Cultura italiano esteve hoje em Veneza para visitar o gueto judeu, o primeiro da história, mas não comentou o anúncio da Unesco.
O autarca de Veneza, Luigi Brugnaro, referiu, por sua vez, que o diálogo com a Unesco é da responsabilidade do governo e não do município.
Para que Veneza seja incluída na lista de patrimónios em perigo, será necessária a aprovação dos Estados-membros numa reunião do Comité do Património Mundial, que decorrerá entre 10 a 25 de setembro em Riade.
Em Veneza, alguns moradores e visitantes admitiram perceber a opinião do comité da Unesco, em especial perante a afluência de milhões de turistas ao ‘saturado’ centro histórico.
“É incontrolável”, sublinhou à agência France-Presse (AFP) o gondoleiro Antonio Vertotto, que criticou os sucessivos governos por não terem feito nada nos últimos anos para reduzir o fluxo.
Para Valmir Reznik, um suíço de 34 anos de visita à cidade com a mulher, sem dúvida que há “muitos turistas”, mesmo numa segunda-feira.
A resolução destes “antigos mas urgentes” problemas é “impedida pela ausência de uma visão estratégica global comum” e pela “baixa eficiência e coordenação” das autoridades locais e nacionais italianas, refere também o comité, que considera que a cidade é confrontada com “um perigo comprovado”.
A Unesco espera que “esta inscrição conduza a um maior empenho e mobilização dos atores locais, nacionais e internacionais”.
Veneza, uma cidade insular fundada no século V, que se tornou uma grande potência marítima no século X, estende-se por 118 ilhotas, segundo a Unesco, tendo-se tornado Património da Humanidade em 1987.
“Veneza como um todo é uma obra-prima arquitetónica extraordinária porque até o menor monumento contém obras de alguns dos maiores artistas do mundo, como Giorgione, Ticiano, Tintoretto, Veronese e outros”, explica a organização das Nações Unidas.
É também uma das cidades mais visitadas do mundo, com 100.000 turistas a pernoitarem em Veneza no pico do turismo, além de dezenas de milhares de visitantes diários.
As autoridades locais falam há anos sobre a introdução de reservas obrigatórias para turistas, mas não a implementaram.
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