Conta o The Guardian que Kathleen Folbigg foi considerada uma assassina de bebés e a "mulher mais odiada" da Austrália quando foi condenada, em 2003, pelo homicídio de três dos seus filhos e pelo homicídio involuntário de outro, todos entre os 19 dias e os 18 meses.

Contudo, a situação mudou esta quinta-feira: as condenações foram anuladas por um tribunal de recurso na sequência de um inquérito que examinou novas provas científicas e concluiu que havia dúvidas razoáveis quanto à culpa de Folbigg. Em junho, a mulher tinha sido perdoada e libertada da prisão.

Por tudo isto, o caso poderá dar origem à maior indemnização de sempre na Austrália, resultante de uma condenação injusta.

"Enfrentei a descrença e a hostilidade", disse Folbigg depois de ter sido absolvida. "Sofri abusos em todas as formas. Esperava e rezava para que um dia pudesse estar aqui com o meu nome limpo. Espero que mais ninguém tenha de sofrer o que eu sofri".

É explicado que o veredito original de culpabilidade de Folbigg não se baseou em provas médicas que explicassem a morte dos quatro filhos, mas sim nos registos do diário da mulher, que serviram como admissão de culpa. Além disso, não foram chamados a depor quaisquer peritos em trauma, diários ou luto.

"Eles escolheram palavras e frases dos meus diários. Esses livros continham os meus sentimentos privados, que escrevi para mim própria", disse.

"Ninguém espera que esse tipo de coisas sejam lidas por estranhos, muito menos que sejam objeto de opinião. Tiraram as minhas palavras do contexto e viraram-nas contra mim. Acusaram-me de algo que nunca escrevi, nunca fiz e nunca poderia fazer", garantiu.

O caso contra Folbigg também se baseou na Lei de Meadow, segundo a qual três ou mais mortes súbitas de crianças numa família eram homicídios até prova em contrário.

Todavia, em 2018, uma investigação revelou que Folbigg e as suas duas filhas - Laura e Sarah - eram portadoras de uma variação genética rara conhecida como CALM2-G114R. A análise sugeriu que havia uma grande probabilidade de as mortes terem sido naturais.

Por sua vez, no início deste ano, as provas genéticas e novas investigações médicas levadas a cabo por uma equipa internacional de cientistas incluíram a identificação de que os dois rapazes, Caleb e Patrick, eram portadores de variantes de um gene conhecido como BSN, "que se demonstrou causar epilepsia letal de início precoce em ratos".