No Paquistão, um país muçulmano muito conservador e patriarcal, as manifestações realizadas no dia 08 de março – chamadas de ‘Aurat’ (mulher) – são polémicas desde a sua primeira edição, em 2018, porque as participantes não hesitam em abordar temas que são ainda tabu na sociedade do país, como o divórcio, as relações sexuais, o assédio ou a menstruação.
A cada ano, as frases usadas pelas manifestantes, consideradas provocadoras, geram polémica durante semanas e mesmo ameaças violentas.
“O objetivo da manifestação de ‘Aurat’ é exigir a segurança que não é garantida às mulheres neste país e nesta sociedade”, disse Rabail Akhtar, uma professora que se juntou a cerca de 2.000 manifestantes em Lahore.
“Não vamos mais ficar em silêncio. É o nosso dia, é a nossa hora”, acrescentou a professora.
As autoridades de Lahore haviam inicialmente proibido a marcha pelo risco de confronto com outra manifestação, que exige a preservação dos valores islâmicos, mas a justiça decidiu favoravelmente pela realização da manifestação de ‘Aurat’.
“É um absurdo que seja o mesmo filme todos os anos (…). Isto acontece porque há muito medo que as mulheres exijam os seus direitos”, comentou Soheila Afzal, uma projetista gráfica.
Na cidade de Karachi, os juízes rejeitaram o recurso de um indivíduo que exigia a proibição da marcha, e em Islamabad as mulheres recusaram-se a cumprir a decisão do município para permanecerem apenas num parque, onde uma mulher foi vítima de violação coletiva em fevereiro. Centenas de mulheres reuniram-se em frente ao clube de imprensa e manifestaram-se depois de serem bloqueadas pela polícia.
“Antes as mulheres ficavam em silêncio, mas agora estão nas ruas a falar sobre os seus direitos e a justiça. Penso que essa é a mudança que esperavam”, disse Aisha Masood, 24 anos, que trabalha para uma organização não-governamental (ONG) local.
As organizadoras das marchas de ‘Aurat’ são acusadas pelos conservadores de promover os valores liberais ocidentais e de desrespeitar as sensibilidades religiosas e culturais locais.
Várias contramanifestações – intituladas “Haya” (modéstia) – foram também organizadas em várias cidades, incentivadas pelos movimentos islâmicos pela salvaguarda dos “valores familiares”.
“Devemos trabalhar para acabar com a violência [contra as mulheres], permanecendo dentro dos parâmetros da lei islâmica”, disse Asia Yaqoob, uma dona de casa de 45 anos que usa ‘hijab’ [véu islâmico], que participou numa dessas contramanifestações, que reuniu mais de 1.000 pessoas em Islamabad.
Em 2020, as manifestantes na marcha de ‘Aurat’ em Islamabad foram apedrejadas, tendo algumas ficado feridas e outras sido obrigadas a procurar abrigo.
Grande parte da sociedade paquistanesa vive sob um rígido código de “honra” que rege a vida das mulheres, nas relações com o cônjuge, maternidade ou estudos. Todos os anos, centenas de mulheres são mortas por homens por motivos de “honra” no país.
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