O júri convocado por um tribunal federal da Flórida concedeu uma indemnização de 38,3 milhões de dólares aos familiares de oito vítimas das Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC), responsáveis por centenas de assassinatos na região de Urabá.
Embora a Chiquita Brands afirme que foi vítima de extorsões, foi com o seu dinheiro que os paramilitares semearam terror durante os anos 90 e início do século na Colômbia.
Coca-Cola, a petrolífera BP e a mineradora Drummond são algumas das empresas denunciadas por possíveis vínculos com estes grupos armados, embora todas rejeitem essas alegações.
"Porque é que a justiça dos Estados Unidos pôde determinar em verdade judicial que a Chiquita Brands financiou o paramilitarismo? [...] Porque é que a justiça colombiana não pode fazer o mesmo?", questionou na rede social X o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, que tem denunciado insistentemente as atrocidades cometidas pelos paramilitares na sua luta contra as guerrilhas de esquerda. Petro pediu a criação de um "tribunal de resolução" para estes casos, permeados por interesses poderosos.
Em Apartadó, um município de Urabá, famílias aplaudiram o veredito contra a Chiquita. "O meu filho desapareceu " devido à AUC, "não vão devolvê-lo, mas pelo menos sinto-me tranquila [...] pelo menos alguém dá uma resposta", comentou à AFP Miriam Castillo, mãe de um jovem de 20 anos vítima dos paramilitares.
Segundo a EarthRights, a ONG que representou as vítimas num tribunal da Flórida, "é a primeira vez que um júri americano responsabiliza uma grande corporação pela sua cumplicidade em graves abusos de direitos humanos em outro país".
A Chiquita terá pago aos paramilitares "três centavos de dólar por caixa [de banana] exportada", segundo o defensor dos direitos humanos e ex-diretor da estatal Agência Nacional de Terras da Colômbia, Gerardo Vega.
No passado, outras ações similares foram rejeitadas pela justiça americana. Em 2009, um juiz de Miami decidiu contra o Sinaltrainal, um sindicato de trabalhadores de uma filial colombiana da Coca-Cola, que denunciou a gigante dos refrigerantes por financiar paramilitares que assassinaram três dos seus integrantes.
Segundo o juiz, os demandantes não conseguiram provar os vínculos da Coca-Cola com o grupo armado e os factos ocorreram muito longe da jurisdição dos Estados Unidos.
Em 2020, a ONU condenou a Colômbia por não fornecer "um recurso judicial efetivo" para esclarecer os autores intelectuais do assassinato de Adolfo Munera, integrante do Sinaltrainal baleado em 2002.
A justiça dos EUA também rejeitou em 2015 uma denúncia contra a mineradora norte-americana Drummond por possível financiamento de paramilitares, num caso que evoluiu na justiça colombiana.
O Ministério Público já acusou dois diretores da empresa na Colômbia por terem financiado atores armados em troca de vigilância das explorações de carvão no norte do país. O juiz que conduz o processo ainda não deu um veredito.
Após a sua desmobilização em 2005, integrantes das AUC testemunharam sobre os seus supostos vínculos com a Drummond e a mineradora suíça Glencore, que operou na Colômbia por meio de uma subsidiária chamada Prodeco.
Em 2002, o sindicalista colombiano Gilberto Torres foi sequestrado e torturado por 47 dias por paramilitares no departamento de Casanare, no leste do país.
Torres tinha liderado uma greve num campo explorado em parte pela Ocensa, uma filial colombiana da gigante petrolífera britânica BP.
Em 2015, ele denunciou a BP perante a justiça britânica pela sua suposta responsabilidade no ataque. O caso teve poucos avanços e um ano depois Torres desistiu desta causa alegando falta de recursos financeiros.
Na Colômbia, a justiça condenou um paramilitar conhecido como Solin pelo sequestro. Na sua decisão, o juiz determinou que existem "elementos de julgamento suficientes" sobre "a participação da multinacional Ocensa no rapto". A empresa, porém, não foi levada a julgamento na Colômbia por esses factos. "Resta aos juízes colombianos condenarem as empresas que, como a Chiquita", financiaram paramilitares, clamou Gerardo Vega.
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