Como o seu nome indica, o White Banana Beach Club Siargao fica na ilha de Siargao, nas Filipinas. Tendo sido inicialmente projetado como um bar de cocktails localizado mesmo junto à praia de Tuason, o espaço cresceu para ter também alojamento, dizendo dispor de “dois dormitórios espaçosos e doze camas ultra confortáveis” desde outubro do ano passado.
Com a sua popularidade a crescer online, começaram também a surgir cada vez mais propostas de estadias grátis no espaço em troca de publicidade feita através de redes sociais como o Instagram ou o YouTube. Os pedidos vieram dos chamados “influencers”, bloggers e personalidades que atraem um grande número de seguidores nestas plataformas e que, face à sua influência, apresentam-se enquanto difusores apetecíveis de bens e serviços.
A caixa de mensagens cada vez mais atulhada levou Gianluca Casaccia, dono do White Banana Beach Club, a reagir num post na página oficial de Facebook no seu espaço. “Estamos a receber muitas mensagens relativas a colaborações com influencers, influencers de Instagram. Gostaríamos de anunciar que o White Banana não está interessado em ‘colaborar’ com estes auto-proclamados ‘influencers’”, escreveu Casaccia a 26 de março.
Juntamente com esta declaração pública, veio ainda uma alfinetada, com o dono a sugerir às pessoas que lhe mandaram os pedidos de colaboração “que tentem outra forma de comer, beber ou dormir de graça”, ou até “que vão trabalhar a sério”.
O post tornou-se viral - contabilizando à data desta publicação 13 mil reações, 1,7 mil comentários e 3,3 partilhas - e polarizou opiniões. Na caixa de comentários desta publicação, houve quem concordasse com a postura de Casaccia, acusando os “influencers” de explorar a sua fama para obter bens e serviços gratuitamente. Outros disseram que a postura da gerência devia ter sido mais formal e que não devia ter feito um ataque generalizado a esta ocupação, lembrando que há “influenciadores” a tempo inteiro que são profissionais e que podem ser uma ajuda valiosa para vários negócios.
Face à discórdia e ao mediatismo que o post gerou, a gerência decidiu clarificar a sua posição com um novo post no dia seguinte, dizendo não ser “contra influencers”, mas sim “contra freeloaders [aproveitadores]”. Casaccia lembrou que os verdadeiros profissionais “não se chamam a si mesmos/mesmas de influencers”, sendo “bloggers” com quem o White Banana Beach Club já colaborou e que não pedem estadias a troco de trabalho. “Eles nunca nos contactaram, pois não precisam de nós. Nós precisamos deles”, admite.
Mais tarde, em entrevista ao New York Times, Casaccia disse que os “influencers faz-de-conta” são frequentemente pessoas com menos de dois mil seguidores no Instagram que lhe pedem alojamento e comida em troca de conteúdo, algo que ele considera “desrespeitoso”. “Como é que me podem ajudar se não são ninguém?” indagou-se ao jornal norte-americano.
Este não é um caso isolado de donos de espaços de alojamento a insurgirem-se contra a cultura “influencer”. Em janeiro de 2018, Paul Stenson, dono do The White Moose Cafe e do Charleville Lodge Hotel, em Dublin, na Irlanda, tornou pública a sua recusa em aceitar a proposta de Elle Darby, uma youtuber e instagrammer de 22 anos que pretendia ter alojamento gratuito em troca de publicações elogiosas nestas redes sociais. Também aí o confronto se tornou viral, tendo Stenson chegado a publicar um vídeo no Facebook a satirizar o papel dos “influencers”.
Já em 2018 a revista Atlantic tinha dedicado uma reportagem a este fenómeno, recebendo depoimentos de responsáveis por resorts de luxo nas Maldivas incapazes de reagir ao crescente fluxo de pedidos de viagens e estadias pagas em troca de posts. Um deles foi o de Kate Jones, que à publicação disse receber, pelo menos, seis pedidos por dia. "Toda a gente com Facebook é um influencer nos dias que correm", disse a responsável pelo departamento de comunicação e marketing de um hotel de cinco estrelas, revelando receber pedidos de pessoas com 600 amigos no Facebook ou 2000 seguidores no Instagram.
No entanto, não obstante as tentativas destes dois empresários, o papel do “influencer” na atual indústria tão cedo não se desvanecerá, já que é cada vez mais requerido pelas grandes marcas. De acordo com um estudo da Associação de Anunciantes dos EUA e da empresa PQ Media, citado pelo canal USA Today, as despesas das marcas em marketing de influencers deverá chegar aos 101 mil milhões de dólares em 2020, face aos 81 mil milhões gastos em 2016.
De todas as marcas entrevistadas, 75% disse recorrer a influencers, que são uma forma cada vez mais eficiente de chegar ao público, face aos métodos tradicionais. Como resultado da valorização do seu trabalho, há profissionais da área que chegam a exigir 100 mil dólares por um só post, como descreveu Joe Gagliese, co-fundador da agência Viral Nation, ao website Vox.
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