Francisco Vale é editor da Relógio d’Água, chancela pela qual foi publicado, em 1990, o romance “As Colinas de Nagasaki”, numa tradução de Gabriela Gonçalves.
“É um autor com mérito, mas não destaco especialmente. Podia citar dez ou vinte autores que mereciam tanto ou mais do que ele o Nobel”, afirmou.
“Kazuo Ishiguro faz parte de uma geração de escritores britânicos [que inclui] M.C. Queen, Martin Amis e Julian Barnes. [Ishiguro] é o mais diversificado, o que frequentou mais géneros literários. O seu mais recente título, ‘O Gigante Enterrado’, é um romance fantástico”, acrecentou.
Para o editor, “o Nobel é o mais importante dos prémios literários, mas com um valor relativo", e acresecntou: "É sabido que grandes autores como o Tolstói e o Proust não o receberam, tem sido atribuído a muitos autores que ainda hoje são lembrados, mas muitos deles só a família é que se recorda deles”.
“A lista de autores esquecidos que receberam o Nobel é muito grande, talvez maior que a dos autores que são hoje lembrados”, disse.
O prémio Nobel da Literatura 2017 foi atribuído ao britânico Kazuo Ishiguro, anunciou hoje a Academia Sueca.
A Academia justificou a escolha de Kazuo Ishiguro, por ser um escritor que, "em romances de grande força emocional, revelou o abismo sob o sentido ilusório de conexão com o mundo".
O escritor britânico de origem japonesa nasceu em Nagasaki, Japão, fixando-se com a família, no Reino Unido, no início da década de 1960. Destacou-se com os primeiros contos, publicados na revista Granta, escreveu para cinema e televisão, é autor de canções. Com "Os Despojos do Dia" venceu o Booker Prize, em 1989.
A secretária permanente da Academia Sueca, Sara Danius, descreveu Kazuo Ishiguro como um autor que é uma mistura entre Jane Austen e Franz Kafka, com um pouco de Marcel Proust.
Numa entrevista concedida momentos após a divulgação do nome do sucessor de Bob Dylan, Danius afirmou que, “se misturar Jane Austen e Franz Kafka, então consegue-se Kazuo Ishiguro, na essência, mas tem de se acrescentar um pouco de Marcel Proust, para depois mexer – não muito”.
“Ao mesmo tempo, é um escritor de grande integridade. Desenvolveu um universo estético próprio”, afirmou Danius, que realçou que a Academia Sueca atribuiu o prémio à obra na sua plenitude e não a um livro específico.
Comentários