O responsável admitiu, durante uma audição com a Comissão Parlamentar sobre as Relações Futuras com a UE, que a pandemia de covid-19 afetou as negociações, levando a um atraso de “uma semana ou duas” devido à alteração do calendário das reuniões.
“Ainda estamos numa fase de apresentar posições, de explicar um ao outro as posições, a identificar áreas de convergência e divergência”, revelou Frost, que disse que gostaria de estar num ponto em que se estivesse “a tentar verdadeiramente avançar”, mas admitiu que as duas partes ainda não chegaram a essa fase.
Tanto David Frost como o homólogo europeu, Michel Barnier, estiveram em isolamento em março por terem sido infetados com o novo coronavírus, o que levou ao cancelamento de uma ronda prevista para meados de março, tendo apenas sido retomadas um mês mais tarde, a 20 de abril, por videoconferência.
“A principal dificuldade é a dificuldade de replicar em vídeo o que acontece numa negociação verdadeira [cara a cara]. É possível fazer até certo ponto, mas há certas coisas que não é possível”, disse.
Embora tenha reuniões bilaterais regularmente com Barnier, o negociador britânico diz que “não é tão bom como ir beber um café” para poder discutir informalmente e tentar encontrar soluções para impasses.
Os dois trocaram há cerca de uma semana cartas tornadas públicas, mas o responsável britânico disse que o objetivo foi apenas dar a conhecer aos restantes países europeus as respetivas posições.
“Temos uma dificuldade estrutural pois os outros Estados-membros e atores em Bruxelas ouvem falar sobre o que se passa nas negociações pela Comissão”, justificou, qualificando que o tom das cartas como “cordial e contundente”.
Na sua missiva, Frost atribuiu falta de progresso a uma “abordagem ideológica que faz com que seja difícil chegar a um acordo mutuamente vantajoso” e urgiu a UE a mudar as suas propostas.
Na resposta, Barnier disse que é necessário “respeito mútuo e compromisso construtivo por parte do Reino Unido” em todas as áreas e questões sobre a mesa de negociações.
O acesso às águas de pesca britânicas e o envolvimento do Tribunal Europeu de Justiça na resolução de disputas pretendidos pela UE foram algumas das questões referidas hoje por Frost como sendo incompatíveis com a posição do Reino Unido.
A quarta ronda de negociações começa na segunda-feira e prolonga-se até ao final da semana.
O acordo de saída entre o Reino Unido e a UE permite que o prazo seja prorrogado por dois anos, mas o governo de Boris Johnson não quer o prolongamento para além de 31 de dezembro.
Uma reunião ao “nível de líderes” para avaliar o progresso das negociações entre as duas partes está prevista em junho, numa data ainda por determinar, na qual o Reino Unido deverá ser representado pelo primeiro-ministro britânico.
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