Porto, Matosinhos, Maia, Gondomar, entre outros concelhos, terão no sábado e no domingo os cemitérios fechados em nome do combate à propagação do novo coronavírus, uma decisão que desagradou no negócio das flores, num ano em que a soma de todos os desaires faz pairar a ameaça de desemprego.
Vila Nova de Gaia, por seu lado, vai manter os cemitérios abertos, mas limitando no dia 01 de novembro a permanência a 45 minutos a quem quiser homenagear os familiares mortos.
Os floricultores ouvidos pela Lusa a propósito do Dia de Finados e de Todos os Santos em plena pandemia de covid-19 estão todos a sentir dificuldades: este ano há quebras entre os 25% e os 60% em comparação com 2019.
Luís Ramos, da empresa de floricultura SRL, reportou "perdas de faturação de 25%", percentagem referente às "encomendas anuladas pelos clientes".
Neste caso, as perdas devem-se ainda ao facto de os "crisântemos só terem começado a florir esta semana", o que "condicionou as vendas, pois foi impossível entregar antes", explicou.
"Normalmente recebemos as encomendas na primeira quinzena de outubro, mas a partir do dia 15 começámos a ouvir rumores de que os cemitérios iriam fechar, de que algumas zonas iriam ficar em confinamento e aí todo o plano começou a ser alterado", disse o responsável da empresa.
Admitindo "repercussões na atividade", nomeadamente no "investimento em alguns projetos planeados", Luís Ramos citou também os "pequenos floristas que admitem fechar se não houver uma alteração".
"Temos de nos defender individualmente, mas trabalhar coletivamente", disse.
A percentagem de perdas "cresce para 60%" na conversa com Luísa Martins, da Virgin Flower, cujo negócio foi "prejudicado" por "ninguém saber o que ia acontecer" e as encomendas lhe "terem chegado em cima da hora".
"Comecei a receber encomendas na quarta-feira da semana passada, já depois de as pessoas se terem tentado informar junto das câmaras e juntas de freguesia. Bastava que esse anúncio tivesse chegado em setembro, ou em outubro, para os operadores terem agido de maneira diferente, não plantando", disse.
O ano em que não venderam "no Dia do Pai, no Domingo de Ramos e na Páscoa, em que deu para recuperar um pouco no dia da Mãe", e em que se verificou a expectativa gorada da "chegada dos santos populares" atirou o negócio para "uma situação muito difícil", descreveu a produtora de flores.
Luísa Ramos disse que "grande parte das empresas não têm capacidade financeira para se aguentar" e já há casos "de gente a tentar alternativas na área agrícola".
Alexandrino Sousa, da Maia Flor, situa as perdas entre "os 50% e os 60%", depois de "muitos clientes que no Dia dos Fiéis se deslocam às suas aldeias terem cancelado as encomendas nas floristas".
"Esta época do ano é muito importante para o setor das vendas, de tal forma, que pode compor a economia da empresa por um ano", observou.
A cerca de 50 metros do Cemitério do Prado, no Porto, Joaquim Neiva, dono da loja de flores "Jarrão Flor e Cera Neiva", falou à Lusa de um "impacto brutal" e da opção de "encomendar só se for preciso".
"Ainda assim, estamos a ter sobras e haverá dificuldades para pagar aos fornecedores", disse, informando ter hoje "menor variedade na oferta" para "menorizar os prejuízos".
No outro lado do rio Douro, junto ao cemitério de Mafamude, em Vila Nova de Gaia, Nuno Costa, dono da "Minó Flor", falou de consciencialização e de gestão.
"As pessoas têm de se mentalizar que estamos numa circunstância anormal e estas medidas, que aparentemente não são coerentes, têm tudo a ver com o que se está a passar".
E continuou: "não quero pensar que esta situação nos vai colocar em risco no futuro próximo, estamos com alguns mimos a tentar fidelizar os nossos clientes".
À porta de cemitério, José Oliveira, de 71 anos, viajou de Ermesinde, no concelho de Valongo, para Gaia, para homenagear os pais falecidos, manifestando "revolta" por ter de o "fazer no último dia antes da proibição de circulação entre concelhos".
Manuela Vasconcelos deslocou-se de Gaia ao Prado do Repouso para depositar as "flores de sempre" nos familiares que partiram, explicando que o encerramento determinado para os Dias de Finados "não teve importância" e que a "solução passa por adaptar em função daquilo que se pode fazer".
Em Portugal, morreram 2.428 pessoas dos 132.616 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.
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