Antes de mais, algum contexto: A cada dois anos disputam-se eleições intercalares nos EUA, cujo objetivo é determinar o controlo do Congresso, composto pela Câmara dos Representantes e pelo Senado.
Assim, esta terça-feira estiveram na corrida os 435 lugares da câmara baixa (Representantes) e 35 lugares da câmara alta (Senado). Porquê 35? Porque os cem senadores servem um termo contínuo de seis anos, sendo que a cada dois anos apenas um terço dos mesmos é eleito.
Até ao momento, os democratas detinham uma estreita maioria de cinco assentos na Câmara dos Representantes; já no Senado a maioria democrata era assegurada somente graças ao voto de desempate da vice-presidente Kamala Harris.
À hora que escrevemos esta newsletter a contagem de votos ainda não terminou — com a possibilidade de a corrida pelo Senado não ficar decida antes de 6 de dezembro, já que a Georgia pode ficar em "aberto" se Raphael Warnock (democrata) e Herschel Walker (republicano) não conseguirem pelo menos 50% dos votos. Apesar da Associated Press projetar uma vitória do Partido Republicano em ambas as câmaras, a corrida está tão renhida que é difícil ter certezas nesta altura.
A única conclusão possível é que esta América continua profundamente dividida, dois anos depois da eleição de Biden e naquelas que foram as primeiras eleições após o infame ataque ao Capitólio a 6 de janeiro de 2021.
O que mais nos dizem estas eleições?
- Há uma profunda rejeição de Biden: Segundo uma sondagem hoje publicada, mais de dois terços dos eleitores que votaram nas eleições intercalares dos EUA não querem uma recandidatura do presidente Joe Biden nas presidenciais de 2024. Aliás, a popularidade do atual presidente está em níveis muito baixos, com apenas 41,4% de aprovação e 53,5% de desaprovação;
- A inflação e o aumento do custo de vida foram determinantes no momento do voto — e os democratas falharam em dar uma resposta cabal aos ataques republicanos nesta matéria.
- A base democrata saiu à rua: Os Democratas souberam aproveitar a indignação do seu eleitorado com a decisão do Supremo Tribunal em anular a lei Roe v. Wade, que consagrava o direito ao aborto, com muitos a assumir que este fator foi decisivo no voto das intercalares. As preocupações com a fragilidade da democracia tiveram igualmente grande influência – recorde-se que Biden fez campanha a alertar para a ameaça representada pelos Republicanos, e em particular pelos eleitores pró-Donald Trump nesta matéria;
- Blake Hounshell, neste artigo do The New York Times, destaca ainda a fraca qualidade de alguns dos nomeados republicanos nestas eleições para explicar porque é que não se assistiu a uma "onda vermelha", lembrando que o próprio Mitch McConnell, líder da minoria republicana no Senado, manifestou preocupações com a qualidade dos escolhidos.
Uma coisa é certa, se as projeções da Associated Press se confirmarem e o Partido Republicano conseguir o controlo da Câmara dos Representantes e do Senado, Biden não terá uma vida fácil enquanto presidente. Já Donald Trump — que prometeu um "grande anúncio" no dia 15 de novembro — pode ter aqui o impulso decisivo para avançar para a corrida à presidência dos EUA em 2024.
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