Não terá causado assim estranheza a ninguém que tenha sido ele o escolhido pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, para presidir à comissão organizadora das celebrações do 10 de Junho que, este ano, estão centradas na África do Sul e no Peso da Régua, promotora da região Capital Europeia do Vinho em 2023.
"Fiquei surpreso, não estava à espera. Estava nas compras e o Sr. Presidente ligou-me, não estava nada à espera e até pensei que era uma brincadeira de alguns amigos. O vinho do Douro e o Douro já mereciam", começou por dizer Nicolau de Almeida ao SAPO24.
"Significa muito na minha vida esta escolha e agora vou fazer de tudo para elevar ainda mais o Douro, o vinho do Douro. Quero que todos percebam que agora há Porto e também DOC Douro, os vinhos de mesa"Nicolau de Almeida
Depois da surpresa, Nicolau de Almeida, o enólogo, recebeu 'a bola' do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, parou-a de peito e aceitou o desafio, para capitanear as celebrações do 10 de junho, com o vinho como mote.
"Claro que fiquei orgulhoso e não podia rejeitar. É uma grande responsabilidade, mas assumi o desafio logo deste o início. Sei da importância que o Douro tem na minha vida. É muito importante para mim, significa muito na minha vida esta escolha e agora vou fazer de tudo para elevar ainda mais o Douro, o vinho do Douro. Quero que todos percebam que agora há Porto e também DOC Douro, os vinhos de mesa. Quero e queremos passar a mensagem que houve uma evolução fantástica no Douro nos últimos anos", referiu o enólogo, responsável pela Quinta do Monte Xisto.
Quanto às razões que terão levado Marcelo Rebelo de Sousa a escolhê-lo, o enólogo diz que “a culpa é do vinho”.
“Alguma coisa devo ter feito bem, fiz bastantes coisas no Douro. Fui dos primeiros enólogos na região e talvez a escolha tenha sido por aí. Há muitos outros a trabalhar bem a vinha e o vinho e eu só tenho de me sentir honradíssimo e orgulhoso”, diz Nicolau de Almeida, que espera agora ter uma “grande oportunidade” para dar ainda mais visibilidade a esta região demarcada.
"Quero dar uma palavra de agradecimento ao Sr. Presidente, não por me ter escolhido, poderia perfeitamente ter sido outro, mas por ter escolhido o Douro. Não é uma escolha apenas da região, é uma escolha deste povo, das pessoas que trabalham nesta indústria, é uma grande homenagem a todos nós"
“Em termos internacionais, o vinho do Douro tem levado o nome de Portugal a todo o mundo. Esta é mais uma oportunidade para promovê-lo. Antes tínhamos apenas o Porto e agora temos os vinhos tranquilos de grande qualidade. Temos de saber aproveitar todas as oportunidades para 'vender' o nosso produto, o nosso património mundial, atrair turistas e valorizar o Douro. Mas, acima de tudo, quero dar uma palavra de agradecimento ao Sr. Presidente, não por me ter escolhido, poderia perfeitamente ter sido outro, mas por ter escolhido o Douro. Não é uma escolha apenas da região, é uma escolha deste povo, das pessoas que trabalham nesta indústria, é uma grande homenagem a todos nós. É caso para dizer que, até que enfim que puxaram pelo vinho.”, referiu o enólogo, que vê nesta nova geração um impulso ainda maior para este setor.
“Os mais novos discutem muito o vinho, conhecem muito da indústria, é diferente de quando eu tinha 20 anos, onde só os que trabalhavam as vinhas falavam e conheciam. Estão mesmo a par de tudo, é um movimento que tem vindo a dinamizar a agricultura e será muito importante para o futuro do vinho português. O futuro tem tudo para ser brilhante, creio sinceramente nisso”, referiu o também produtor.
E é no futuro que Nicolau de Almeida tem também trabalhado, sobretudo no futuro dos vinhos, que “será com estas novas gerações”. O vinho e vinha têm de adaptar-se a novas realidades, caso contrário “não terão hipóteses”.
“Estamos perante uma nova realidade e vai ser diferente a cada ano que passa. Falo das alterações climáticas, que não formos pelo caminho do biológico, a vinha e o vinho não terão hipóteses. Na nossa quinta já trabalhamos nesse sentido, sem nada químico e esse terá de ser, obrigatoriamente, o futuro. As novas gerações, as que estudam neste momento, vão por esse caminho, felizmente”, salientou.
"Há vários apoios vindos do governo e dos seus ministérios, mas são tão complicados que dificilmente chegam a todos. Penso que deveria existir uma outra forma de ajudar os produtores, sobretudo os mais pequenos, que não podem perder tempo com burocracia"
Apesar dos elogios a Marcelo Rebelo de Sousa, pela escolha de Peso da Régua, do Douro e do vinho como mote das celebrações do 10 de junho, Nicolau de Almeida deixa também alguns recados aos governo.
“Como já disse, até que enfim puxaram pelo vinho, mas agora há que olhá-lo também de uma forma diferente. Há vários apoios vindos do governo e dos seus ministérios, mas são tão complicados que dificilmente chegam a todos. Penso que deveria existir uma outra forma de ajudar os produtores, sobretudo os mais pequenos, que não podem perder tempo com burocracia, têm de estar nas vinhas, nas adegas, não podem perder o tal tempo com tantos papéis”, concluiu o enólogo.
O 10 de junho é este sábado, mas as cerimónias já decorrem desde o início da semana em Peso da Régua, onde decorre uma exposição de meios e iniciativas das Forças Armadas, na zona ribeirinha da cidade, que tem envolvido alunos das escolas e a população em geral.
Esta sexta-feira foi dia de hastear a bandeira de Portugal e haverá ainda um concerto a a bordo de um barco atracado no cais da Régua, pela Orquestra Ligeira do Exército. Para sábado, 10 de junho, está marcada uma cerimónia militar na Avenida do Douro.
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