As duas localidades formam um grande quebra-cabeças, bastante complexo. Baarle-Hertog tem 22 enclaves em território holandês, enquanto Baarle-Nassau possui sete dentro do próprio território belga e outro além da fronteira.
No terreno, onde a porta de cada casa determina o país a que pertencem, os cidadãos belgas e holandeses estão habituados a viver sem a preocupação das fronteiras difusas dentro da União Europeia (UE). Mas a pandemia mudou tudo.
Em Baarle-Hertog, vinculada à província belga da Antuérpia, é obrigatório usar máscara em locais públicos, enquanto em Baarle-Nassau a sua utilização se limita aos transportes públicos, como acontece nos Países Baixos.
"As pessoas não sabem se devem usar uma máscara quando entram na minha loja", explica à AFP a holandesa Sylvia Reijbroek, cuja galeria de arte fica dos dois lados da fronteira, representada no chão por fitas brancas.
Contudo, a situação outrora cómica não parece tão agradável assim em plena pandemia. "Antes do coronavírus, não havia problemas com as fronteiras, mas agora é diferente", afirma a dona da galeria de arte.
Quando os clientes entram pelo lado belga, Sylvia explica que devem usar a máscara, antes de informar que podem tirar a peça depois de atravessar a fronteira, a poucos metros.
Duas políticas de saúde
Apesar das dezenas de marcas no chão nas duas localidades para indicar as fronteiras, "tudo funcionava muito bem, pois os moradores consideram ser membros de uma única comunidade", afirma Frans De Bont, autarca de Baarle-Hertog.
"Tudo mudou com o coronavírus. Ninguém sabe o que fazer", explica à AFP.
"Agora é 'você é holandês e tem as suas regras' e nós temos as regras belgas que são mais rígidas. É estranho", lamenta De Bont.
Durante o confinamento, Sylvia teve que fechar a galeria, registada na Bélgica, enquanto o comércio do lado holandês permaneceu. Os Países Baixos foram um dos poucos países na Europa que não decretou o confinamento.
"Temos dois governos que têm maneiras diferentes de atuar contra o coronavírus. Não é muito agradável", afirma a galerista.
Alguns estabelecimentos comerciais, para ajudar os moradores, anunciam nas vitrines: "Aqui a máscara não é obrigatória".
Caso único
Anomalia geográfica que atrai turistas de todo o mundo, a história de Baarle-Hertog e Baarle-Nassau remonta à Idade Média. Em 1198, o território foi dividido entre Henrique I, duque de Brabante, e Godofredo II de Schoten, senhor da Bretanha.
Em 1830, com a independência da Bélgica e a sua separação dos Países Baixos, surgiu a questão do traçado preciso de vários enclaves. As fronteiras foram estabelecidas definitivamente após 165 años de discussões.
Para Willem van Gool, diretor da secretaria de turismo de Baarle-Nassau e Baarle-Hertog, que reúnem quase 9.6000 habitantes, este é um caso "único" no mundo.
"Somos a capital mundial dos enclaves", brinca. "Para nós isto é normal, estamos acostumados. Mas com o coronavírus temos novos problemas a resolver", explica o holandês de 69 anos.
De Bont, cuja localidade belga registou 14 casos de covid-19 até o momento, afirma que a situação é "difícil" para os moradores. "Eles observam que em Baarle-Nassau as coisas podiam ser feitas de outra maneira".
Ele considera, no entanto, que o mais importante não é dizer quem adota as medidas mais eficazes, pois os dois países "fazem o melhor que podem".
"Estamos ocupados com algo maior: a guerra contra o coronavírus", conclui De Bont.
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