O Uruguai começou a vender em farmácias, esta quarta-feira (19), cannabis para uso recreativo, produzida sob controlo do Estado, um sistema aplicado pela primeira vez no mundo e que aponta para uma mudança na política de combate às drogas.
Esta manhã, o Instituto de Regulação e Controlo da Cannabis (IRCCA) publicou a lista de farmácias que vão participar no programa, um total de 16 em todo país.
Numa farmácia no centro da Cidade Velha de Montevidéu, uma fila de compradores formou-se cedo esta manhã. Assim que o estabelecimento foi aberto, cinco pessoas compraram a cannabis estatal.
"Fumo desde os 14 anos. Vamos provar", declarou à AFP um homem de 37 anos que não quis se identificar.
Assim como o comprador, a farmacêutica responsável não quis fornecer a sua identidade e limitou-se a declarar que a venda de cannabis com fins recreativos é "apenas mais um serviço".
Os farmacêuticos estão céticos em relação à rentabilidade do negócio. Para fazer a compra, é preciso registo, e cada pessoa inscrita tem direito a comprar 40 gramas mensais, a 1,13€ o grama.
Desde o início de maio, cerca de cinco mil pessoas inscreveram-se para comprar a droga através deste sistema. O governo uruguaio não conseguiu firmar acordos com as grandes redes de distribuição, e o número de pontos de venda não cobre todo o território deste país de 3,4 milhões de habitantes. Em Montevidéu, por exemplo, onde vive metade da população uruguaia, há apenas três pontos de venda.
Cannabis Estatal
Produzida por duas empresas privadas em áreas sob vigilância oficial e sujeitas a uma monitorização da qualidade do produto, a cannabis de uso recreativo é vendida ao público em recipientes de branco e azul, contendo cinco gramas da droga.
Há duas variedades do produto disponíveis em embalagens seladas: "Alpha I" e "Beta I", correspondentes às variedades "Indica" e "Sativa" da planta. Compradores, com quem a AFP conversou, adquiriram - em todos os casos - 10 gramas da droga, sendo 5 gramas de cada variedade. O registo do cliente é comprovado por meio de um sistema que lê suas impressões digitais, sem a necessidade de apresentar seu documento de identidade.
O cronograma para a venda da cannabis ao público em farmácias foi o ponto mais conflituoso e complexo desta lei, apresentada e aprovada durante o mandato do então presidente de esquerda José Mujica (2010-2015) como estratégia de luta contra o tráfico de droga.
A legislação habilita três vias para se ter acesso à cannabis: cultivo em lares, cultivo cooperativo em clubes e venda em farmácia de maconha produzida por empresas privadas controladas pelo Estado.
Apenas cidadãos uruguaios, ou residentes legais no país, são autorizados a comprar a erva nas farmácias, o que elimina a possibilidade de comercialização para turistas.
Segundo dados oficiais, há 63 clubes de produção em funcionamento, 6.948 cultivadores privados e 4.959 consumidores em farmácias registados oficialmente.
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