Em novembro, o ministro das Finanças israelita, Bezalel Smotrich, bloqueou uma parte dos fundos pagos mensalmente à Autoridade Nacional Palestiniana (ANP) a partir dos impostos que Israel cobra em seu nome, para evitar que esse dinheiro fosse para Gaza para pagar aos funcionários que ainda fazem parte da folha de pagamentos da ANP.
Como medida de protesto, a AP recusa-se a receber a totalidade dos fundos, cerca de 275 milhões de shekels por mês (cerca de 67 milhões de euros), se não incluírem uma parte para pagar aos seus trabalhadores na Faixa de Gaza, agravando a crise económica de longa data das autoridades palestinianas, sem dinheiro suficiente para pagar os salários dos seus cerca de 150 mil funcionários.
Na Cisjordânia ocupada – com o domínio da ANP em pequenas áreas – isto significa que os salários dos funcionários públicos, dos professores nas escolas ou do pessoal médico nos hospitais públicos, bem como dos membros das forças de segurança, não podem ser pagos ou são apenas parcialmente cobertos, o que preocupa os Estados Unidos, que têm insistido nos últimos meses para que Israel transfira os fundos.
Os israelitas são responsáveis pela cobrança de impostos para o governo palestiniano desde os anos 1990, questão que tem causado grandes atritos.
De acordo com a decisão tomada hoje na reunião do Conselho de Ministros israelita, a aprovação da transferência de fundos significa que os fundos ficarão nas mãos de “um país terceiro”, a Noruega, e que se forem enviados para a ANP só o serão com a aprovação de Israel, que deve primeiro garantir que a parte de Gaza não é enviada, segundo o gabinete do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu.
Desde o início da guerra, esta medida faz parte da política de pressão de Israel sobre a Faixa de Gaza para derrotar o grupo islamita Hamas, no poder no enclave desde 2007.
“Os EUA e a Noruega respeitam a decisão do gabinete político e de segurança, que ordenou a suspensão da transferência de fundos de Gaza”, e qualquer dinheiro deixado nas mãos de Oslo para ser enviado à ANP “não será transferido em nenhuma circunstância sob a aprovação do ministro das Finanças de Israel”, disse o gabinete de Netanyahu.
“Qualquer violação do acordo permite” a Israel “congelar imediatamente todos os fundos” destinados aos palestinianos, acrescentou.
Em resposta ao anúncio do plano, o secretário-geral da Organização de Libertação da Palestina (OLP), Husein al-Sheikh, criticou-o e disse que as autoridades palestinianas não aceitarão tal medida.
“Rejeitamos qualquer suspensão dos nossos direitos financeiros ou qualquer condição imposta por Israel que se baseie em impedir a Autoridade Palestiniana de pagar ao nosso povo na Faixa de Gaza”, afirmou Al-Sheikh, segundo a agência noticiosa oficial palestiniana Wafa.
O responsável palestiniano instou a comunidade internacional “a parar com este comportamento baseado na pirataria e no roubo do dinheiro do povo palestiniano”, e apelou a “obrigar Israel a transferir todo o dinheiro”.
Com o que Israel estipulou neste momento, a ANP só poderá obter os fundos para a Cisjordânia, onde a crise económica desde o início da guerra de Gaza se faz sentir também pelo aumento exponencial do desemprego, que subiu de 16-17% para quase 40%, devido aos cerca de 150 mil trabalhadores palestinianos que estavam ao serviço de Israel ou dos seus colonatos e que agora estão no desemprego.
Estes trabalhadores representavam cerca de 20% da população ativa da Cisjordânia.
A decisão agravou as tensões dentro do executivo israelita, merecendo a oposição de ministros de extrema-direita que integram a coligação no poder, que se mostram convictos de que a Autoridade Palestiniana entregará parte do dinheiro, se o receber, ao Hamas e que esses valores vão ser usados no financiamento da guerra das milícias palestinianas contra Israel.
O ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben Gvir, acusou, através da sua conta na rede social X, o primeiro-ministro de “mudar constantemente as linhas vermelhas” quer “admitindo a entrada de combustível em Gaza”, quer trocando ajuda humanitária e agora tomando uma decisão que “não garante que os nazis de Gaza”, numa referência ao Hamas, não “acabem a receber o dinheiro”.
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