Maria José Aleixo tem 81 anos. Mora nos Olivais, em Lisboa. Informa que sai à rua “todos os dias”. Por duas razões. “Faz-me falta o café. E o pão. Congelado, ou duro, não é a mesma coisa”, diz.
Foi também buscar um medicamento à farmácia. "Não estava com ninguém e aproveitei. Tinha aqui a receita”, conta. É um medicamento para o joelho. “Em casa, parada, dói-me, faz bem andar 30 metros”, sublinha. “Chego a casa e desinfeto carteira e as mãos com álcool”, garante ao SAPO24.
O palco da conversa, à distância, é a praça Cidade do Luso. Quase despida de gente, estão somente os funcionários de limpeza da Junta de Freguesia dos Olivais e bombeiros de Cabo Ruivo, numa ação de desinfestação das ruas.
Clamiro Correia, 93, aproxima-se de Rute Lima, presidente da Junta. Diz que foi colega do pai, no extinto banco Fonsecas&Burnay. Está vestido como se fosse trabalhar. Camisa, pullover, gravata e casaco.
Perante a “reprimenda” da Presidente de Junta e o pedido para permanecer em casa, responde com uma calma que a idade lhe proporciona. “Vou ali tomar um cafezinho. Estou ao pé de casa e tenho todo o cuidado”, responde. Ao SAPO24, informa que a “mulher também sai” e que “não ando, nem uso, máscara”. A filha e a neta estão em casa, "de quarentena, porque estiveram em França”.
“A grande preocupação são os idosos. Que são 65% da população aqui recenseada (35 mil ao todo). Temos preocupações acrescidas”, adianta Rute Lima. “Procuramos passar a mensagem aos idosos que não podem sair de casa, não devem, a não ser em situações de maior importância e necessidade”, frisa. Admite, no entanto, que “há quem não consiga, porque é o momento do dia em que veem alguém”.
Para combater os dias de confinamento, a Junta disponibiliza "um serviço de transporte de medicamentos a casa das pessoas numa parceria direta com as farmácias". "Não existe transação de bens financeiros. A Junta é o distribuidor entre os clientes habituais e as farmácias”, explica a presidente daquela freguesia de Lisboa.
Ajudam igualmente com a alimentação. “Temos o serviço de refeições, duas por dias, que tem por base numa listagem, do programa Radar (programa da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa de sinalização de idosos) e os nossos meios de contacto através de atividades nossas, de idosos em situação de isolamento ou com pouca mobilidade. Ascende às três mil pessoas”, descreve. É uma ação que “permitiu entrar na casa das pessoas e entender as suas necessidades”, refere.
Até à data, servem “1000 refeições diárias a um universo de 500 idosos”. Mas o número tem crescido, “todos os dias”, entre “30 a 40” novos casos. “Há idosos que não se aperceberam que está a funcionar e continuam a vir à rua comprar o pão e a fruta. E outros que dizem que, por agora, ainda não necessitam”.
A limpeza de bancos, praças, ruas, corrimões e a porta da funerária
Aproxima-se dos funcionários da Junta e dos bombeiros que limpam as ruas. José Mascarenhas lidera as operações. É encarregado da Junta de Freguesia (JF) dos Olivais, departamento de Higiene Urbana. “De 2ª feira a sábado, desinfetamos bancos, corrimões, praças, zonas comercias. A população, por vezes, pede para limpar às suas portas e distribuímos desinfetante pelas lojas que podem estar abertas”, explica. Fizeram-no à porta da funerária de Adelino Matinas. “Estamos abertos”, adianta o sócio-gerente.
Em relação à ação de limpeza, os Olivais foram pioneiros em Lisboa. “Produzimos desinfetante, nos nossos estaleiros, uma solução recomendada pela DGS sem perigo de toxicidade. Temos capacidade de recursos técnicos, operacionais e logísticos”, assegura Rute Lima, presidente da JF dos Olivais.
“A desinfestação de espaços públicos e auxílio a pessoas” obriga “ao esforço e empenho dos funcionários” que “estão expostos ao risco”. São “trabalhos na linha da frente que não podem deixar de ser feitos”, sublinha.
A utilização do carro de bombeiros de Cabo Ruivo “permite desinfetar as ruas com maior abrangência, em locais prioritários, ruas e vias pedonais”. Todo o aparato na rua “gera, na população, confiança” e “configura um alerta máximo para as pessoas: por favor, não saiam de casa. Não podem”, avisa.
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