A nova direção é presidida pelo ator José Raposo, que assumiu funções a 15 de março de 2021, com o objetivo principal de potencializar as qualidades não só dos serviços da instituição, como dos que nela habitam.
A abertura de portas ao público é essencial para que os objetivos sejam cumpridos, de forma a gerar interação com os residentes: “Chamar as pessoas que depois podem ter contacto com os artistas, com os residentes, com os seus ídolos, com as suas referências. No jardim podem fazer-se vários eventos, como feiras do livro, atividades para os próprios residentes também se sentirem bem vivos”, referiu à Lusa o diretor.
As opções ainda estão a ser estudadas e avaliadas, mas o intuito é fazer com que a Casa do Artista seja autossuficiente, através da rendibilização dos diversos espaços.
A instituição fechou 2020 com lucro de 18.949 euros, um dos “melhores [resultados financeiros] desde a abertura da Casa do Artista”, indicava o relatório e contas do ano passado, face ao prejuízo de mais de 57 mil euros atingido no ano anterior.
O ator e secretário da direção Luís Aleluia admitiu que existe a necessidade urgente de “desenvolver aquilo que está na matriz do projeto original” e sublinhou a ideia de que o lar é apenas uma das muitas vertentes da obra.
“A ideia de que a Casa do Artista é apenas um lar surgiu porque foi necessário dar resposta a um problema social – havia muita gente ligada à arte que estava desprotegida e desamparada socialmente”, afirmou.
Luís Aleluia deixou ainda um convite: “Todos podem ser sócios, não só os artistas, mas quem quer de facto apoiar a arte e a cultura portuguesa, pois um artista existe na medida em que se entrega a um bem maior pela Humanidade”.
Conceição Carvalho, que já tinha desempenhado funções de assessoria, tendo cessado a sua colaboração em junho de 2020, regressou agora como membro da nova direção, quis desmistificar a ideia de “lar”: “Há muito preconceito em relação aos lares, não é só em relação a este, é em relação a todos. Habitualmente, até a própria crítica social e familiar impera, quando, muitas vezes, essa é a melhor solução, porque a família não tem, muitas vezes, a disponibilidade de fazer um acompanhamento permanente de uma pessoa que precisa desse acompanhamento”.
Visita habitual da instituição, o produtor Nunes Forte corrobora a ideia de que a Casa do Artista “não é um sótão para arrumar pessoas. Isto é uma casa viva”.
Os residentes da Casa do Artista têm total liberdade de deslocação, desde que o estado de saúde assim o permita. Alguns deles, depois de entrar para a residência, mantêm a sua atividade profissional, como é o caso da fadista Anita Guerreiro, que, antes da pandemia, continuava a cantar nas casas de fado.
“Eu estava aqui e ia cantar sempre ao Faia todas as semanas, na mesma. Eles deixavam-me sair daqui e mandavam-me num táxi, já era um táxi certo que eles pagavam, e vinha-me cá buscar e trazer”, contou Anita Guerreiro, lamentando a interrupção causada pela pandemia de covid-19.
Também a cantora lírica Helena Vieira, que também faz parte da atual equipa diretiva, manifesta o seu amor pela instituição. “Eu adoro a casa do artista. Eu vim para cá voluntariamente por circunstâncias familiares e desde sempre que sou militante da casa do artista”, dizendo que se sente verdadeiramente em casa.
Para além da dificuldade inerente ao assumir a direção de um espaço como a Casa do Artista, os novos responsáveis por esta Instituição Particular de Solidariedade Social assumiram o cargo em plena pandemia de covid-19 e pouco depois de a doença ter atingido residentes e funcionários, infetando 40 pessoas e causando 11 mortes.
Helena Vieira, de 68 anos, recorda “uma fraqueza muito grande”, que a impedia de se mexer, com sono e mal-estar, levando-a a estar internada 22 dias no Hospital de Santa Maria, em Lisboa.
Por seu lado, Anita Guerreiro, que conseguiu atravessar esse período sem ser infetada, lembra a amiga que viu partir, Maria José Valério: “Sinto muita pena dela, porque éramos muito amigas, mas pronto, é uma coisa que a gente não pode fazer nada, que Deus a tenha em paz e descanso. Qualquer dia vou eu, depois vai outro, depois vai outro. É assim filho, não ficamos cá”.
Contente com esta nova fase está a atriz Lurdes Norberto, de 86 anos, que mantém um pensamento positivo. “É voltar à vida, é. E esquecer os momentos passados. Eu tento esquecer aquilo que é de mau. Estou sempre a pensar o que é que vai acontecer de bom”, disse à Lusa.
O animador sociocultural da Casa do Artista, Ricardo Madeira, descreve o ambiente atualmente vivido pelos residentes, depois do desconfinamento como “um momento de alegria, de festa, de as pessoas poderem regressar e a conviver uns com os outros, a comer no refeitório, que foi algo que durante dois meses e tal não fizeram”.
A Apoiarte — Casa do Artista foi inaugurada a 11 de setembro de 1999, pelas mãos do ator Raúl Solnado, que trouxe a ideia do Brasil, tendo a primeira direção reunido nomes como Armando Cortez, Octávio Clérigo, Manuela Maria, Carmen Dolores e Pedro Solnado.
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