“Em relação aos cabeleireiros, o que eles [clientes] não têm lá e têm cá é a privacidade masculina”, disse à agência Lusa o barbeiro Cláudio Aguiar, gracejando: “aqui dentro é como em Las Vegas, o que acontece aqui não sai daqui!”.
Barbearias inspiradas nos estabelecimentos das décadas de 30 ou 40 do século XX, seja na decoração como nas técnicas, vão aparecendo para os que gostam das barbas cortadas a navalha. A diferença está na geração jovem dos novos profissionais, que apostam na formação e na inovação.
“A formação é importante. Há muita coisa que se aprende na escola que não se aprende na rua”, disse à Lusa Flávio Rocha, que abriu recentemente a sua barbearia em Loulé.
A nova geração de barbeiros, não obstante a adoção de novas técnicas e de novos cortes, não se escusa a recuperar hábitos antigos, como o da “toalha quente”.
As primeiras experiências a cortar cabelo a amigos começaram aos 13 anos, ainda na sua terra natal, Cabo Verde. Mais tarde, trabalhou como eletricista, mas “houve sempre aquele bichinho a chamar-me para barbeiro”, contou Flávio Rocha.
A pintura de barbas tem, por outro lado, funcionado como chamariz de clientes mais jovens, que querem ter uma barba mais cheia e vistosa.
“Acho que é uma nova geração que traz inovação e que, em termos de técnica, é muito mais evoluída”, reconheceu Ruben Filipe, 23 anos, enquanto Flávio Rocha lhe cortava o cabelo.
Além dos clientes habituais durante a semana, Flávio conta, aos sábados, quando a cidade de Loulé é particularmente visitada por turistas, com clientela estrangeira.
“Os estrangeiros vêm de férias e fazem questão de cortar o cabelo cá. Gostam de experimentar o serviço de barbearia português e têm saído impressionados com o nosso grau de exigência”, explicou Cláudio Aguiar, que abriu a sua barbearia na baixa de Faro há apenas algumas semanas.
Além dos serviços habituais, está a preparar um espaço de estética masculina, com depilações, manicure e pedicure.
Ao som de blues, a máquina corta cabelo na barbearia de André Pereira, em Loulé, ao mesmo tempo que o profissional pergunta ao cliente: “Toma alguma coisa?”.
“Trabalhava como barman, mas comecei a fartar-me da noite e comecei a cortar uns cabelos e a rapar umas cabeças em casa”, explica o barbeiro, de 24 anos, que acabou por tirar o curso no setor.
Nada é deixado ao acaso nestes espaços exclusivamente pensados para o público masculino, desde a decoração – geralmente com um toque ‘vintage’ – à música, passando pelas revistas disponíveis.
A relação entre a oferta e a procura é responsável pelo surgimento de cada vez mais barbearias “à moda antiga” e, em paralelo, de cursos de formação nesta área.
Quer Cláudio Aguiar como André Pereira são formadores numa escola de Loulé e atestam que as ações de formação no setor estão em voga.
“Temos jovens que gostam de cuidar deles e gostam também de criar dentro desta área e sentem que têm essa vocação. Temos também maridos de cabeleireiras que querem criar uma área de barbeiro no salão familiar e temos, ainda, os curiosos”, contou Cláudio Aguiar.
Como lema, estes jovens empresários “à moda antiga”, adotam a máxima “entre, sente-se e deixe acontecer”. Para já, com sucesso, pois parecem ser cada vez mais os clientes que se deixam seduzir pelos hábitos e ambientes de há décadas.
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