O antigo presidente do Infarmed e professor da Faculdade de Farmácia Hélder Mota Filipe foi eleito bastonário da Ordem dos Farmacêuticos (OF) com 65% dos votos, nas eleições que decorreram no sábado, sucedendo a Ana Paula Martins, que exercia o cargo desde 2016.
Em declarações hoje à agência Lusa, Helder Mota Filipe apontou as prioridades do seu mandato até 2025, afirmando que, “primeiro de tudo”, vai pôr no terreno os princípios que identificou desde o início para a OF.
“Basicamente, é ter uma ordem independente e claramente independente de qualquer tipo de interesse, de organização. A única dependência que a Ordem vai ter é para com os associados, para com os farmacêuticos, para com os doentes e a sociedade”, disse o também membro da Comissão de Ética para a Investigação Clínica e presidente da Associação de Farmacêuticos dos Países de Língua Oficial Portuguesa.
Outra vertente importante, apontou, é a transparência: “Acho que a ordem, as ordens e organizações deste tipo devem cultivar a transparência, isto é, deve-se entender claramente o modo de funcionamento e os mecanismos de tomada de decisão”.
Helder Mota Filipe adiantou que durante a campanha eleitoral e nas visitas que fez pelo país verificou dois aspetos que têm de ser “bastante trabalhados”, nomeadamente “a noção de utilidade e proximidade da OF.
“Temos uma classe que tem estado bastante afastada da Ordem e acho que este afastamento cresceu nos últimos anos e é importante que a ordem se aproxime dos farmacêuticos e se aproxime também da sociedade”, defendeu.
O novo bastonário destacou também a importância de “preparar a profissão” para dar resposta aos tempos que se avizinham e que “não vão ser fáceis”.
“Nós temos um SNS [Serviço Nacional de Saúde] com dificuldade de responder a todas as solicitações, temos um orçamento para a saúde e um Orçamento do Estado em geral que teima em não crescer à velocidade que seria necessário”, salientou.
Há ainda uma pandemia e depois uma pós-pandemia que “criam situações muito complicadas do ponto de vista das respostas na área da saúde e os farmacêuticos têm uma colaboração a dar na resolução destes problemas muito superior àquela que tem sido dada”.
Para Helder Mota Filipe, o potencial de ajuda pode ser “muito maior”, mas para isso necessita de um conjunto de alterações.
“São alterações formais e vontade política para que os farmacêuticos possam desenvolver mais serviços, mais atividades e a Ordem tem um papel importante no desenvolvimento de conhecimentos e competências que permitem desenvolver esses serviços”, defendeu.
No seu entender, se esses serviços forem desenvolvidos de forma adequada e com as condições necessárias, vão ajudar o sistema de saúde e nomeadamente o SNS, retirando pressão das urgências hospitalares e dos cuidados de saúde primários.
Por fim, alertou para a importância de discutir a alteração dos estatutos jurídico das ordens profissionais.
“É um aspeto que me preocupa também e que deve ser bastante discutido entre as ordens e bastante discutido depois pelo poder político no sentido de fazer as alterações que modernizem estas estruturas, mas nunca hipotecar a sua capacidade técnica ou científica de regulação de uma profissão, nem cedendo a influência política na vida da ordem”, sublinhou.
Novo bastonário diz que foi um erro afastar farmácia da vacinação
bastonário eleito da Ordem dos Farmacêuticos (OF), Helder Mota Filipe, afirmou hoje que “um dos erros” da gestão da pandemia foi ter afastado “o potencial” oferecido pelos farmacêuticos comunitários do processo de vacinação contra a covid-19.
O novo bastonário, eleito com 65% dos votos nas eleições de sábado para a OF, afirmou, em declarações à agência Lusa, que a colaboração da rede de farmácias comunitárias já demonstrou “ser fundamental” na vacinação da gripe, “não havendo razão nenhuma para afastar, ignorar este potencial”.
“Hoje, com a maioria de razão, não faz sentido absolutamente nenhum afastar o potencial que é oferecido pelos farmacêuticos comunitários, através das farmácias comunitárias distribuídas pelo país todo, de um processo de vacinação que nada tem, do ponto de vista técnico e de segurança, de diferente da vacinação da gripe”, defendeu o antigo presidente do Infarmed.
No seu entender, “um dos erros da gestão da pandemia foi a proatividade com que se afastou esta rede de cuidados de saúde no combate à pandemia”.
“É claro que depois demonstrando-se a necessidade de a incluir, foi sendo incluída, nomeadamente nos testes, não ainda na vacinação, mas eu acho que não é uma boa prática de gestão de recursos afastar estruturas e profissionais que podem ajudar a gerir melhor esta situação”, insistiu.
Além da realização nas farmácias dos testes rápidos de antigénio para deteção da infeção pelo vírus SARS-CoV-2, destacou o papel dos farmacêuticos analistas clínicos que “nunca pararam” e tiveram um “trabalho extraordinário” em toda a componente de rastreio e diagnóstico da covid-19.
Mas, para Helder Mota Filipe, o potencial de ajuda dos farmacêuticos pode ser “muito maior”, mas para isso necessita de um conjunto de alterações.
“São alterações formais e vontade política para que os farmacêuticos possam desenvolver mais serviços, mais atividades e a Ordem tem um papel importante no desenvolvimento de conhecimentos e competências que permitem desenvolver esses serviços”, defendeu.
Exemplificou que os farmacêuticos comunitários podiam renovar da prescrição em doentes crónicos que têm de ir ao centro de saúde apenas para pedir a renovação das receitas e depois ir lá buscar, o que “poderia ser feito e pode ser feito, e noutros países é feito, por farmacêuticos comunitários”.
Para isso, é fundamental a partilha de dados clínicos relevantes do doente para a prestação destes serviços, defendeu o também presidente da Associação de Farmacêuticos dos Países de Língua Oficial Portuguesa.
Defendeu ainda a criação de mecanismos de comunicação entre os farmacêuticos comunitários e as diferentes áreas dos cuidados de saúde, para haver “verdadeiramente a prestação de cuidados de proximidade, com a qualidade adequada, evitando que o doente tenha que andar de um dos serviços para os outros apenas porque os serviços não comunicam uns com os outros”.
Para Helder Mota Filipe, o desenvolvimento destes serviços “seriam úteis para os doentes, mas também úteis para retirar a pressão ao próprio Serviço Nacional de Saúde”.
(Artigo atualizado às 14:35)
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