O método, descrito num artigo publicado na revista Cell, consiste em estimular regiões profundas do cérebro, sem causar danos cerebrais, através de elétrodos (condutores de corrente elétrica) colocados sobre o couro cabeludo e não dentro do cérebro.
Segundo os cientistas, este método, desenvolvido por uma equipa do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês), em colaboração com o Centro Médico Beth Israel Deaconess, ambos nos Estados Unidos, pode tornar a estimulação profunda do cérebro menos perigosa e menos cara.
Atualmente, a estimulação profunda do cérebro é usada com técnicas invasivas para tratar doentes com Parkinson, ao direcionar impulsos elétricos para a parte do cérebro envolvida no controlo do movimento, mas também para tratar pessoas com depressão, epilepsia e perturbação obsessivo-compulsiva.
A estimulação é feita por elétrodos implantados no cérebro através de uma cirurgia que pode acarretar riscos para os pacientes, como hemorragias cerebrais e infeções.
Outras técnicas alternativas, e menos agressivas, têm sido utilizadas, como a estimulação magnética transcraniana, que usa campos magnéticos para excitar pequenas regiões do cérebro por indução eletromagnética através de um gerador colocado próximo da cabeça do doente.
A técnica está autorizada nos Estados Unidos para o tratamento da depressão e tem sido usada no estudo das emoções, do movimento e da cognição, mas é pouco incisiva, uma vez que pode estimular fortemente regiões superficiais do cérebro, além de regiões mais profundas.
Para contornar estes obstáculos, os investigadores do MIT tiraram partido de uma estratégia que se traduz em gerar duas correntes elétricas de alta frequência utilizando elétrodos colocados no exterior do cérebro.
O MIT explica, num comunicado hoje divulgado, que as duas correntes interferem uma com a outra, de tal modo que, quando se cruzam no fundo do cérebro, uma corrente de baixa frequência é desencadeada nos neurónios (células cerebrais). O impulso elétrico de baixa frequência pode ser utilizado para conduzir atividade elétrica para os neurónios, ao mesmo tempo que a corrente de alta frequência atravessa tecidos cerebrais nas proximidades sem os afetar.
Ao sintonizarem a frequência das correntes elétricas e ao alterarem o número e a localização dos elétrodos, os investigadores podem controlar o tamanho e a localização do tecido cerebral que recebe a estimulação de baixa frequência, evitando que outras estruturas do cérebro sejam atingidas, acrescenta a nota do MIT.
Numa experiência com ratos, os cientistas observaram que o novo método de estimulação profunda do cérebro pode 'exercitar' pequenas regiões como o hipocampo, a 'sede' da memória, e diferentes partes do córtex motor, zona que controla o movimento, tendo, neste caso, incitado os roedores a mexerem orelhas, patas e os bigodes.
"Demonstrámos que conseguimos, com muita precisão, direcionar uma região do cérebro para gerar não só uma ativação dos neurónios, mas também respostas comportamentais", defende um dos autores do estudo, a investigadora Li-Huei Tsai, diretora do Instituto Picower para a Aprendizagem e a Memória, que faz parte do MIT.
Os autores da investigação consideram que a técnica é promissora para o tratamento da doença de Parkinson, ao estimular de forma não invasiva a região do cérebro que controla o movimento, mas também para o tratamento de outras patologias ou perturbações com origem no cérebro, como epilepsia, depressão, autismo e Alzheimer, ao atuar sobre zonas precisas do cérebro.
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