Um novo estudo, publicado na revista Global Change Biology e citado pelo The Guardian, concluiu que os ecossistemas da Antártida podem ser afetados por animais de espécies estrangeiras, doenças e lixo vindos de África e da Austrália, à medida que o aumento das temperaturas derrete as camadas de gelo.
Foi possível entender, através de uma simulação de correntes oceânicas, que objetos da Austrália, da África do Sul, da América do Sul e da Nova Zelândia chegam à Antártida todos os anos, e que objetos da ilhas situadas no Oceano Antártico chegam à costa ainda com mais frequência.
“Os objetos podem deslocar-se para a Antártida vindos de muito mais a norte do que pensávamos anteriormente”, disse Hannah Dawson, autora principal do estudo.
O estudo sugere que as ondas e as correntes são o que transporta os objetos de todo o hemisfério sul para as costas da Antártida, dificultando o estabelecimento de novas organismos.
Anteriormente, eram várias as plantas e os animais que se deslocavam em direção à Antártida, mas nos últimos tempos esse número diminuiu. Tal pode explicar-se pelo gelo marinho flutuante, que bate, constantemente, contra a costa, e que pode ter destruído e matado as espécies. Alternativamente, podem não ter conseguido sobreviver ao frio.
“Se as coisas estão a chegar lá com frequência, devem ser as águas frias e as condições geladas que estão a impedir que as espécies realmente se estabeleçam”, disse Dawson. “Mas essas condições estão a mudar”, referiu.
Com o aumento da temperatura e o gelo marinho a derreter, as espécies estrangeiras têm uma maior probabilidade de colonizar o litoral da Antártida. Embora o fenómeno possa ser positivo para os animais que chegam, o mesmo não acontece para as espécies nativas da Antártida, e que viram o gelo marinho diminuir a um nível alarmante nos últimos três anos consecutivos.
O aumento da poluição por plástico significa também que há mais detritos nos quais os animais podem flutuar para viajar para o sul, facilitando a chegada das novas espécies. Ainda que, novamente, as mais de 170 milhões de biliões de partículas de plástico que flutuaram nos oceanos, em 2023, não sejam positivas para o meio ambiente.
No entanto, o plástico flutuante pode trazer algo ainda mais indesejável: formigas e doenças como a gripe aviária, ou caranguejos, estrelas-do-mar e lesmas, transportadas por algas marinhas flutuantes, segundo Ceridwen Fraser, coautora do estudo e profissional de biogeografia da Universidade de Otago, na Nova Zelândia.
“É realmente preocupante para as espécies da Antártida”, disse. “Se as espécies estrangeiras que chegam, viajassem e se estabelecessem com sucesso na costa antártica em degelo, eles teriam uma vantagem de sobrevivência sobre as espécies nativas, que tendem a crescer mais lentamente”.
“Eles podem superar as espécies locais e essas espécies locais provavelmente não terão para onde ir”, acrescentou.
O estudo descobriu ainda que a península Antártica seria mais vulnerável à colonização, com a grande maioria dos objetos a chegarem ao ponto mais a norte do continente. De acordo com Andy Hogg, diretor do centro ACCESS-NRI, que realizou o estudo, esta seria a primeira parte do continente a atingir, igualmente, temperaturas que permitiriam a fixação da espécies do exterior.
Agora Hogg revelou que há a necessidade de investigar quais serão os organismos de outros continentes que conseguiriam sobreviver às condições da Antártida.
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