Tudo terá acontecido há nove anos, quando Cristiano Ronaldo, com 24 anos, vivia sob os holofotes de um verão intenso. O jovem português estava a pouco tempo de protagonizar aquela que seria uma das transferências que ficariam para a história do futebol, ao deixar Old Trafford e assinar pelo Real Madrid.
Terá sido no dia 13 de junho de 2009, numa discoteca de Las Vegas, que Ronaldo conheceu Kathryn Mayorga. Terá sido lá, que após passarem algum tempo na zona VIP, entre um grupo de amigos, que CR7 a terá convidado e aos restantes, para a sua suíte no hotel Palms Place, onde, já tarde, continuariam a festa.
Foi lá que Mayorga garante ter sido violada pelo capitão da seleção portuguesa de futebol.
Somam-se as conjugações hipotéticas, de que são evidência as muitas frases começadas por “terá” ou “alegadamente”. O relato de Mayorga naquela noite, depois de ter apresentado queixa na polícia e de ter feito exames médicos durante os quais foram recolhidas provas, ficou incompleto por que faltava um nome. O nome do atual número 7 da Juventus, na versão de Mayorga.
A norte-americana, agora com 34 anos, garante que o português a violou - por penetração anal - e que durante o ato ela lhe pediu que parasse. Ele, relata, ter-lhe-á perguntado se ela estaria com dores. “Nessa altura, ele está de joelhos e diz aquilo dos 99 por cento. Disse que era um bom rapaz, tirando aqueles um por cento”, revela Mayorga.
Em 2009, o caso encerrar-se-ia na mediação entre os representantes dos dois, de acordo com documento a que o meio de comunicação alemão teve acesso. É assim que Mayorga afirma que na altura Ronaldo comprou o seu silêncio com um contrato de confidencialidade no valor de 375 mil dólares, o equivalente hoje a 322 mil euros.
Este acordo é o ponto de partida da investigação do Der Spiegel, em 2017. Na altura a publicação alemã, via FootballLeaks, publicou o documento, mas faltou-lhe a voz da própria acusadora que se recusou a falar. Algo que mudaria um ano depois e que permitiu à revista alemã retomar o tema.
E é precisamente neste acordo que surge um dos documentos que está a levantar polémica. Num dos vários relatos escritos atribuídos a Cristiano Ronaldo sobre o caso, o português conta uma história diferente. Depois de uma primeira versão em que conta que o sexo teria sido consensual, num segundo relato, o então jogador do Manchester United, disse que Mayorga lhe disse que não várias vezes e que o próprio, no fim, lhe terá pedido desculpas.
No entanto, é sobretudo a falta de coerência entre os depoimentos dos dois que salta à vista no relato que o Der Spiegel faz da leitura dos documentos. Enquanto Ronaldo diz que Mayorga o masturbou, ela diz que não. Ronaldo diz que foi ela que o abordou para que ele a deixasse entrar na zona VIP, quando ela relata que foi ele que a interpelou. E, de acordo com amigos de CR7, Mayorga, não pareceu perturbada de alguma forma quando saiu do quarto, ao contrário de um amigo próximo dela que afirma que ela saiu com um ar perturbado do quarto.
A primeira vez que o tema veio a público foi classificado pelos representantes de Ronaldo como “jornalismo de ficção”, mas agora a postura mudou. Num comunicado posterior à divulgação do artigo do Der Spiegel é dito que a informação é “flagrantemente ilegal” e "viola os direitos pessoais de uma forma excecionalmente séria”.
Mais, a defesa do português anunciou que iria pedir uma “indemnização por danos morais num valor correspondente à gravidade da infração, que é, provavelmente, uma das mais sérias violações de direitos pessoais nos últimos anos”.
O próprio Ronaldo veio a público classificar todas as notícias como “fake news”, através de um direto que fez na sua conta de Instagram.
Leslie Mark Stovall, uma das advogadas de Mayorga, respondeu hoje em comunicado ao português. “As feridas psicológicas sofridas pela Sra. Mayorga não são notícias falsas”, disse, realçando “as circunstâncias em que foi assinado o acordo financeiro e de confidencialidade”, “as provas físicas da agressão” e o relato atribuído a Cristiano Ronaldo como prova de tudo isso.
Nos Estados Unidos, perante o aparecimento de novas provas, a polícia de Las Vegas, no Nevada, anunciou nesta segunda-feira que irá reabrir a investigação ligada à violação de Mayorga.
[Notícia corrigida às 18h14. Corrige no título e primeiro parágrafo, onde se lia Los Angeles e não Las Vegas]
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