O momento marcará o regresso à Casa Branca do político republicano, que venceu a vice-presidente e candidata democrata, Kamala Harris, nas eleições presidenciais norte-americanas de 05 de novembro, depois de um primeiro mandato (2017-2021) e de ter falhado a reeleição, face à vitória de Joe Biden.

Tradicionalmente vista como uma forma de sinalizar relações diplomáticas, a lista de convidados de Trump baseia-se mais em convites diretos a aliados próximos, incluindo vários políticos mundiais de extrema-direita e populistas.

São os casos do Presidente da Argentina, Javier Milei, que já confirmou a presença, ou do ex-chefe de Estado brasileiro Jair Bolsonaro, que foi convidado, mas não pode viajar para os Estados Unidos por ter o seu passaporte retido pela justiça brasileira, no âmbito da investigação sobre o alegado plano de golpe de Estado para impedir a posse do seu sucessor, Lula da Silva.

Entre os convidados estão o Presidente da China, Xi Jinping — que se fará representar por altos responsáveis do seu executivo -, de El Salvador, Nayib Bukele, e do Equador, Daniel Noboa, bem como os chefes da diplomacia da Índia, Subrahmanyam Jaishankar, e do Japão, Takeshi Iwaya.

Da UE, nenhum dos altos representantes das instituições recebeu convite para a cerimónia, incluindo os presidentes do Conselho Europeu, António Costa, da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, confirmaram à Lusa fontes comunitárias. A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, será a única líder dos 27 Estados-membros da UE presente.

Os 27 do bloco comunitário serão representados pela embaixadora da UE para os Estados Unidos, Jovita Neliupsien.

Da extrema-direita europeia, haverá uma delegação dos Patriotas pela Europa, encabeçada pelo líder da terceira maior força política do Parlamento Europeu, Santiago Abascal (Vox espanhol) e que integra o presidente do Chega, André Ventura.

A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, também foi convidada, bem como Alice Weidel, a líder do partido de extrema-direita alemão, Alternativa para a Alemanha (AfD), mas será representada pelo co-presidente do partido, Tino Chrupalla.

Os líderes da extrema-direita francesa, Marine Le Pen e Jordan Bardella, não receberam convites, ao contrário do político anti-imigração Éric Zemmour. Do Reino Unido, estará o líder do partido Reform UK, Nigel Farage, defensor do ‘Brexit’ (processo da saída britânica da UE).

O reconhecido aliado de Trump na Europa, o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, não foi convidado, com a sua equipa a justificar que a futura administração dos Estados Unidos não convidou chefes de Estado ou de Governo estrangeiros.

À semelhança de vários países europeus e como é habitual nas cerimónias de inauguração norte-americanas, Portugal será representado ao nível do embaixador, Francisco Duarte Lopes.

Empresários e multimilionários também marcarão presença: o aliado de Trump Elon Musk, dono da rede social X, da Tesla e da SpaceX; o presidente da Meta, Mark Zuckerberg, e o fundador da Amazon, Jeff Bezos.

Biden exorta norte-americanos a manterem "a fé", na véspera da posse de Trump

Antecessores de Trump também estarão na cerimónia: Joe Biden, Barack Obama — que não estará acompanhado da mulher, Michelle -, Bill Clinton e George W. Bush.

O momento da posse está marcado para pouco antes das 12:00 locais (17:00 em Lisboa) no Capitólio, sede do poder legislativo, em Washington, estando previstos discursos do vice-presidente, J.D. Vance, e do Presidente, Donald Trump.

O Presidente norte-americano cessante, o democrata Joe Biden, exortou hoje os concidadãos a manterem "a fé", na véspera da tomada de posse do republicano Donald Trump como 47.º Presidente dos Estados Unidos.

Biden falava durante uma última visita enquanto chefe de Estado ao coração da comunidade negra da Carolina do Sul -- estado decisivo para a sua vitória presidencial em 2020 -, para homenagear o herói afro-norte-americano dos direitos civis, Martin Luther King Jr., assassinado em 04 de abril de 1968, uma vez que o feriado que lhe é dedicado nos Estados Unidos calha este ano na segunda-feira, dia da cerimónia de investidura de Trump.

Na sua última viagem oficial, Joe e Jill Biden passaram o dia na histórica cidade de Charleston, na Carolina do Sul, marcada pela escravatura e pela segregação racial e em 2015 por um massacre racista de paroquianos negros, cujo autor, um supremacista branco, foi condenado à morte.

"A fé ensina-nos que a América dos nossos sonhos está sempre mais perto do que pensamos"

O Presidente democrata, um católico fervoroso, deslocou-se à igreja protestante Royal Missionary Baptist Church para assistir a um serviço religioso.

"Sempre que passo algum tempo numa igreja negra, penso numa coisa: a palavra 'esperança'", disse Biden, apontando os seus dois modelos de há mais de meio século: o icónico Martin Luther King Jr. e o emblemático senador Bobby Kennedy, também assassinado em 1968.

"O meu pai costumava dizer que o maior pecado de todos é o abuso de poder", continuou Joe Biden, sem nunca mencionar o nome de Donald Trump.

Mas "a fé ensina-nos que a América dos nossos sonhos está sempre mais perto do que pensamos", defendeu Biden, 82 anos, num discurso bastante mais otimista que a sua muito sombria despedida ao país, na quarta-feira, quando denunciou que "está a formar-se uma oligarquia na América".

"Mantenhamos a fé em dias melhores", concluiu, sob os aplausos de pé dos fiéis que se encontravam na igreja.

A Carolina do Sul e a sua comunidade afro-americana foram decisivas para a vitória presidencial de Joe Biden: graças ao congressista Jim Clyburn, este Estado do sudeste dos Estados Unidos reforçou Biden nas primárias democratas de 2020 para a corrida à Casa Branca.

Joe Biden tinha inicialmente planeado visitar outra igreja protestante em Charleston, onde tinha declarado, em janeiro de 2024, que nunca teria sido eleito Presidente sem "a comunidade negra da Carolina do Sul", mas mudou de ideias e foi a esta, onde já tinha estado em 2015, enquanto vice-presidente de Barack Obama, numa cerimónia fúnebre após um massacre racista.

O caso Dylann Roof

A 17 de junho desse ano, o cidadão norte-americano Dylann Roof, na altura com 21 anos e a convicção de uma supremacia branca sobre as outras raças, que considerava inferiores, abriu fogo e disparou 77 vezes dentro da igreja, crivando de balas nove fiéis negros que tinham acabado de o acolher de braços abertos para uma sessão de estudo da Bíblia.

O incidente chocou ainda mais os Estados Unidos, porque a paróquia atingida é um local simbólico da luta contra a escravatura, reunindo a mais antiga comunidade negra de Charleston.

Dylann Roof foi condenado à morte no início de 2017, sentença confirmada pelo tribunal federal de recurso em agosto de 2021, no início do mandato presidencial de Biden (2021-2025).

Atualmente com 30 anos, ele não estava, até agora, em risco de execução, uma vez que o Governo Biden impôs em 2021 uma moratória sobre as execuções à escala federal.

Pouco antes do Natal, Joe Biden comutou as penas de morte de 37 criminosos condenados a nível federal, mas manteve as sentenças de Dylann Roof e Djokhar Tsarnaev, o bombista do atentado à Maratona de Boston de 2013.

E, este domingo, Biden concedeu os seus últimos perdões e comutações presidenciais: perdoou a título póstumo o jamaicano Marcus Garvey, ativista negro e figura central do movimento Rastafari. Garvey, que morreu em 1940, foi um precursor do pan-africanismo, defendendo o regresso dos descendentes de escravos negros a África.

Presidente do México promete defender cidadãos mexicanos nos Estados Unidos

A Presidente do México, Claudia Sheinbaum, prometeu defender os cidadãos do país que vivem nos Estados Unidos, na véspera do regresso à Casa Branca de Donald Trump, que planeia deportar imigrantes ilegais em grande escala.

"Neste novo período que chega amanhã [hoje] com o Presidente [norte-americano] Trump, em primeiro lugar, vamos defender os mexicanos que estão lá", declarou Sheinbaum, no domingo, num evento público no estado central de Puebla.

Sheinbaum referia-se, sem o mencionar, aos planos anunciados pelo próximo presidente norte-americano para deportar em grande escala os imigrantes indocumentados que vivem nos Estados Unidos, incluindo milhões de mexicanos.

A chefe de Estado sublinhou que o Governo contratou advogados para prestar apoio aos imigrantes necessitados através dos cerca de 50 consulados mexicanos nos Estados Unidos.

"E se decidirem regressar ao México (...), são bem-vindos, de braços abertos", acrescentou.

A Presidente lembrou que o seu antecessor e mentor, Andrés Manuel Lopez Obrador, se deu bem com Donald Trump durante o primeiro mandato do magnata norte-americano (2017-2021).

"É por isso que acho que chegaremos a um bom entendimento, que nos entenderemos", disse Sheinbaum. "Mas, em todo o caso, que isto fique bem claro, que isto seja ouvido por toda a parte: o México não é colónia de ninguém, não é protetorado de ninguém", exclamou.

Na cidade de Tijuana, na fronteira com os Estados Unidos, ativistas comunitários e migrantes manifestaram-se em frente ao muro que separa os dois países contra o plano de Donald Trump, gritando "nenhum ser humano é ilegal".