Ouça aqui a conversa com Isabel Rio Novo
“Ainda idealizamos a doente oncológica como a pessoa fofa, resignada, iluminada, que atravessa o cancro como uma experiência de revelação, de serenidade, de aprendizagem que leva para o resto da vida”, explica a autora, que na sua vivência desta doença não se reviu particularmente nesses estereótipos. “Neste livro eu quis construir uma personagem que não fosse isso, com a qual não fosse fácil de simpatizar. Uma personagem que desse voz às coisas que não dizemos porque são politicamente incorretas”. O resultado foi “Madalena”, onde reflete sobre a doença, a família, a memória e a identidade, tendo como ponto de partida o diagnóstico de cancro. Um livro que não é autobiográfico, embora também o seja.
“Quando temos de lidar com o cancro, lidamos, seja de maneira melhor ou pior. Não há escapatória, e esse é o primeiro grande impacto do diagnóstico: apetece fugir e não há para onde”, conta Isabel Rio Novo. Embora deixe claro que não é o cancro que a define, nesta conversa com Patrícia Reis e Paula Cosme Pinto, a escritora do Porto acedeu falar sobre da sua experiência pessoal enquanto mulher, doente oncológica e mãe de duas crianças. “Quando tens pessoas tão pequenas tão próximas de ti, é complicado. As minhas filhas viram o meu aspeto físico a mudar, o cabelo caía, estava pálida. Mas esforcei-me por desdramatizar o cancro, sem lhe retirar a seriedade”, conta a escritora, que cita Agustina Bessa-Luís, cuja biografia é também da sua autoria: “O humor salva-nos sempre. Já ela dizia que não nos devemos levar demasiado a sério”.
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