Uma escola no campo de refugiados de Kakuma, no Quénia, uma estrutura do tamanho de um quarto alimentada por painéis solares dentro da qual alunos, orientados por um mentor, socorrem-se de computadores e internet para desenvolver as suas aptidões e paixões, um projeto educacional para raparigas afegãs – HerRight Project –, que presta educação que é negada em muitas zonas do Afeganistão e testemunhos de um português e uma moçambicana serviram de inspiração na apresentação da Brave Future ONG, organização sem fins lucrativos dedicada à Educação.
Tim Vieira, fundador da Brave Generation Academy e Marcela Nacif, co-fundadora, foram os cicerones da apresentação da ONG e do trabalho de casa feito pela BGA.
“O mundo mudou, mas o modelo de ensino permanece estático”, sintetizou Tim Vieira, empreendedor e fundador da BGA, projeto híbrido educacional que oferece uma alternativa na educação e rasga com os vigentes modelos tradicionais.
“Temos crianças fantásticas que eram más na escola e percebemos que o sistema, que não muda, era o problema e não as crianças”, continuou o candidato à presidência da República que convidou o seu “político favorito”, Carlos Moedas, presidente da câmara municipal de Lisboa para o evento no BPI All in One Lisboa, Saldanha.
Presente em Portugal (38 hubs) e no mundo (61), a BGA quer “transfigurar” a educação. “Começámos a ver o impacto nas crianças que queriam ser muito académicas, pouco académicas ou seguir desporto, por exemplo”, referiu ao SAPO24 à margem do evento. “Se percebemos que as crianças demonstram uma clara apetência ou paixão por algo, é nosso dever ajudá-las a desenvolver esses skills para seguirem o que gostam, sem esquecer de mostrar-lhes outros conhecimentos”, adiantou.
O modelo coloca o aluno no centro e valoriza-se as vocações e os ritmos de cada qual. “Cada criança é diferente, podemos encurtar ou alargar o tempo de aprendizagem. Muitos pais pensam que o problema é os filhos, mas não, não é. É do sistema”, relembrou.
“Libertamos o professor de muitas tarefas e fica com mais tempo para o aluno, que é o que querem. É uma situação win-win (todos ganham)”, descreveu o fundador da BGA.
Tim Vieira assume que o modelo criado em 2019 na sua garagem, em Cascais, “já não é um piloto”, é uma realidade que impacta em “1200 crianças, 350 das quais usufruem de bolsa”, destacou. “As crianças que passaram por nós estão em Stanville, Berkeley, sítios que nunca pensavam ser aceites. Mudámos as suas vidas e a vida da comunidade onde se inseriam”, constatou.
“Quando as coisas estão erradas temos de agir, necessitamos de um movimento. O futuro dos filhos e netos depende de nós e se não mudarmos nada, nada acontece. A Brave Future é para ver se temos mais gente a trabalhar connosco com esta visão de querer fazer a diferença”, rematou.
“É mudar o sistema de ensino e torná-lo mais abrangente. É dizer a quem se sente rejeitado que aqui não é”
“Comecei há três anos por influência do meu primo Luís que me falou desta escola. Deu-me o poder de seguir aquilo que queria ser, de estudar aquilo que queria estudar e que nunca tinha tido oportunidade”, testemunhou João, 14 anos, aluno da BGA.
Kaley, de Moçambique, recordou “o encontro de cinco minutos com o Tim após ter sido rejeitada em quatro escolas tradicionais. Disse-me que aceitavam todos os que eram rejeitados”, sorriu. “A BGA ajudou-me academicamente e a respeitar-me a mim mesma. Somos bem-vindas por ser diferentes”, assumiu perante a plateia.
Ao SAPO24, Marcela Nacif, responsável académica da Brave Generation Academy, reforçou as palavras do Business Angel e conhecido “Tubarão” candidato a Belém. “A Educação necessita de mudar, todos sabemos, mas ninguém muda”, lamenta.
Pegou no exemplo do campo de refugiados. “Em vez de professores temos um computador. Imaginem o poder que um computador pode ter para mudar a vida de uma criança. Pode estar nos confins do mundo e só necessita das ferramentas para aprender e trilhar o seu caminho. Damos as ferramentas e oportunidades”, anotou.
A inclusão e a adaptação às necessidades do século XXI são as traves-mestras da BGA, projeto internacional para alunos dos 12 aos 18 anos. “É mudar o sistema de ensino e torná-lo mais abrangente. É dizer a quem se sente rejeitado que aqui não é, é ver o que podemos fazer de diferente, as crianças só necessitam de oportunidades e temos esta plataforma para que estudem. Vamos sair da caixa e tentar que resulte”, finalizou.
“Os políticos dizem querer mudar, mas não querem e a Educação nunca mudou”
Carlos Moedas, enalteceu a “coragem” de Tim Vieira, da BGA e da Brave Future ao “atuar num campo em que ninguém quer mudar. Os políticos dizem querer mudar, mas não querem e a Educação nunca mudou”, começou por dizer o atual presidente da câmara municipal de Lisboa num discurso encurtado a 10 minutos devido a compromissos camarários.
“Os meus filhos aprendem o mesmo que eu aprendi nos anos 70”, constatou. “A mudança vai acontecer porque o mundo físico está a ser invadido pelo mundo digital e necessitamos de ideias e pessoas com coragem para mudar de alto a baixo”, sublinhou Moedas, antigo comissário europeu da Investigação, Ciência e Inovação.
“O que mudou, o que teremos de fazer e o que os políticos podem aprender com o que fizeste (referindo-se a Tim Vieira)”, questionou.
Carlos Moedas partilhou publicamente o pensamento que casa com o da BGA e do seu fundador. “Durante anos o centro era o professor e poucos tiveram a coragem de dizer que tudo devia ser sobre o aluno. Os atores são os alunos”, exclamou.
“A chave é a inovação na educação”, alertou. “Os ingredientes são a criatividade e a criatividade cria emprego. Criamos algo de novo, e esse algo novo é a inovação. E esta vem da intersecção de diferentes disciplinas e temos de estar na intersecção do conhecimento”, rematou. “E não podemos aprender sem ter a paixão”, concluiu o edil de Lisboa, Carlos Moedas.
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