Só este ano, chegaram à União Europeia cerca de 350 mil migrantes. Fugiram da guerra e da morte iminente, arriscaram a vida e agora, a maioria, continua presa em campos de refugiados como o de Kara Tepe ou de Eleonas, onde Sofia Soares e Mariana Branco desenvolvem as suas atividades de voluntárias da PAR –Plataforma de Apoio aos Refugiados na Grécia.
Sofia Soares está em Atenas desde novembro e vários dias por semana são passados em Eleonas, que é apontado como um dos melhores campos de refugiados da Grécia e onde vivem atualmente cerca de 700 pessoas.
A coordenadora da missão em Atenas explica que “as condições em Eleonas são relativamente boas” por comparação com outros campos de refugiados.
Enquanto a maioria vive em tendas com a promessa de, em breve, conseguir recomeçar a sua vida num outro país. Em Eleonas, as famílias tiveram a sorte de serem colocadas em contentores, também com a promessa de ser uma situação provisória.
Infelizmente, a situação parece eternizar-se tanto para os que vivem em tendas como em contentores.
Esta é a primeira vez que Sofia está em Atenas, mas não foi ali que se estreou como voluntária destes projetos. No verão passado, esteve no sul de Itália, onde contactou essencialmente com pessoas oriundas de África.
Além do centro de acolhimento, a equipa da PAR também dá apoio ao centro de acolhimento do Serviço Jesuíta aos Refugiados (JRS), onde vivem cerca de 40 pessoas. Sofia diz já ter criado uma relação de proximidade com as famílias sírias, afegãs e paquistanesas e, por isso, vive de perto os dramas que quem se sente preso e impedido de recomeçar uma nova vida.
Há famílias que chegaram em janeiro de 2016 e continuam no centro de acolhimento, contou Sofia Soares, explicando que “o mais difícil é assistir ao desespero em que estas pessoas vivem por não saberem o que lhes vai acontecer”.
Entretanto, em Lesbos está Mariana Branco, que assiste diariamente a histórias semelhantes. Lesbos deixou de ser um lugar de registo e de trânsito de refugiados para ser um lugar de espera pelo processo de requerimento de asilo.
Mariana Branco chegou a Lesbos há cerca de um mês e, juntamente com outras três portuguesas, passa a maior parte do tempo com os jovens da Aldeia de Refugiados de Kara Tepe.
“Kara Tepe é considerado o paraíso das aldeias de Refugiados. Aqui vivem cerca de mil pessoas em tendas de lona grossa, com aquecimento, com cobertores elétricos e com distribuição de três refeições diárias”, conta Mariana Branco, explicando que, mesmo ao lado, no centro de refugiados de Moria, vivem cerca de cinco mil pessoas em tendas sem condições.
As temperaturas de quatro graus negativos à noite, o frio, os ventos fortes, a escassez de comida, a ansiedade e desespero são alguns dos ingredientes que agravam a vida que quem vive sem saber o dia de amanhã.
“Vivem numa espera infinita, sem saber o que lhes vai acontecer. Eles só pedem que lhes digam se vai demorar um ano ou dez” a resolver a sua situação e a abandonar as tendas que lhes foram entregues com a promessa de ser uma situação provisória, sublinha Mariana Branco.
Consciente das dificuldades que vivem estas pessoas, Mariana e Sofia não tiveram dúvidas no momento em que decidiram trocar a noite de natal em Portugal, junto das suas famílias, com estas novas famílias.
As voluntárias da PAR vão juntar-se na noite de natal na Aldeia de Kara Tepe, onde as crianças decidiram oferecer um presente a todos os moradores: “Vão colocar frases positivas em todas as tendas a dizer “Este Natal estamos todos juntos e somos uma grande família””, contou à Lusa Mariana Branco.
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