Nada fazia prever que o dia 4 de abril de 2018 não fosse mais um dia normal de inverno escandinavo, mas a meio da manhã um homem croata de 50 anos entrou na Embaixada de Portugal em Estocolmo decidido a que nenhum dos funcionários presentes se esquecesse daquele dia de trabalho.
Depois de uma discussão exaltada com dois técnicos da embaixada, pois insistia em relatar um crime em Portugal, o homem retirou da mochila três garrafas contendo gasolina, entornou-as e lançou-lhes fogo. Fugiu logo de seguida, ainda com uma garrafa na mochila. O incêndio espalhou-se e cresceu exponencialmente em segundos, deixando no seu rasto as salas da embaixada completamente irreconhecíveis.
Verificou-se depois que o líquido usado era gasolina, comprado dois dias antes. O ataque não causou mortos nem feridos, mas assinalaram-se relatos de stress pós-traumático - uma vizinha da embaixada contou à polícia sentir ansiedade, problemas em dormir e um estado de espírito cada vez pior na sequência do incêndio.
O que terá levado um croata de 50 anos, que viveu em Portugal há dois anos, num ato tresloucado a atacar a embaixada portuguesa em Estocolmo, na Suécia?
No julgamento, em julho de 2018, em Estocolmo, concluiu-se que pretendia usar o crime como um alerta, porque estava convencido que existia em Portugal uma rede de tráfico de crianças e que as autoridades teriam negligenciado as suas denúncias. Foi considerado culpado pelo crime de incêndio criminoso agravado e condenado a 8 anos de prisão, mas dado que sofria de graves perturbações psiquiátricas, cumpriu pena num hospital psiquiátrico sueco com alta médica condicionada à aprovação do tribunal. No entanto, após apenas quatro meses, o criminoso foi libertado no dia 9 de outubro de 2018, desconhecendo-se o seu paradeiro atual.
O crime
O dia 4 de abril de 2018 começou com uma manhã invernosa em Estocolmo, a capital da Suécia. O frio ainda se fazia sentir e estava tudo encharcado - tinha estado a chover, ou talvez tivesse caído durante a noite o que por lá se chama “neve molhada”. Na Embaixada de Portugal era apenas mais uma quarta-feira normal de trabalho. Não havia marcações e os funcionários estavam nas suas secretárias, a trabalhar. A Embaixada de Portugal partilhava o edifício com 90 pessoas, divididas entre casas, empresas, restaurantes e ainda as Embaixadas da Argentina e da Tunísia.
Naquela manhã vulgar foi Dalila Söderberg, técnica superior da embaixada, quem abriu a porta quando uma visita inesperada tocou à campainha do número 30 da rua Narvavägen. Apesar de não ser habitual alguém visitar as instalações sem agendamento, a porta é sempre aberta: “nunca se sabe se é algum português à deriva no mundo a necessitar de ajuda”, explica a funcionária. “É um serviço ao público e as pessoas não podem ser deixadas na rua, têm de ser atendidas".
A pessoa falou em inglês pelo intercomunicador - “o facto de a pessoa falar inglês não significa que não seja português” - e Dalila acabou por abrir a porta da rua. Quando o indivíduo em questão chegou ao segundo andar do edifício, entrou no gabinete de atendimento da secção consular e Dalila viu-se cara a cara com “um homem enorme, à volta dos 170 quilos, com aspeto desleixado e um rabo de cavalo”. Nas imagens de videovigilância vê-se ainda um outro pormenor marcante - uma farta barba branca.
Num inglês com sotaque espanhol, o homem “pediu de uma maneira estranha, não posso dizer agressiva, mas logo com muita insistência, para ser atendido no consulado". Ora, na embaixada em Estocolmo não existe um cônsul, apenas uma secção consular com um diplomata encarregue da mesma. Instintivamente Dalila pressentiu que algo não estava bem.
O homem repetia “que precisava de ajuda, que precisava de ajuda, que precisava de ajuda”, enquanto insistia que queria falar com o cônsul. Não respondia às perguntas de Dalila, até que finalmente decidiu explicar o motivo pelo qual se havia dirigido à embaixada: “Pretendia denunciar uma rede de tráfico de menores em Portugal e considerava que teríamos de atuar". Apercebendo-se de que o homem sofreria de algum distúrbio, a técnica recomendou-lhe que elaborasse um relatório e que o enviasse por e-mail; a partir daí, a embaixada encaminhá-lo-ia para as autoridades em Portugal, uma vez que um problema dessa magnitude seria impossível resolver a partir de Estocolmo. Foi aqui que o tom da conversa mudou.
O homem ficou exaltado. “Desatou a acusar a embaixada. Disse que pertencíamos todos à mesma rede, que estávamos todos ‘feitos’ com a polícia, que só queremos ‘money, money, money, money, the only thing is money’” [“dinheiro, dinheiro, dinheiro, dinheiro, a única coisa é dinheiro”]. Começou então a dar a volta à secretária onde estava a Dalila, caminhando na sua direção e também na direção da porta dá acesso à embaixada propriamente dita.
Dalila vê este enorme homem de 170 quilos a caminhar na sua direção e tenta detê-lo. Abre os braços e grita "you stop right there, you hear me?” [“pare já aí, ouviu-me?”]. Por esta altura, o homem estava já muito perto da técnica, mas parou a cerca de três metros de distância. Dalila grita pelo colega Nuno. O seu pensamento imediato foi "o homem vem para cima de mim, vai-me agredir”.
Nuno Bandeira, assistente técnico da embaixada, correu na direção do chamamento - “nunca tinha ouvido a Dalila gritar por mim daquela forma”. Dalila saiu da sala e recolheu-se no seu gabinete, voltando ao trabalho na sua secretária, de onde apenas via o seu colega. Nuno tentou acalmar o homem, explicando-lhe novamente que a melhor maneira de reportar o assunto seria por escrito, mas a explicação caia em ouvidos moucos. Apercebendo-se de que não conseguia demover o homem da insistência em reunir com o cônsul, o funcionário da embaixada voltou ao seu gabinete e fez uma chamada para tentar perceber se o encarregado da secção consular poderia recebê-lo. A resposta foi animadora: Pedro Carmona viria assim que terminasse uma reunião. Quando terminou o telefonema, Nuno virou-se para a sua colega Dalila e disse: "Eu acho que isto é um caso para se chamar a polícia diplomática”.
O visitante exaltado ficara sozinho, a aguardar no hall da embaixada. Quando Nuno Bandeira regressou para lhe dar as boas novas não é recebido com júbilo, irritação ou desdém, mas apenas com uma pergunta: “Have you ever heard a little girl being raped and murdered?” ["Alguma vez ouviu uma menina a ser violada e assassinada?”]. Foi então que Nuno chegou à mesma conclusão de Dalila, de que estaria perante uma pessoa não só “agressiva e insatisfeita”, mas “realmente muito perturbada”.
A recordação de Nuno é que terá respondido "fortunately not” [“felizmente não”]. Não obstante, nos interrogatórios e em tribunal a versão do homem é de que o funcionário se terá rido. ”Quer dizer, eu ri-me mas não foi a gozar com ele. Foi de surpresa e de ‘o que é que se está a passar?’” Nuno tentou continuar a conversa, de forma a criar empatia e acalmar a pessoa. No meio do discurso confuso em que misturava inglês, espanhol e algumas palavras portuguesas, a única informação que conseguiu obter foi a de que o homem era originalmente da Croácia. Como persistia em ignorar todas as outras perguntas que lhe dirigia, Nuno desistiu de manter a conversa e pediu-lhe para esperar que o encarregado da secção consular terminasse a sua reunião.
Nuno juntou-se a Dalila, cada um na sua respetiva secretária, e ficaram "à espera do Doutor Pedro Carmona". “É difícil dizer, mas penso que passaram uns cinco minutos quando ouvi uns gritos horrorosos, como se fosse uma pessoa que está a ser esfaqueada” - esta foi a imagem que veio imediatamente à cabeça de Dalila. “Pensei muitas vezes que, de um momento para outro, entraria ali alguém com uma arma branca…nunca me lembrei que pudesse entrar para incendiar o local”.
Quando alguém gritou que estava tudo a arder, a suposição de Nuno Bandeiras foi que o homem se tivesse imolado pelo fogo. O relato é de uma situação caótica: “Ouvimos a minha colega Anabela a gritar "fogo, fogo", em pânico total, a correr em direção à porta.” O homem tinha-se esgueirado por uma porta entreaberta que dava acesso a uma sala onde estava uma funcionária da AICEP, despejou três garrafas de gasolina e ateou-lhes fogo, ainda com a senhora na entrada do consulado. Uma colega apercebeu-se imediatamente que a situação era grave e ligou logo para os bombeiros. Eram 11:55 quando os serviços de emergência receberam a chamada.
O depois
Toda esta interação aqui detalhada foi, na verdade, curta. O croata é captado nas câmaras de segurança a entrar na porta da secção consular da embaixada às 11:26 e é visto a sair às 11:51. Exatamente 12 segundos depois vê-se nas imagens chamas e fumo a sair pelas frinchas da porta.
Nuno Bandeira foi a correr à procura de um extintor mas, com o stress, nem deu por ele. “Quando regressámos, já depois de estar tudo ardido, o extintor estava no sítio onde era suposto estar, eu apenas não o vi”. Ainda conseguiu entrar no seu gabinete para pegar nos seus pertences, mas quando Dalila tentou fazer o mesmo, para tentar tirar a mala ou, pelo menos, a carteira e o telemóvel, Nuno impediu-a - “Realmente quando eu dei dois passos dentro da sala, já não via a secretária e pensei, ‘não vou avançar, isto pode explodir tudo’”. Todos os funcionários saíram do edifício. Ainda estavam a descer as escadas quando os bombeiros chegaram. “Demoraram quatro minutos ou algo do género a chegar, foram muito rápidos.”, recorda Nuno Bandeira.
A polícia chegou ao local juntamente com os bombeiros, tendo procedido à recolha de depoimentos dos funcionários da embaixada, para conseguir uma descrição do suspeito. Estava iniciada uma caça ao homem. Os meios de comunicação social divulgaram amplamente a operação de busca e, pelas 14:00, já tinha dado frutos: um guarda de vigilância do edifício Waterfront, localizado no centro de Estocolmo, havia informado as autoridades de que se encontrava no local um indivíduo que correspondia à descrição do suspeito.
Seis minutos depois do alerta, a polícia chegou ao dito edifício, onde procedeu imediatamente à detenção do suspeito, que não ofereceu qualquer resistência. Informou de imediato chamar-se Boris e esclareceu que não sabia falar sueco. As autoridades descobriram que tinha na sua posse um gorro, um mapa da cidade de Estocolmo e uma mochila que continha molhos de fósforos e um isqueiro.
No dia seguinte, já com o incêndio extinto e após autorização do Embaixador Henrique Silveira Borges, a polícia interditou as instalações da chancelaria, onde iniciou uma perícia técnica com a ajuda de cães-pisteiros. O relatório técnico veio confirmar os testemunhos dos funcionários: que o incêndio fora ateado na sala de espera da secção consular e na entrada do escritório de uma das funcionárias da AICEP. Tanto as buscas dos cães-pisteiros como as análises realizadas pelo Centro Sueco de Investigação Forense revelaram a presença de líquido inflamável no local, ainda que sem um elevado grau de certeza sobre a origem das substâncias, já que a gasolina é um líquido altamente volátil consumido com muita rapidez quando inflamado.
Para o Embaixador português, Chefe de Missão em Estocolmo, tratou-se inequivocamente de um atentado - “Eu insisto em chamar-lhe atentado. Não é um incêndio - uma vez que o incêndio é a consequência - e não se trata de um atentado terrorista porque não foram descobertas quaisquer ligações a uma rede. É o que a polícia chama um ‘lone perpetrator’, um autor isolado do atentado". A sentença do tribunal é explícita: é um ato criminoso, um fogo posto. O embaixador Henrique Silveira Borges defende a designação de atentado por considerar que se tratou de um ato premeditado: “Cerca de um mês antes ele tinha-se deslocado à Suécia. Desembarcou no aeroporto de Skavsta, um dos três aeroportos que servem a capital, que fica a cerca de 100km de Estocolmo e fez um primeiro reconhecimento da situação. Não há qualquer dúvida que foi um ato premeditado e deliberado e estou a basear-me naquilo que está no relatório policial e naquilo que veio a público do julgamento. É realmente um atentado, um ato criminoso premeditado e deliberado.”
A embaixada ficou impraticável durante meses, tendo as novas instalações só ficado prontas em março de 2019. O incêndio foi de tal monta que tudo deixou de funcionar, desde os telefones, computadores, fotocopiadora, faxes e alarmes até objetos mais prosaicos como secretárias e cadeiras. “Os estragos foram totais. A embaixada ficou quase completamente destruída”, relembra o embaixador. "Equipamentos, documentação em papel (ainda que muita da documentação esteja online e nós conseguimos recuperar o servidor que serve as comunicações codificadas), todas as instalações estão destruídas ou não estão em condições de não ser recuperados.”
Para o embaixador, o que valeu, para além da rapidez dos serviços de emergência, foi o “espírito de equipa dos funcionários em serviço” na embaixada em Estocolmo, que conseguiram “repor o funcionamento das comunicações codificadas da embaixada, que hoje em dia é o mais importante, em 48 horas e isso foi fundamental."
A investigação
Enquanto na embaixada se ia tentando refazer a vida, a interrogação permanecia. Quem seria aquele homem e o que teria acontecido para que a situação escalasse desta forma? Numa síntese da investigação traduzida por uma funcionária da embaixada fica-se a saber o que a polícia sueca conseguiu apurar sobre Boris Glesc: é um cidadão de nacionalidade croata mas nascido em Urach, na Alemanha, em março de 1968. Tinha, portanto, 50 anos na altura do ataque.
Três dias antes de cometer o crime, a 1 de abril de 2018, Boris chegou a Estocolmo, num voo tardio da Ryanair vindo de Podgorica, no Montenegro. Viajou sozinho e nunca adquiriu um bilhete de regresso.
Durante dois dias, desde o momento em que saiu do aeroporto, não foi possível apurar qual o paradeiro concreto do croata. A polícia descobriu apenas que no dia 2 de abril Boris Glesc entrou no hotel Sheraton para pedir se lhe indicavam o caminho até à Embaixada de Portugal: um funcionário do hotel delineou o trajecto entre os dois locais no mapa depois encontrado na mochila do croata. Ainda a 2 de abril, dois antes do ataque, Boris Glesc dirigiu-se também a uma estação de serviço para comprar gasolina. Pelas 19 horas, o croata tentou comprar combustível pela primeira vez mas, à falta de recipiente adequado, a compra foi-lhe recusada. Regressou ao local mais tarde nessa mesma noite e conseguiu comprar 100 coroas suecas em combustível, aproximadamente 10 euros, o que equivale a 6,34 litros de gasolina 98 octanas.
Só após a investigação da polícia é que se encontrou uma outra pista geográfica e temporal: o check-in, a 3 de abril, no Hostel Bed & Breakfast, onde as câmaras de vigilância mostram o croata a trocar algumas palavras com vários hóspedes na sala de convívio, mas a conversa parece ficar por aí. A polícia concluiu inclusivamente que Boris Glesc não contactou ninguém aquando a sua chegada ao país. Portanto, sem contar com este “avistamento” no hostel, não se conhece o paradeiro de Boris Glesc entre a compra da gasolina, na noite de 2 de abril, e a entrada na Embaixada de Portugal, no dia 4 de abril pelas 11:26.
Depois de sair do local do crime o croata é avistado pelas câmaras de vigilância da agência do banco SEB, na esquina da rua onde se encontra a embaixada: vislumbra-se a imagem do suspeito sozinho e de mochila às costas. Mais tarde, pelas 12:30, a video-vigilância do edifício Waterfront, perto da estação central de comboios, capta Boris Glesc a entrar no edifício, local onde acaba por ser detido pela polícia. No depoimento que depois prestou, o croata disse ter apanhado um táxi nas redondezas da embaixada até às imediações do edifício Waterfront, mas a polícia não conseguiu apurar esta informação junto das maiores empresas de táxi a operar em Estocolmo.
Já dentro do edifício Waterfront, Boris Glesc aborda o rececionista por duas vezes. Primeiro perguntou pelo caminho para a esquadra da polícia mais próxima. Saiu do edifício e voltou a entrar, tendo depois pedido para que ligassem para o 112, dizendo que se estava a sentir mal. Glesc falou, ele próprio, com o técnico do 112, mas não foi enviada uma ambulância por a sua situação não ser considerada uma emergência. A polícia chegou ao local pelas 14:06, após um dos seguranças do edifício ter ligado para as autoridades a comunicar que na recepção estaria um homem correspondente à descrição comunicada.
“A polícia apreendeu alguns dos pertences que Glesc tinha consigo na altura da detenção”, lê-se na síntese da investigação da polícia sueca, “nomeadamente algumas faturas e documentos de viagem, bem como registos médicos e um mapa da cidade de Estocolmo. Foram também analisados várias pen-USB e cartões de memória encontradas na mochila que Glesc transportava, não tendo sido encontrada qualquer informação relevante para a investigação”. Da mesma forma, as buscas feitas ao quarto onde Glesc ficou hospedado e ao computador do hostel não resultaram em nenhuma apreensão - talvez o mais surpreendente tenha sido o facto de a polícia não ter encontrado entre os pertences do criminoso nenhum telemóvel ou qualquer outro aparelho de comunicação. O croata foi também posteriormente examinado por um médico, não tendo sido identificadas nenhumas queimaduras, e os exames de sangue e urina não revelaram a presença de álcool ou de estupefacientes.
A partir de informações facultadas pelo próprio criminoso e através de pistas encontradas entre os seus pertences, a polícia sueca tentou obter informação sobre Boris Glesc. Foram contactados países desde a Macedónia até ao Uruguai, mas nenhum encontrou qualquer registo sobre o croata; oficialmente, Boris Glesc nunca havia sido suspeito ou culpado de qualquer crime nos vinte países que a investigação sueca contactou através da Interpol e da Europol.
Da vida itinerante de Boris Glesc, o relatório policial apenas destacou a Croácia e Portugal. Segundo a Polícia croata, Boris Glesc nasceu em Urach, na Alemanha e é lá que vive a sua família: a mãe, o pai e a irmã. No entanto, Glesc é um cidadão croata, com passaporte válido, que viveu em Ozalj, uma pequena cidade no centro da Croácia com cerca de 6 mil habitantes. A polícia deu ainda conta de que Glesc “se terá mudado temporariamente, no dia 1 de outubro de 2014, para Envigado, na Colômbia”. No segundo interrogatório com a polícia sueca, Boris conta que viveu na Colômbia, na Argentina e no México, o que justifica o relato dos funcionários de que Glesc se havia expressado numa mistura de inglês e espanhol, embora reiterasse que o seu principal local de residência era a Croácia.
Para além da passagem pela Colômbia em 2014, a polícia croata tinha também o registo de uma chamada de Glesc para a polícia de Ozalj a partir de um número alemão mas dizendo estar em França - isto a 6 fevereiro de 2018, praticamente dois meses antes do ataque à Embaixada de Portugal em Estocolmo.
O outro país onde Boris Glesc viveu foi precisamente Portugal, onde residiu entre 2016 e 2017. É aqui que se começam a ligar os pontos, pois Boris Glesc surge referenciado como “outro” na queixa NUIPC 000289/17.6T9PNI apresentada à Polícia Judiciária sobre prostituição infantil em Peniche.
No primeiro interrogatório da polícia sueca, iniciado às 18:21, logo no dia do atentado, o croata começa por confessar o crime. Acrescentou que não o podia negar uma vez que havia testemunhas no local e, quando questionado sobre o porquê de estar na embaixada, Glesc conta que tudo se deve a uma história com cerca de um ano, sobre uma menina raptada e cujos contornos explorou num website de sua autoria.
“Eu escrevo sobre as pessoas, a vila, o tráfico humano e a escravatura sexual em Portugal”
É nesse site artesanal (com direito a um cursor com brilhantes e neve virtual) que Boris Glesc dá conta que viveu em Peniche, onde alugou um apartamento de janeiro de 2016 a abril de 2017. Aí relata que terá assistido, durante esta estadia, a episódios de “tráfico de seres humanos” e “escravatura sexual” (“I write about the people, the town, human traficking [sic] and sex slavery in Portugal and the portuguese Police”). Numa atualização em dezembro de 2017, o croata, que pagava 350 euros de renda por um apartamento renovado em Peniche, começa por tecer teorias para justificar o que ele achava ser uma renda demasiado baixa - “the owners construct every one or two years a new appartment [sic] and from where comes so many [sic] money?” (“os donos constroem um novo apartamento a cada um ou dois anos e de onde vem tanto dinheiro?”). No seu site, Glesc especula que o dinheiro dos senhorios poderia advir de lavagem de dinheiro ou até de tráfico de droga, mas nunca de tráfico humano, uma vez que os proprietários tinham duas filhas (“I mean they make moneylaundering or drugtrafficking or something like that but never involved in humantraficking the reason was that they have 2 daughters”).
Num inglês muito imperfeito e numa lógica confusa, Boris Glesc tece uma longa teoria sobre eventos que começaram a 5 de dezembro de 2016 e que levaram a que, segundo ele, perdesse o direito ao apartamento, a um mês de renda e a ter “muitos problemas com a polícia portuguesa, que destrói fotografias tiradas por detetives privados”. Depois de alegadamente ninguém o ter ouvido ou acreditado nele, este website é a sua última defesa, e avisa “atenção, seus filhos não estão seguros em Peniche, cuidados com essas pessoas”. Os textos do website revelam o que se pode descrever como uma obsessão: a sua “teoria” assenta na suposição de que os donos do apartamento que alugava e de um café em Peniche controlariam uma rede de tráfico humano juntamente com um dos clientes do café, um suposto violador anteriormente condenado. No site divulga publicamente fotografias, moradas e nomes das pessoas que Glesc acredita fazerem parte desse esquema criminoso.
No primeiro interrogatório conduzido pela polícia sueca, Boris confirma o teor das acusações que reproduz no website, adiantando que contactou a Polícia Judiciária e até a Embaixada dos Estados Unidos da América em Lisboa, alertando-os sobre a sua denúncia. Entre os pertences apreendidos depois de cometer o crime, a polícia sueca encontrou um cartão de visita do Adido para Assuntos de Segurança da Embaixada dos EUA, Davis R. Wallentine.
Nesse mesmo interrogatório Glesc dá a entender que desconfia da polícia portuguesa: depois de a PJ ouvir a sua queixa e aparentemente ter ficado “do seu lado”, afirma que mais tarde lhe perguntaram: “que filme é que andaste a ver?”. O croata acrescentou ainda que teria contratado detetives privados para investigar a sua suspeita, dado crer que a polícia portuguesa teria destruído as suas provas.
O SAPO24 contactou a proprietária dos apartamentos, cujo nome e fotografia figuram no website de Glesc, que não se quis alongar sobre o assunto, deixando claro que o quereria deixar para trás: “Eu colaborei com a Polícia, porque aquilo que ele dizia estava a pôr em mim a culpa, e na altura a própria Judiciária limpou o meu nome e o do meu marido. Ele está preso, o assunto encerrado e eu não tenho nada a ver com isto.” Efetivamente, a queixa de Glesc contra os donos dos apartamentos foi arquivada pela polícia, que concluiu a prova “inconclusiva”.
Os interrogatórios
Se o problema de Boris Glesc era com a polícia portuguesa, porquê desferir um golpe num país longínquo como a Suécia e sem aparentes ligações a Portugal?
Em três dos quatro interrogatórios, o croata não esconde a sua frustração com a justiça portuguesa, proferindo frases como “são os portugueses que decidem como é que isto continua. Pela minha parte o assunto ainda não está encerrado". Quando questionado sobre o motivo de viajar até à Suécia explicou que o seu objetivo era visitar a Embaixada de Portugal para resolver “questões”, acrescentando que não foi até Portugal porque lá “não pode travar a sua luta”, já que “o país é corrupto”.
Em contrapartida, Glesc justifica a viagem até à Suécia por se tratar de “um país no qual confio no que diz respeito aos problemas que tenho há cerca de um ano” e, num segundo interrogatório, acrescenta que “a Suécia é um país que respeita as leis e os Direitos Humanos”.
No terceiro interrogatório, a polícia sueca volta à carga e pergunta se, tal como havia sugerido anteriormente, Boris incendiou a embaixada por considerar que Portugal não havia dado importância à sua queixa sobre uma alegada situação de tráfico de menores. Glesc responde: “eles não fizeram nada, não mostraram interesse, tendo sido voluntários e detetives privados que se empenharam na questão”, sem deixar de acrescentar que acreditava que a polícia portuguesa tinha apagado provas fotográficas que ele teria apresentado, reiterando a suspeita que já havia exposto na sua página de Internet.
Ao longo do relatório há frases que saltam à vista, respostas que Boris faculta às autoridades de maneira algo críptica: no primeiro interrogatório, quando questionado sobre se o incêndio havia sido premeditado, o croata responde “tudo é planeado, desde que acordamos de manhã e fazemos café, portanto foi planeado”. No entanto, ao longo dos interrogatórios, Glesc diz não saber se tinha o plano prévio de incendiar a embaixada. Uma outra resposta que evidencia um sentimento de perseguição surge no decurso do segundo interrogatório: o relatório explica que Glesc terá contactado a polícia portuguesa, pela primeira vez, em março ou abril de 2017, mas que “depois disso sentiu-se forçado a abandonar o país porque se apercebeu que ‘existia uma organização envolvida no problema". E quando foi questionado sobre se estava consciente de que poderia causar elevados danos no edifício, Glesc disse que não pensou nisso, mas que ‘não se pode comparar os danos num prédio com uma criança violada’”, descartando por completo as mais de 90 pessoas que estavam naquela área densamente habitada na altura do atentado.
Facilmente se concluiu que Glesc era o autor do atentado - tanto mais que havia confessado o crime logo no primeiro interrogatório. Chegar à conclusão se teria sido premeditado é que já se revelou um caminho mais sinuoso. “Interrogado sobre se já tinha planeado provocar um incêndio na embaixada antes de viajar para a Suécia, disse não saber se tinha esse plano”, diz-nos o sumário do relatório da polícia sueca. No entanto, sabe-se que Glesc comprou gasolina dois dias antes, que no dia 4 de abril entrou na embaixada munido de quatro garrafas de 1,5L de líquido inflamável, que despejou três delas e ateou um fogo com fósforos que trazia consigo, factos que o próprio admitiu em interrogatório.
As fotografias revelam uma total destruição do local, mas segundo Boris Glesc era difícil prever o resultado do incêndio - “nunca se sabe qual vai ser o efeito”, mas “o assunto para o qual tentou chamar a atenção de Portugal já não pode ser ignorado.” O paradoxo está nesta combinação entre uma aparente premeditação (com a compra de gasolina e o facto de ter levado fósforos consigo), um comportamento mais volátil (“Glesc disse que o pessoal da embaixada ‘se riu’ quando ele perguntou se já tinham visto uma menina a ser violada”, diz-nos o relatório da polícia, e que “nesse momento ‘explodiu’ e que ‘qualquer pessoa reagiria da mesma forma.’”) e alguma incapacidade de prever as consequências das suas acções (“Questionado sobre se estava consciente de que os seus atos poderiam causar a morte de outras pessoas, Boris Glesc não quis comentar, mas acabou por dizer que tem consciência de que poderia causar danos à integridade física de outras pessoas”).
A embaixada ficou irreconhecível e inabitável. No entanto, o intuito de Glesc seria atear um pequeno incêndio - o croata levou quatro garrafas mas despejou apenas três, por considerar serem “suficientes”, pois “teve receio de que o fogo fosse demasiado grande e que não era essa a sua intenção”. Acrescentou ainda que a sua intenção “era causar pequenos estragos” que na sua ótica seriam “talvez queimar o sofá e o tapete”. Quando confrontado com fotografias dos estragos materiais resultantes da sua ação, a polícia perguntou-lhe se teria sido aquela a sua intenção; “Glesc respondeu que não era esse o seu objetivo”.
Apesar do contacto com os dois funcionários Nuno e Dalila e de a funcionária que gritou “fogo” estar numa das salas contíguas ao sítio onde Boris ateou o incêndio, o croata afirmou não ver “pessoas nas proximidades e que isso lhe pareceu o mais importante”. Defendeu-se ainda dizendo que “escolheu deliberadamente não despejar o conteúdo de todas as garrafas” e que “existiam janelas por onde o fumo poderia sair ou mesmo através das quais as pessoas poderiam abandonar o local em caso de necessidade”. Quanto ao arrependimento, “questionado se uma vez fora da embaixada não pensou nas proporções do incêndio, Glesc afirmou que tinha dois pensamentos na cabeça”: “O primeiro era ver-se livre da garrafa e o segundo era talvez voltar para trás para ver se alguém podia chamar os bombeiros”.
O julgamento
O julgamento começou a 26 de junho de 2018 e durou 6 dias. A eficiência é visível, pelo menos de quem “vê de fora”, uma vez que a sentença foi anunciada pouco depois, a 13 de julho. Para preparar esta reportagem, também se revelou notável a facilidade e rapidez de acesso à informação. O SAPO24 falou com várias fontes suecas, entre elas a advogada de Boris Glesc, a polícia sueca, o serviço prisional sueco e a agência de migração da Suécia, sendo que a resposta de cada um destes serviços foi de uma rapidez e transparência, nunca ultrapassando os cinco dias úteis.
Durante o julgamento, Boris Glesc voltou a revelar alguma paranoia - no início solicitou que a sua defesa fosse conduzida por outro advogado ou que se pudesse defender sozinho, visto não confiar na defensora que lhe havia sido atribuída; o tribunal deliberou mas o pedido acabou por ser indeferido.
A acusação apresentou 40 testemunhas consideradas lesadas (moradores e funcionários das empresas e embaixadas do prédio), que apresentaram pedidos de indemnização por “violação à integridade pessoal, perdas e danos morais”.
Quando chegou a vez do depoimento do réu Boris Glesc, destaca-se uma grande incongruência em relação à versão que apresentou nos interrogatórios: em tribunal, a história em Peniche muda. Segundo relatou, “os seus senhorios em Portugal ter-lhe-ão cobrado elevados montantes referentes a contas de energia, o que terá conduzido à deterioração das suas poupanças e lhe terá causado graves problemas financeiros”. O mais surpreendente será talvez o facto de Glesc ter contestado que os seus motivos para o crime estivessem ligados a problemas de tráfico de crianças em Portugal e “negou mesmo ter criado o website que referiu à Polícia durante a fase de investigação”. De acordo com esta versão apresentada em tribunal, o réu deslocou-se à Embaixada de Portugal em Estocolmo para “para pedir assistência para recuperar o dinheiro das contas de eletricidade que lhe haviam sido cobradas injustamente em Portugal”. Uma vez na embaixada, a versão dos acontecimentos que culminaram no incêndio também muda de figura: Glesc relata “que foi mal recebido pelos funcionários da embaixada, que se riram da sua situação, algo que o deixou muito irritado. Essa irritação, juntamente com os problemas financeiros, o cansaço que sentia por se ter deslocado a pé durante várias horas, e os problemas de saúde de que sofre, levaram-no a despejar três garrafas de gasolina no chão e a atear o fogo”.
Questionado sobre o motivo pelo qual comprou atempadamente quatro garrafas de gasolina e as levou até à embaixada, o réu disse que o seu objetivo era usar o líquido inflamável como ameaça caso não o deixassem falar com o cônsul ou embaixador, mas que não tinha intenções de atear fogo à embaixada. Disse que as suas intenções mudaram face à raiva que sentiu “devido à forma como foi recebido, mas que o seu objetivo era causar um pequeno estrago e que nunca teve a intenção de causar um fogo grande”.
Durante a sua defesa, parecem surgir no seu discurso indícios de paranoia e alguns remorsos em relação à dimensão do incêndio: sobre o porquê de ter mudado a sua história, Boris Glesc disse que “foi obrigado a mentir e a esconder provas por não confiar na advogada que lhe foi atribuída”, mas na sua declaração final disse que, “logo que lhe seja possível, tenciona contactar os moradores do prédio que sofreram maiores danos para lhes oferecer uma fração dos terrenos que alegadamente possui na costa da Croácia”.
Quando chegou a vez da acusação, os argumentos foram-se acumulando: quanto ao crime, a Procuradora começou por sublinhar o facto de Boris Glesc ter confessado os seus atos e refutou a ideia de que o réu quereria atear apenas um pequeno incêndio devido à quantidade de gasolina derramada. Acrescentou ainda que, tendo em conta o tempo que Glesc demorou a despejar cerca de 4 litros de gasolina, este “teria tido tempo de pensar na quantidade que estava a utilizar” e, para além disso, se a intenção do réu fosse efetivamente provocar um pequeno incêndio, “Glesc teria tomado medidas para se certificar que o incêndio seria contido e que não causaria feridos”; no entanto a Procuradora relembrou que "Glesc limitou-se a fugir do local”. Em relação à intenção do réu, na visão da Procuradora, Glesc transportou a gasolina consigo já a antever ser mal recebido na embaixada, refutando o relato anterior de Glesc de que as circunstâncias se teriam alterado e que ateou o incêndio por ter ficado enraivecido. Para a acusação, “Glesc dirigiu-se à embaixada já com a intenção de cometer o crime, tendo para esse efeito não só comprado gasolina, como também preparado molhos de fósforos que transportava consigo”. E finalmente, quanto à mudança de motivação do réu, a Procuradora relembra que os depoimentos dos funcionários da embaixada contrariam a mais recente versão de Glesc, pois apenas recordam referências ao tráfico de menores e nunca a problemas financeiros.
Tendo em conta estas provas, a acusação defende que “Boris Glesc se dirigiu à embaixada com o objetivo de atear um incêndio de elevadas proporções”, sublinhando ainda que "os efeitos e consequências do ato de Glesc foram a destruição parcial de um prédio onde se encontravam cerca de 90 pessoas, com a agravante de existir o risco de o incêndio se alastrar para edifícios vizinhos e causar mortos, caso a resposta dos bombeiros não tivesse sido tão rápida”. Posto tudo isto, a Procuradora pediu que Boris Glesc fosse condenado pelo crime de incêndio criminoso agravado e que cumprisse uma pena de prisão entre os 12 a 14 anos. No entanto, face a uma avaliação psiquiátrica requerida pelo tribunal que concluiu que Boris Glesc sofre de graves perturbações psíquicas e à probabilidade de haver reincidência criminal caso não recebesse tratamento adequado, a procuradora pediu que o réu fosse condenado a tratamento psiquiátrico compulsório e arguiu que a alta médica deveria ser aprovada pelo tribunal. Para além disso, a acusação pediu ainda que, após a conclusão do tratamento psiquiátrico, Boris Glesc fosse extraditado da Suécia e proibido de regressar ao país.
A advogada de defesa de Boris Glesc admitiu a responsabilidade do réu pelo crime de incêndio criminoso mas negou que este fosse de forma agravada, como defendia a Procuradora. Boris Glesc concordou com a sanção de extradição, mas pediu que a proibição de regressar à Suécia não fosse ilimitada.
A sentença
Duas semanas depois do final do julgamento, o juiz chegou a um veredicto: Boris Glesc foi considerado culpado do crime de incêndio criminoso agravado. O crime foi considerado especialmente grave por ter sido cometido numa zona residencial “de grande densidade demográfica, havendo o risco de o incêndio se alastrar e causar a morte de pessoas e a destruição de propriedade”.
Assim sendo, o tribunal pediu uma pena de prisão de oito anos mas, tendo em conta a avaliação psiquiátrica do criminoso, esta pena transformou-se num tratamento psiquiátrico forense obrigatório que, quando Glesc o terminasse, seria extraditado da Suécia e proibido de regressar ao país. Caso violasse essa proibição, o croata estaria perante uma pena de prisão até um ano.
Boris Glesc foi ainda obrigado a pagar indemnizações por “violações do direito à integridade pessoal, danos morais, danos à propriedade pessoal e pagamento de franquias de seguros” a seis funcionários da embaixada e a 14 moradores do prédio, cujo montante total chegou às 149 050 coroas suecas (cerca de 14 mil euros).
No entanto, numa reviravolta inesperada, os serviços prisionais suecos informaram o SAPO24 que Boris Glesc havia sido libertado no dia 9 de outubro de 2018, não chegando a cumprir sequer seis meses de internamento. Após esse dia, perde-se o rasto a Glesc, pois a última instância que poderia conhecer o seu paradeiro, os serviços migratórios da Suécia, não tem qualquer conhecimento sobre os seus movimentos.
O recomeço
Em entrevista ao SAPO24, o Embaixador de Portugal em Estocolmo, Henrique Silveira Borges, frisa não se recordar de um ataque deste género ou magnitude em nenhuma embaixada portuguesa - “Não tenho ideia de uma ocorrência desde género ter-se, felizmente, verificado noutras missões portuguesas. Eu próprio já servi em países de risco, pelo menos na altura [em que serviu neste local], como a Arábia Saudita, e nada disto aconteceu.”
Apesar de considerar ter sido “a probabilidade num milhão”, Henrique Silveira Borges reitera que a Suécia é um país seguro e não é por causa deste ataque que irá mudar de opinião - “não há sistemas 100% seguros nem havia propriamente uma preocupação com a segurança” mas, “evidentemente, com o apoio do MNE, vamos implementar um dispositivo mais robusto de segurança”.
Um ano após o ataque, a embaixada já está instalada no novo edifício. “Uma embaixada oferece sempre, em termos de segurança, seja em que ponto do mundo for, alguma margem de risco”, relativiza o embaixador. Por agora, a sua grande prioridade é que tudo volte ao normal e que o funcionamento da embaixada seja plenamente restabelecido. “O que é importante aqui é olhar para a frente e eu não gosto de fazer elogios mas quero aproveitar a oportunidade para fazer um tributo a todo o pessoal da embaixada que funcionou sempre como uma equipa. Foi à mercê desse grande espírito de equipa que conseguimos ultrapassar com êxito uma situação traumática e os desafios daí resultantes.”
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