As cerimónias oficiais arrancam hoje, dia em que se assinalam as primeiras mortes naquele que se tornaria o último genocídio do século XX, no qual perderam a vida cerca de 800 mil pessoas, sobretudo da minoria étnica Tutsi, mas também Hutus moderados.

O presidente Paul Kagame, líder da Frente Patriótica Ruandesa (FPR), que pôs fim ao regime genocida hutu em julho de 1994 e se tornou depois o homem forte daquele país da região dos Grandes Lagos — acendeu uma tocha evocativa no Memorial de Gisozi, na capital Kigali.

Deve também discursar numa arena com capacidade para 10 mil pessoas, onde os ruandeses organizarão mais tarde uma vigília.

A União Europeia (UE) reafirmou hoje o seu “compromisso inquebrantável com a prevenção do genocídio e de qualquer crime contra a humanidade em todo o mundo”, assim como o “compromisso de garantir a total prestação de contas”, expressou o alto representante do bloco comunitário para os Assuntos Exteriores, Josep Borrell, em comunicado assinado em nome de todos os Estados-membros.

Os 27 instaram a comunidade internacional a “aprender as dolorosas lições do passado e fazer todo o possível para impedir a repetição de qualquer abominação deste tipo”, apelando para o combate à xenofobia e aos discursos de ódio por razões étnicas, raciais, religiosas ou de nacionalidade.

A UE elogiou o Ruanda por ter dado “uma lição ao resto do mundo” ao ter empreendido uma “viagem nacional rumo à unidade, à reconciliação, à justiça e à preservação da memória” deste genocídio que matou 800 mil pessoas em pouco mais de três meses.

“A transformação do Ruanda desde então em termos de governança, recuperação económica, coesão social e desenvolvimento é um feito notável. A UE continuará a apoiar o povo do Ruanda e o seu caminho de transformação”, acrescenta-se no comunicado em que os países membros da UE expressam a sua solidariedade para com as famílias e amigos das vítimas e homenageiam os sobreviventes do massacre, referindo que a “sua valentia e resiliência diárias face ao horror continuam a inspirar o mundo”.

Nas cerimónias no Ruanda vão marcar presença o ex-presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, à frente da Casa Branca na altura do genocídio, o ministro francês dos Negócios Estrangeiros Stéphane Séjourné e a secretária de Estado do Mar do executivo francês, Hervé Berville.

Para assinalar o 30º aniversário do genocídio no Ruanda, o presidente francês Emmanuel Macron, que já reconheceu em 2021 as “responsabilidades” de França no genocídio de 1994, deu mais um passo, afirmando que Paris, “que poderia ter travado o genocídio com os seus aliados ocidentais e africanos, não teve vontade”, de acordo com comentários divulgados pelo Eliseu na quinta-feira.

No Ruanda, não será autorizada música em locais público, nem na rádio, e os eventos desportivos e filmes estão proibidos na televisão, exceto os que se relacionem com as cerimónias evocativas.

O massacre da primavera de 1994 foi desencadeado no dia seguinte ao atentado contra o avião do presidente Hutu Juvénal Habyarimana, no meio de um ambiente de ódio crescente alimentado por uma virulenta campanha anti-Tutsi.

Durante três meses, o exército, as milícias Interahamwe (braço armado do regime genocida Hutu), mas também cidadãos comuns, com espingardas e machetes, massacraram os Tutsi – chamados pelos genocidas de ‘Inyenzi’ (baratas, na língua kinyarwanda) — mas também opositores Hutu.

O massacre terminou quando a rebelião Tutsi da FPR tomou Kigali a 04 de julho de 1994, levando à fuga de centenas de milhares de Hutu para o vizinho Zaire, hoje República Democrática do Congo.

Trinta anos depois, continuam a ser encontradas valas comuns no Ruanda.