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Apesar da chuva, multiplicaram-se os portistas que se têm aglomerado entre as portas 23 e 24 do recinto, deixando flores e velas, mas também camisolas e cachecóis, num clima visivelmente emocionado perante a perda da figura maior do universo 'azul e branco'.
Imediatamente ao lado, uma tarja de enormes dimensões, que já na noite de sábado havia sido exibida, foi agora vergada na varanda do estádio e mostra o ex-dirigente com uma coroa, tendo resistido imponentemente à intempérie.
Para além de deixar a mensagem "o presidente dos presidentes" num dos ecrãs gigantes, o clube encarregou-se também de alterar muitas das portas de acesso ao estádio, com cada um dos seus respetivos números a servir de referência para inscrever uma façanha dos 42 anos de presidência.
Um pequeno cartaz, em que se via inscrita a frase "Obrigado Presidente por todos estes anos" expressava um sentimento comum de gratidão bem patente, como explicou à Lusa Raul Jorge, um adepto de 65 anos.
"Dizia-se, em Lisboa, que este era um clube de bairro e Pinto da Costa fez com que chegasse a um nível mundial. Concordo com a Fátima Campos Ferreira quando diz que ele fez mais pela descentralização, pela região norte, do que todos os políticos. Por vezes, os políticos não cumprem e Pinto da Costa cumpriu sempre o que prometeu aos sócios - o estádio, o pavilhão, o museu, só não foi a tempo do centro de treinos", analisou.
O mesmo aficionado refletiu também sobre o processo eleitoral, de abril de 2024, que ditou a saída de Pinto da Costa da mais longa e titulada liderança do futebol mundial para a entrada de André Villas-Boas.
"Por vezes, há males que têm de vir por bem. Teria ficado muito feliz se Pinto da Costa tivesse permanecido na presidência, mas gosto muito de André Villas-Boas, desde que era treinador. Foram eleições democráticas, as regras foram cumpridas. Se Pinto da Costa tivesse falecido antes de passar o cargo, dir-se-ia que o atual presidente só lá estava por causa disso", refletiu.
Já Daniel Ferraz, de 46 anos, explicou o papel que Pinto da Costa teve também na sua vida pessoal.
"Muitas das alegrias que tive foram pelas conquistas que ele conseguiu. Mas ontem [sábado] não morreu apenas uma era, uma parte do clube, morreu também a pessoa", lamentou à Lusa.
Quando Diogo Bento nasceu, já Pinto da Costa levava 18 anos à frente dos 'dragões', mas nem por isso o legado se dissipa nas novas gerações, como pôde ser atestado pelos muitos jovens presentes, tendo este deixado uma sugestão de homenagem.
"Estou sem palavras. Só tenho pena que tenha saído daquela maneira do clube. É a maior figura de sempre do FC Porto. Espero que mudem o nome do estádio", expressou, em declarações à Lusa.
O ex-presidente do FC Porto, clube no qual se estabeleceu como dirigente mais titulado e antigo do futebol mundial, entre 1982 e 2024, morreu no sábado, aos 87 anos, vítima de cancro.
Pinto da Costa tinha sido diagnosticado com um cancro na próstata em setembro de 2021 e agravou o seu estado de saúde nas últimas semanas, menos de um ano depois da derrota para a presidência do clube, frente a André Villas-Boas.
Empossado pela primeira vez em 23 de abril de 1982, seis dias depois de ter sido eleito, sem oposição, como sucessor de Américo de Sá, o ex-dirigente exerceu funções durante 42 anos e 15 mandatos consecutivos, levando o FC Porto à conquista de 2.591 títulos em 21 modalidades - 69 dos quais no futebol sénior masculino, incluindo sete internacionais.
O funeral do antigo dirigente 'azul e branco' vai realizar-se na segunda-feira, pelas 11:00, após o velório, que vai iniciar-se durante a tarde de hoje, partir das 18h00, na Igreja das Antas. A Câmara Municipal do Porto decretou luto municipal para segunda-feira.
Despedidas entre Presidentes e dos que querem vir a ser
O ex-Presidente da República António Ramalho Eanes considerou hoje que a morte, no sábado, do antigo presidente do FC Porto, Pinto da Costa, enlutou não só o clube, mas também a cidade, o futebol nacional e o país.
“Creio que a morte de Pinto da Costa terá enlutado não só o Futebol Clube do Porto, mas, também, a cidade do Porto e, ainda, o futebol nacional e, de certo modo, o país”, salientou o antigo chefe de Estado numa mensagem enviada à agência Lusa.
Ramalho Eanes realçou que, com a morte de Pinto da Costa, aos 87 anos, o FC Porto perdeu um “líder que o promoveu de clube regional a clube nacional, dominante, respeitado, também, no futebol europeu e, mesmo, mundial”.
“Perdeu a cidade do Porto um portuense insigne e dedicado, que lhe ofereceu, além do futebol de exceção, vitórias e mobilização popular, um leque alargado de outras modalidades desportivas, de qualidade e sucesso também”, destacou.
O ex-presidente da República considerou ainda que a cidade do Porto perdeu “um líder ímpar, que contribuiu para tornar mais coesa e personalizada a sociedade civil portuense e mostrar que uma liderança de sucesso, sustentado, tem de ser capaz de descobrir e aproveitar oportunidades, com ambicioso propósito e estratégias inteligentes e adequadas”.
“Pinto da Costa era um homem que tinha, também, a grande virtude de manter, com os amigos, uma fidelidade e sensibilidade exemplares”, sublinhou Ramalho Eanes, que apresentou à família do antigo dirigente desportivo as sentidas condolências.
O candidato presidencial Marques Mendes salientou hoje o “forte legado” que deixou o ex-presidente do FC Porto Pinto da Costa, que morreu no sábado aos 87 anos, considerando-o uma referência da cidade e da região.
"Polémicas à parte, é impossível não reconhecer o seu forte legado”, referiu Luís Marques Mendes, numa mensagem enviada à agência Lusa.
Nesse sentido, o candidato a Presidente da República destacou o facto de Jorge Nuno Pinto da Costa ter sido o “presidente mais titulado do mundo”, assim como o “líder de um clube que passou do nível regional para o plano global”.
O antigo dirigente desportivo foi ainda uma “referência incontornável de uma cidade e uma região”, destacou Marques Mendes, acrescentando que ao longo seu lado, “goste-se ou não se goste, nunca faltou um acentuado sentido de humor.”
*Com Lusa
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