Apesar de ser apenas o príncipe herdeiro, Mohamed bin Salman tornou-se o governante de facto do reino da Arábia Saudita (o seu pai, o rei Salman bin Abdulaziz Al Saud, é idoso e está doente) e lidera uma implacável repressão contra os opositores, inclusive dentro da sua própria família.
Deposto em 2017 em benefício de Mohamed bin Salman (apelidado MBS), o seu primo, o príncipe herdeiro Mohamed bin Nayef, não é visto em público desde que foi detido em março do ano passado.
No entanto, em junho de 2020, o empresário saudita Nader Turki Aldossari apresentou uma denúncia em nome do seu filho, um cidadão americano, contra Mohamed bin Nayef e outras entidades sauditas, alegando a violação um contrato de décadas relacionado a um projeto de refinaria em Santa Lúcia (ilha das Caraíbas).
Mas como levar à Justiça um príncipe desaparecido? A denúncia acabou a ser alterada para incluir MBS, indicando que, ao colocar o seu primo sob "prisão domiciliária" e confiscar os seus bens, o impediu de cumprir com as suas obrigações contratuais.
Em março, o advogado do príncipe herdeiro propôs fornecer o endereço de Mohamed bin Nayef "confidencialmente", afirmando num documento judicial que estava sob ameaça de "terrorismo" devido ao seu antigo cargo de ministro do Interior do reino, mas sem mencionar que foi detido.
"Nayef é um verdadeiro prisioneiro na Arábia Saudita", declarou James Tallman, advogado de Aldossari, num documento.
No estado da Pensilvânia, um tribunal norte-americano rejeitou no mês passado as acusações de violação de contrato neste caso, deixando sem resposta a pergunta de onde está o ex-príncipe herdeiro.
Tallman pretende recorrer e opor-se à proibição de viagem para o seu cliente. Nader Turki Aldossari não tem direito a sair do reino, segundo cartas do seu advogado ao presidente Joe Biden e a outros altos cargos norte-americanos, às quais a AFP teve acesso.
De acordo com o seu advogado, a proibição de sair do país "poderia levar à prisão".
As autoridades sauditas não comentaram publicamente a detenção de Mohamed bin Nayef, considerado durante muito tempo o aliado saudita mais confiável da CIA, a agência de inteligência dos Estados Unidos. Segundo diversas fontes, o governo acusa-o de corrupção e deslealdade.
Num relatório publicado em dezembro passado, um grupo de investigação parlamentar britânico considerou que Mohamed bin Nayef "não pôde contestar a sua detenção a um juiz independente e imparcial e não tem acesso a um advogado".
Os advogados de Squire Patton Boggs, um escritório de advogados internacional com sede em Washington, afirmaram recentemente que representam o príncipe desaparecido, enquanto trabalhavam para o seu primo MBS.
Foram contratados diretamente pelo primeiro? Têm acesso a ele? Como podem representar simultaneamente os dois rivais? O gabinete não respondeu às perguntas da AFP.
"Esses advogados nunca representaram (Mohammed bin Nayef) antes", afirmou à AFP uma fonte que está em contacto direto com a equipa jurídica do príncipe, com sede na Europa.
"Ele nunca se reuniu com eles e não sabemos como poderiam ter acesso a ele, já que teve o acesso negado aos seus advogados de longa data, a um processo judicial regular ou a qualquer forma de comunicação com o mundo externo", afirmou.
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