Martin Griffiths alertou que os abusos “horríveis que têm definido a guerra” naquele país africano, espalhou-se a outros pontos críticos do Sudão. E os relatos de violações generalizadas dos direitos humanos, incluindo violência sexual, revelam que as partes envolvidas não estão a proteger os civis.
Por isso, quase nove meses depois do início do conflito, o Sudão entrou numa “espiral descendente” que se agrava a cada dia.
À medida que o conflito alastra pelo país, o sofrimento das pessoas é cada vez maior e “o acesso humanitário diminui”, realçou.
Pelo que, em todo o Sudão, estima-se que “quase 25 milhões de pessoas precisarão de assistência humanitária em 2024”.
Para o subsecretário-geral para Assuntos Humanitários, que é também coordenador de Ajuda de Emergência da ONU, “a triste realidade” é que a intensificação da violência tem colocado a maioria das pessoas além do alcance humanitário.
Até porque as entregas através de linhas de conflito pararam. Mesmo com a operação de ajuda transfronteiriça do Chade servindo como um salva-vidas para as pessoas em Darfur, os esforços para entregar ajuda em outras regiões estão cada vez mais ameaçados.
O responsável da ONU alertou ainda para o facto de que a violência crescente no Sudão está a colocar em risco a estabilidade regional.
Segundo Martin Griffiths, a guerra desencadeou a maior crise de deslocados do mundo, com mais de sete milhões de pessoas naquela situação, sendo que 1,4 milhões cruzaram as fronteiras para países vizinhos, que já acolhiam grandes populações de refugiados.
Por tudo isto, 2023 foi um ano de sofrimento para o Sudão, considerou. E “em 2024, as partes envolvidas no conflito devem fazer três coisas para encerrá-lo: proteger civis, facilitar o acesso humanitário e interromper os combates imediatamente”, concluiu.
Para Griffiths, esta “situação deve ser contida” e a comunidade internacional – especialmente aqueles com influência – deve “tomar medidas decisivas e imediatas para interromper os combates e proteger as operações humanitárias”.
Desde 15 de abril do ano passado, o Sudão é palco de combates entre integrantes do Exército e os paramilitares das Forças de Apoio Rápido (RSF), o que força ao deslocamento de civis.
Expressando sérias preocupações sobre a conformidade das partes com o direito internacional humanitário, o responsável da ONU cita a importância de Wad Medani como um centro de operações de ajuda e refere, a propósito, que o saque de armazéns e suprimentos humanitários são um golpe nos esforços para fornecer alimentos, água, cuidados de saúde e outros auxílios essenciais.
Martin Griffiths destacou também o facto mais de 500 mil pessoas terem fugido dos combates em Aj Jazirah, há muito um refúgio para deslocados de conflitos em outros lugares, como outro fator de agravamento da crise humanitária. E lembrou que este contínuo deslocamento em massa também pode alimentar a rápida disseminação de um surto de cólera naquele estado, com mais de 1,8 mil casos suspeitos relatados até agora.
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