“A nossa equipa na central nuclear de Zaporijia informou-me esta manhã que a central perdeu toda a energia externa pela segunda vez em cinco dias”, disse o diretor-geral da AIEA, Rafael Grossi, numa mensagem na rede social Twitter, citado pela agência espanhola EFE.

Ao estar desligada da rede externa de energia, a central fica dependente de geradores a diesel para assegurar o arrefecimento dos seis reatores nucleares e evitar a fusão dos seus núcleos, que poderia levar a uma libertação de radioatividade potencialmente catastrófica.

Grossi confirmou que os geradores entraram em funcionamento, mas advertiu que a perda repetida de energia externa “é um desenvolvimento profundamente preocupante”.

“Sublinha a necessidade urgente de uma zona de segurança e proteção nuclear em redor do local”, disse Grossi, citado pela agência norte-americana AP.

A AIEA, com sede em Viena, defende a criação de uma zona de segurança em torno da central e, para esse fim, Grossi reuniu-se com o Presidente russo, Vladimir Putin, em Moscovo, na terça-feira.

A AIEA tem dois observadores na central de Zaporijia, a maior do género na Europa.

A Rússia e a Ucrânia têm-se culpado mutuamente por bombardeamentos contra a central, que danificaram alguns dos edifícios da instalação e o sistema de fornecimento de energia.

O operador nuclear estatal da Ucrânia, Energoatom, disse que o corte à rede externa de energia foi provocado por um ataque russo com mísseis à subestação Dniprovska, na região de Dnipropetrovsk, a norte de Zaporijia.

A Energoatom alertou anteriormente para o perigo de os geradores de emergência ficarem sem combustível ou deixarem de funcionar por qualquer razão, o que poderia levar a um desastre nuclear catastrófico.

O acidente mais grave numa central nuclear ocorreu em Chernobil, na Ucrânia, em 1986, quando o país integrava a União Soviética.

Na sequência do alerta da AIEA, o chefe interino pró-russo de Zaporijia, Yevgeny Balitsky, disse que a central não está em perigo.

“Está a funcionar, embora esteja em modo de paragem a frio, ou seja, não está a alimentar a rede elétrica, mas está a trabalhar para satisfazer as suas necessidades. Tem todos os meios necessários: geradores a diesel, combustível, pessoal”, disse Balitsky à televisão pública Rossiya 24, segundo a EFE.

O líder do movimento Juntos com a Rússia em Zaporijia, Vladimir Rogov, culpou os bombardeamentos ucranianos pelo corte e disse que o fornecimento de energia à central “foi restaurado uma hora mais tarde”, após o arranque dos geradores.

A Rússia declarou que a central passou para a sua posse, na sequência da anexação da região de Zaporijia, no final de setembro, juntamente com Donetsk, Lugansk e Kherson.

As forças russas bombardearam infraestruturas de energia ucranianas nos últimos dois dias, em retaliação por uma explosão na ponte da Crimeia, no sábado, que Moscovo atribuiu aos serviços secretos ucranianos.

A ponte, inaugurada por Putin em 2018, é vista por Moscovo como um símbolo da sua soberania na península ucraniana da Crimeia, que anexou em 2014.

A ponte tem sido usada para o reabastecimento das tropas russas no sul da Ucrânia, que a Rússia invadiu em 24 de fevereiro deste ano.