Para este profissional do Departamento de Estudos do Santuário, “para estudar Fátima é necessário alargar horizontes, pois não se pode compreender Fátima sem estudar quem se opôs”.

Esta tese foi defendida por André Melícias no âmbito da exposição “Os rostos de Fátima: fisionomias de uma paisagem espiritual”, que está patente no Santuário.

Segundo André Melícias, que na noite de quarta-feira orientou uma visita temática à exposição, com o enfoque nos “rostos que se opuseram” a Fátima, os jornais “foram o primeiro meio onde foram veiculadas críticas a Fátima, mais propriamente em julho de 1917”, mas também “o discurso político formal” deixou perceber “uma forte crítica a Fátima”.

Citado na página do Santuário de Fátima na internet, o arquivista deixou expresso que “a oposição e a crítica estiveram também presentes na literatura e no cinema, onde o ‘culto, as promessas e o papel de Fátima eram questionados’, bem como em ‘cartoons’”.

“A fotografia conta uma história, e juntamente com alguns textos ganhou força narrativa de oposição”, afirmou, referindo-se ainda aos meios digitais, onde essa crítica continua a ser visível, “com argumentos que nem sempre estão de acordo com a realidade”.

A contestação ao fenómeno de Fátima passou também por ações físicas, tendo uma das primeiras sido a dinamitação da Capelinha das Aparições, em março de 1922, cuja reconstrução aconteceu ainda nesse ano.

Os rostos de críticos e opositores a Fátima, como Tomaz da Fonseca, João Ilharco, Édouard Dhanis, Proper Alfaric, Mário de Oliveira, mas também Artur de Oliveira Santos, administrador do concelho de Ourém responsável pela prisão dos videntes em agosto de 1917, “ocupam um dos espaços da exposição temporária dado o seu papel de relevo na tentativa de destruição da mensagem de Fátima”, e foram referenciados nesta visita temática, segundo informação do Santuário.

Este grupo de opositores a Fátima surge na primeira parte da exposição onde se apresentam nomes que contribuíram para a difusão da mensagem, para a construção e consolidação da ideia de Santuário, naquela que é a sua materialidade concreta e, também, os investigadores e artistas que ajudaram a aprofundar Fátima do ponto de vista teológico, cultural e artístico.

Para este ano está ainda prevista mais uma visita temática, que será orientada pelo padre Carlos Cabecinhas, reitor do santuário, no dia 06 de outubro, com o tema “As celebrações de Fátima: rosto visível da comunidade orante”.

A exposição – que já foi vista por cerca de 45.000 pessoas - pode ser visitada diariamente até 15 de outubro de 2022, no Convivium de Santo Agostinho, no piso inferior da Basílica da Santíssima Trindade.