
É uma altura em que os adolescentes cortam os laços com os pais e experimentam a vida em comunidade, sem grandes constrangimentos, muitas vezes no campo.
O objetivo é passar um ano “a descobrir quem somos, como viver a nossa vida e como funciona a comunidade”, diz Mette Sanggaard, diretora da Ollerup Efterskole, numa pequena aldeia da ilha de Fyn.
“Toda a escola está organizada em torno desta missão”, acrescentou.
Cada “efterskole” estabelece o seu próprio currículo, que normalmente inclui disciplinas fundamentais como matemática, dinamarquês e inglês, enquanto algumas também dão ênfase à música, ao desporto ou ao teatro. Mas não há notas.
Os adolescentes que não frequentam um “efterskole” começam imediatamente os últimos três anos do ensino secundário.
Os alunos dinamarqueses também têm a possibilidade de frequentar um 10.º ano de escola após os nove anos obrigatórios — que também não é classificado.
Como são os dias nesta escola?
A Ollerup Efterskole, que se dedica à música, recebe cerca de 100 alunos por ano.
A um mês do fim do seu ano na escola, Siri Krause só tem coisas positivas a dizer. “Aprendi muito sobre mim própria... Acho que também aprendemos o tipo de pessoas com quem gostamos de estar”, disse à AFP.
“A única coisa de que não gosto é o facto de ter de fazer muitas coisas sozinha... limpar o quarto, lavar a roupa e coisas do género”, disse Krause, a mais velha de três filhos.
Na escola, os adolescentes têm de limpar os quartos e as áreas comuns e ajudar a preparar as refeições. Para além disso e dos estudos, são livres de socializar tanto quanto quiserem.
“Por vezes, pode ser socialmente desgastante”, admite Krause.
No quarto de Krause, que partilha com duas amigas, as paredes estão decoradas com fotografias e posters e o cheiro a perfume paira no ar. Há uma casa de banho, um toucador e dois beliches com vista para um campo.
“Está a começar a ficar um pouco mais quente, por isso estamos muito tempo lá fora, sentados numa manta a conversar ou a fazer alguma coisa, a tocar música ou a desenhar”, diz Ella Munoz, colega de quarto de Krause.
A aula de inglês também foi dada ao ar livre para aproveitar o tempo ensolarado.
Escolas privadas, mas não de elite
Na Dinamarca, a educação é gratuita, paga pelos impostos. No entanto, frequentar um “efterskole” tem um custo. As escolas são geridas por privados, com contrato com o Estado.
Um ano em Ollerup custa entre 9.000 e 13.200 euros e é subsidiado em função dos rendimentos dos pais. As escolas mais baratas custam 6.500 euros por ano.
Apesar do custo, as escolas não são consideradas de elite e continuam a ser populares entre a classe média dinamarquesa.
A ideia dos “efterskoles” remonta ao século XIX, quando Nikolai Grundtvig, pastor e filósofo, defendeu que a educação devia ser acessível a todos e estar ancorada nas línguas e na cultura, promovendo a independência.
Os professores não se limitam a dar aulas nos “efterskoles”, vivem também nas residências dos estudantes e passam o dia com os adolescentes.
“Os adultos são simultaneamente professores e supervisores, responsáveis pela vida em comum”, afirma Sanggaard.
“Trabalhamos com a pessoa no seu todo”, salientou Anne Lindekilde, uma antiga jornalista que atualmente ensina francês, dinamarquês e arte em Ollerup.
Após um ano num “efterskole”, os alunos podem voltar ao sistema escolar regular para iniciar os últimos três anos do ensino secundário.
Uma investigação demonstrou que os adolescentes que concluem o “efterskole” têm “mais probabilidades de iniciar e concluir o ensino secundário”, afirma Ulla Hojmark, professora associada da Universidade de Aalborg.
Em Ollerup, a maioria dos alunos prepara-se para regressar ao sistema de ensino regular no outono.
“É um pouco assustador saber que a escola vai acabar e que depois temos de ir para o liceu e fazer trabalho escolar a sério e não apenas estarmos a relaxar”, disse Krause.
E nos outros países?
Embora muito popular na Dinamarca, o conceito ainda não foi exportado com sucesso.
A Irlanda tem um “ano de transição”, durante o qual os estudantes da mesma idade podem passar um ano a aprender qualquer coisa, desde artes a manutenção de automóveis, línguas a psicologia, ou mesmo a obter experiência de trabalho.
As estrelas de Hollywood, Cillian Murphy e Paul Mescal atribuíram a este ano o mérito de terem sido encaminhados para a representação.
Apenas um “efterskole” foi aberto no estrangeiro, na Coreia do Sul, mas foi posteriormente encerrado por falta de financiamento.
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