Falemos então de outra corrida, as eleições nos Estados Unidos…
Que também são outro argumento bom para voltar, se Trump ganhar os Estados Unidos fecham, não entra mais ninguém [risos].
Acredita que ele ganhe?
Não. Quer dizer, não acredito que ele ganhe, mas já esteve mais longe. Neste momento penso que não ganha, mas depende de um conjunto de factores – por exemplo, de haver mais problemas legais com Hillary [conta privada que usava para enviar e receber emails enquanto secretária de Estado e está a ser investigada pelo FBI e pelo congresso], dos desenvolvimento no terrorismo e na imigração –, que não dependem dos candidatos. Tudo isto favorece Trump.
Se Trump ganhar, como é que isso deixa os Estados Unidos?
Em termos práticos, os Estados Unidos ficam bloqueados, porque mesmo que Trump ganhe, não ganha o congresso, que em princípio será republicano, porque uma larga faixa do partido republicano não o apoia. Até que ponto Trump vai usar isso para ter uma espécie de guerra constante com o congresso ou vai ser um presidente sentado à espera de ver o que acontece, isso é o que se verá. Mas não acredito que as consequências da eleição de Trump sejam tão terríveis como as pessoas pensam.
E do ponto de vista externo?
Do ponto de vista externo é uma má imagem e vai alterar a ideia dos Estados Unidos como país aberto, até com vocação imperial, para um país muito mais fechado e voltado para dentro, porque é isso que Trump defende: voltar a um certo isolacionismo, fechar fronteiras.
Afirmou que o que estava a abrir espaço para partidos extremistas, na União Europeia, era a perda de soberania. E nos EUA?
Nos Estados Unidos há dois problemas graves desse ponto de vista: a dependência da China - o país está altamente endividado e a China comprou uma parte muito substancial dessa dívida soberana -, e uma espécie de problema imperial - desde a guerra do Iraque, o império alargou-se de tal maneira que não é sustentável economicamente, há que fazer escolhas, coisa que a presidência Obama foi adiando. O que Trump está a fazer é cavalgar uma onda populista em que a solução é fazer uma guerra comercial à China, quando isso não vai resolver o problema, só vai agravá-lo. Mas uma larga faixa do eleitorado, nomeadamente uma classe económica média-baixa, está farta de não ver uma solução e tem agora alguém que lhe diz o que sempre quis ouvir.
Passando para outra guerra comercial, o TTIP – Transatlantic Trade and Investment Partnership [Acordo de Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento] avança?
Do lado americano, se tivermos uma presidência de Trump vejo muito poucas condições para o acordo avançar. Do lado europeu, acredito que vamos ter em 2017 uma viragem à direita em vários países, nomeadamente em França e na Alemanha, o que vai complicar a sua aplicação. O horizonte político para este tratado não é o mais adequado, veio numa época frágil. Porque há uma coisa que é evidente nestes acordos, e sabemos isso na zona europeia, é que há perdedores e vencedores. Que é bom para todos, não é verdade.
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