Diogo chegou a Londres há cerca de três anos. Antes passou pelo mundo da consultoria em Portugal, das telecomunicações em Angola e agora é controller financeiro de uma empresa ligada ao ramo tecnológico.
Começando por dizer que é alguém que não se consegue fixar muito tempo num sítio (como a sua carreira profissional tem atestado, de resto), Diogo confessa ser “uma pessoa interessada” e que gosta de política e, por isso, se está a viver em Londres neste momento, interessa-lhe saber “qual o rumo que o país” vai tomar.
Sendo “politicamente de esquerda desde sempre, um social-democrata”, o seu voto seria Labour (partido liderado por Jeremy Corbyn) se pudesse votar nas eleições desta quinta-feira. Algo que não é alheio ao facto de Corbyn ter uma posição mais benéfica ao tratamento dos imigrantes, apesar de as suas políticas sociais relativamente a temas como o aborto ou a igualdade de género terem também bastante influência na opinião do português. Isto apesar de Diogo não gostar particularmente daquele que é o principal adversário de Theresa May enquanto líder do Partido Trabalhista. “Eu acho que ele é demasiado de extrema-esquerda [...). Comparo-o um bocadinho com o Francisco Louçã”, diz-nos, apontando o facto de Corbyn “querer aumentar [o salário mínimo] em 11 libras por hora” como uma medida que é “ótima” em termos sociais mas que a estrutura económica do país não consegue suportar. “Há uma despreocupação com o tecido económico e corporativo [da parte de Corbyn] que me assusta um bocadinho”, refere.
Diogo acredita que a votação em Londres será maioritariamente Labour, muito por ‘culpa’ do tratamento que Theresa May e os Tories [diminutivo do partido conservador britânico] estão a dar à questão do terrorismo, defendendo aquela que, na opinião do emigrante português, é uma política que está “totalmente contra os direitos humanos, [é] cega, de sangue [...], de incluir todos no mesmo saco, uma política um bocadinho associada ao Trump”. Londres “é uma cidade multicultural, que está habituada a viver com muçulmanos no seu dia-a-dia, o Mayor é muçulmano, o Sadiq Khan” e por isso, “os londrinos sabem que o facto de seres muçulmano não faz de ti terrorista”.
Contudo, e não obstante as mais recentes sondagens mostrarem uma aproximação do Labour aos Tories nas intenções de voto, a verdade é que, para Diogo, o Reino Unido “não mudou assim tanto” desde as últimas eleições e que, apesar de se poder verificar uma subida do número de votos no Partido Trabalhista, a vitória acabará por sorrir a Theresa May.
Ainda assim, o controller português deixa no ar a hipótese de se poder verificar no Reino Unido aquilo que sucedeu em Portugal, ou seja, no caso do Partido Conservador não conseguir maioria absoluta, poder haver uma coligação à esquerda (entre sociais-democratas, o Partido Nacionalista Escocês e o Labour) que possa governar o país. Diogo acha que isso é uma possibilidade, mas, “ao contrário do que acontece em Portugal, aqui existe sempre o favoritismo ao partido que ganha para definir essa coligação”, ou seja, se os Tories “quiserem primeiro propor uma coligação à direita e conseguir maioria absoluta, formam o governo”.
No que diz respeito ao ambiente que se faz sentir em Londres, o emigrante português lembra algumas das reações dos londrinos após o mais recente ataque em London Bridge, para exemplificar o estado de espírito muito associado à expressão “Keep Calm And Carry On”, apesar de assumir que se sente algum receio nas ruas. Receio pelo qual não se quer deixar afetar, confidencia. Afinal de contas, a história de Londres é (infelizmente) bastante fértil em atentados, como lembra, referindo os atentados bombistas do IRA como um exemplo de que a capital inglesa, por tudo o que representa, será sempre um alvo.
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