“Alguns não querem usar essas palavras – crimes de guerra e crimes contra a humanidade -, mas sabem que é a verdade”, disse Riyad al-Maliki, no âmbito de uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU, que decorre por videoconferência.
O ministro dos Negócios Estrangeiros da Palestina afirmou que “Israel é impiedoso e implacável na prossecução da sua política colonial”, apelando ao Conselho de Segurança que tem de “agir para acabar com o ataque” de israelitas contra palestinianos.
“Quantas mortes de palestinianos serão necessárias antes de uma condenação?”, questionou Riyad al-Maliki, enquanto os Estados Unidos recusaram, por duas vezes depois de uma semana, um texto apelando ao fim dos confrontos, proposto pela Tunísia, Noruega e China.
“De que ponto está escandalizado?”, interrogou o ministro palestiniano, sobre o texto.
Por sua vez, o embaixador israelita, Gilad Erdan, responsabilizou o movimento islamita Hamas pelas mortes de civis, argumentando que se Israel usa bombas para proteger as suas crianças, o Hamas usa crianças para proteger os seus mísseis.
O conflito israelo-palestiniano pode transformar-se numa crise “descontrolada” humanitária e de segurança, com consequências extremas em toda a região do Médio Oriente, alertou hoje o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), descrevendo um cenário “chocante”.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, descreveu, numa reunião virtual de urgência do Conselho de Segurança da ONU dedicada ao Médio Oriente, uma “carnificina” e hostilidades “terríveis”, considerando que a violência “empurra para mais longe o horizonte de qualquer esperança de coexistência e paz”.
“Reunimo-nos durante a escalada mais séria [no conflito] entre Gaza e Israel em anos”, começou por dizer o secretário-geral da ONU, que expressou profunda preocupação com os “violentos confrontos entre as forças de segurança israelitas e civis palestinianos em toda a Cisjordânia ocupada, incluindo Jerusalém Oriental”.
O secretário-geral da ONU alertou que existe potencial de se desencadear “uma crise de segurança e humanitária descontrolada” com consequências de maior extremismo não só para Israel e territórios palestinianos ocupados, como para toda a região.
Também hoje, os ministros dos Negócios Estrangeiros turco e palestiniano afirmaram que o estabelecimento de laços entre os países árabes e Israel, em 2020, encorajou o Governo israelita a “intensificar as suas agressões contra os palestinianos”.
O ministro turco dos Negócios Estrangeiros, Mevlüt Çavusoglu, e o seu homólogo da Palestina, Riyad al Malki, expressaram esta posição durante uma reunião ministerial extraordinária da Organização de Cooperação Islâmica (OIC), convocada pela Arábia Saudita para abordar a escalada da guerra entre palestinianos e israelitas, que causou 181 mortos nos últimos sete dias.
Chefe militar israelita diz que "sentimento de justiça" norteia ataques
O chefe das forças armadas de Israel considerou hoje que os ataques a Gaza que mataram 192 pessoas, incluindo 58 crianças, foram conduzidos com "um sentimento de justiça" para proteger israelitas do movimento islamita Hamas. Em Israel, dez pessoas foram mortas devido aos 'rockets' provenientes de Gaza.
"Agimos com um sentimento de justiça, com o sentimento de que é a coisa certa, que é o que é necessário fazer para proteger os cidadãos de Israel", afirmou Aviv Kochavi numa declaração após uma reunião com o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, o ministro da Defesa, Benny Gantz, os líderes do serviço de segurança interna (Shin Bet), e dos serviços secretos (Mossad).
Kochavi declarou que o Hamas "não calculou bem a amplitude" da retaliação israelita aos ataques com 'rockets' lançados na semana passada.
Netanyahu ameaçou que a operação militar contra o território da Faixa de Gaza, onde vivem mais de dois milhões de pessoas, vai continuar "com força total" e que vai ser demorada.
O ministro israelita da Defesa afirmou que "o objetivo da operação é restabelecer a calma a longo prazo, apoiar as forças moderadas da região e retirar ao Hamas as suas capacidades estratégicas".
Cadência de 'rockets' disparados de Gaza é a maior de sempre
Cerca de 3.000 'rockets' foram disparados a partir da Faixa de Gaza para Israel desde o início dos atuais confrontos, o maior ritmo de sempre, afirmou hoje o exército israelita, que continua a realizar ataques em solo palestiniano.
De acordo com a agência France-Presse, as Forças de Defesa de Israel (IDF), designação do exército do país, informaram hoje que se trata do ritmo mais elevado de disparos alguma vez vindo de Gaza.
Os números atuais do confronto com o Hamas, que se iniciou na segunda-feira, superam o de uma escalada de 2019 e da guerra de 2006 contra o libanês Hezbollah, de acordo com o general israelita Ori Gordin, num encontro com jornalistas por via eletrónica.
Na escalada de novembro de 2019 com a Jihad Islâmica, 570 'rockets' foram lançados contra Israel a partir de Gaza, e na guerra contra o Hezbollah, no verão de 2006, foram lançados 4.500 'rockets' a partir do sul do Líbano, mas em 19 dias.
Desde o início dos confrontos, "o Hamas está a realizar um ataque muito intenso em termos de cadência de tiro", disse o militar israelita.
Já o ministro da Defesa de Israel, Benny Gantz, afirmou que "mais de 1.000 'rockets' que deviam ter caído em zonas habitadas foram intercetados" desde segunda-feira, de acordo com uma publicação na rede social Twitter.
O exército já tinha indicado ter atingido 90 posições do Hamas e da Jihad islâmica, o segundo grupo armado no enclave, nas últimas 24 horas em Gaza.
A casa de Yahya Sinwar, chefe do gabinete político do Hamas em Gaza, foi atingida por um dos ataques israelitas, não sendo claro atualmente onde se encontra o dirigente.
O novo conflito começou em resposta a uma série de 'rockets' do Hamas sobre Israel, lançados em solidariedade com os manifestantes palestinianos e as centenas feridas em anteriores altercações com a polícia israelita em Jerusalém Oriental.
Na origem da violência está a ameaça de expulsão de famílias palestinianas em benefício de colonos israelitas no setor palestiniano ocupado por Israel desde há mais de 50 anos.
O conflito israelo-palestiniano remonta à fundação do Estado de Israel, cuja independência foi proclamada em 14 de maio de 1948.
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