“A pandemia de covid-19 foi o primeiro evento global a enviar uma onda de choque a todas as partes da cadeia da indústria farmacêutica quase simultaneamente”, refere o documento hoje divulgado sobre o acesso a medicamentos para várias doenças como as cardíacas, respiratórias crónicas, cancro e diabetes.
Estas doenças não transmissíveis foram responsáveis por cerca de 40 milhões de todas as mortes no mundo em 2019 (74%), com a maioria a ocorrer em países de baixo ou médio rendimento, refere a organização.
Segundo a OMS, a escassez e os atrasos no fornecimento de matérias-primas, os confinamentos e as quarentenas, que provocaram constrangimentos na mão-de-obra disponível, assim como os atrasos nas inspeções para aprovação regulatória ou comercialização, foram alguns dos fatores que influenciaram as interrupções na fabricação destes medicamentos.
A covid-19 “exacerbou as desigualdades pré-existentes no tratamento de doenças não transmissíveis”, adianta o relatório, que refere também que “poucos distribuidores ou fabricantes anteciparam a dimensão das perturbações” provocadas no transporte e nas proibições de exportação ditadas pela pandemia.
“A escala das proibições de exportação não é sistematicamente comunicada, mas a Organização Mundial do Comércio (OMC) estimou que, em abril de 2020, 20 países e territórios aduaneiros tinham introduzido restrições à exportação de medicamentos”, indica o relatório.
A OMS sublinha ainda que a “forte contração da capacidade de transporte marítimo mundial” durante a fase inicial da pandemia levou a um aumento dos custos dos fretes de entre duas e seis vezes, em relação aos anos anteriores.
Além disso, o volume, a disponibilidade e a previsibilidade das rotas aéreas de carga “foram gravemente perturbadas, sendo as rotas dependentes dos voos de ligação e as rotas com margens de lucro mais baixas para as transportadoras particularmente afetadas”, adiantou a organização.
De acordo com o documento, os países já desfavorecidos nos mercados globais de medicamentos, incluindo os de baixo rendimento e com menos recursos e os países sem litoral dependentes de carga aérea, foram os mais afetados ao nível do fornecimento de medicamentos.
“À medida que o mundo recupera dos efeitos da pandemia de covid-19, há necessidade de refletir sobre sucessos e fracassos na cadeia de fornecimento global de medicamentos para doenças não transmissíveis”, alerta o documento da OMS.
Segundo a organização, a existência de dados sólidos e sistematicamente recolhidos sobre os mercados de medicamentos é, assim, “essencial para a criação de sistemas de alerta precoce e de atenuação da escassez”.
A OMS lembra ainda que, mesmo antes da pandemia, já existiam “preocupações globais crescentes sobre a escassez de medicamentos” para uma série de áreas terapêuticas, incluindo oncologia, antibióticos e vacinas.
“É difícil fazer previsões concretas sobre futuras pandemias ou como contorná-las. A natureza imprevisível das infeções emergentes significa que os efeitos no acesso aos medicamentos podem variar muito. É possível que uma futura pandemia possa levar a um encerramento completo da produção ou a controlos fronteiriços mais generalizados do que o observado em resposta à covid-19”, reconhece a OMS.
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