Apesar de ser o bioma brasileiro melhor preservado, a região adjacente onde nascem muitos dos rios que transportam água para o Pantanal já foi desflorestada em 55%, denuncia a organização World Wildlife Fund (WWF).
No município de Diamantino, no Mato Grosso, a água cristalina aflora numa propriedade privada.
Os proprietários do terreno e os inspetores ambientais cuidam das margens do fino curso de água, que se juntará a outros riachos para formar o rio Paraguai, um dos maiores da América do Sul e o mais importante para o ciclo hídrico do Pantanal.
"Durante os seis meses de chuva, este solo inunda-se e mantém as águas do Pantanal", explica Cassio Santana, gerente da Área de Proteção Ambiental (APA) das Nascentes do Rio Paraguai.
A desflorestação e a erosão do solo devido ao avanço das monoculturas de soja, cana-de-açúcar, eucalipto, bem como os projetos de vias navegáveis e dezenas de centrais hidrelétricas constituem uma séria ameaça.
"Esta região está em risco e, se nada for feito para mudar isso, nos próximos anos podemos ver o Pantanal entrar em colapso", afirma Júlio César Sampaio, coordenador do programa Cerrado-Pantanal da WWF.
De acordo com os dados desta ONG, 391 mil hectares da região das chamadas "cabeceiras" do rio Paraguai ainda não possuem a proteção legal necessária.
Guardiões das nascentes
Plínia Rodrigues é outra guardiã das nascentes na comunidade de Piraputanga, também em Diamantino.
Do jardim de sua casa, onde cultiva hortaliças, cria galinhas e produz queijo, ouve o murmúrio da corrente de água passando por um corredor de palmeiras buriti e outras espécies de vegetação nativa.
A proliferação destas plantas nas margens das nascentes são indicadores de que o curso de água é saudável.
Pequenos peixes redemoinham antes de descerem uma suave cascata.
"Nós não tocamos em nada nas margens do rio, que estão cheias de árvores. Queremos preservar o que temos, é mau acabar com a natureza", afirma a sexagenária, que diz que apenas três pessoas viram de perto o lugar exato da nascente, localizada a 900 metros de distância num local de difícil acesso.
Noutra época, cardumes de piraputanga, peixes de cerca de 50 cm de comprimento que deram nome à cidade, enchiam as águas que banham o jardim de Plínia. Mas ela garante que, devido a uma central hidrelétrica instalada rio abaixo, os cardumes já não sobem até a nascente.
Ela sente que o seu terreno é um oásis no meio das plantações de soja que usam agrotóxicos.
"Aqui à volta todos trabalham com a soja. Depois disso ter começado, as nossas árvores já não dão frutos, cultivávamos papaia para vender. Agora já não dá mais, as laranjas também nascem feias", lamenta.
Pantanal, um tesouro de fauna selvagem
Planície inundável de mais de 170.500 km2, o Pantanal possui mais de 4.000 espécies de plantas e animais.
A vida dos "pantaneiros", como são chamados os habitantes locais, é regida por um fenómeno chamado "pulso de inundação", que intercala períodos de chuva e seca.
Entre outubro e maio, os rios sobem e inundam 80% da planície.
Quando as águas atingem o seu ponto máximo, em março e abril, é o melhor momento para a pesca, fonte de sustento para os ribeirinhos e motor do turismo local.
A paisagem transforma-se numa grande superfície inundada com numerosos canais para passear pelas pequenas "ilhas" cobertas de vegetação.
Atraídos pelos peixes, é possível ver pássaros impressionantes como o tuiuiu, lontras gigantes, capivaras, jacarés e jiboias. Durante a estação seca, a onça, o maior felino das Américas, transita pelas superfícies firmes.
Além de abrigar espécies ameaçadas, o Pantanal ajuda a regular as mudanças climáticas.
"A planície do Pantanal também funciona como um espelho de água que reflete grande parte do calor e deixa o ambiente mais agradável", enquanto contribui para as chuvas de outras regiões, aponta Sérgio Freitas, investigador da Universidade de Brasília e guia.
Freitas explica que a pecuária extensiva foi praticada por mais de 200 anos sem degradar o meio ambiente, mas nas últimas décadas deu lugar à agricultura intensiva, que impede a absorção da água da chuva pelos terrenos.
A água acaba a escorregar em direção aos rios e arrasta sedimentos que engrossam os seus leitos.
O investigador acredita ser importante aumentar os incentivos para que os produtores locais possam diversificar as suas atividades ou migrar para práticas mais sustentáveis.
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