Paolo Gentiloni, de 62 anos, ex-jornalista formado em ciências políticas, homem moderado e leal a Renzi. Esta é uma das formas de descrever o novo primeiro-ministro italiano. Mas para a oposição italiana, as palavras são outras. "Gentiloni é o avatar de Renzi", reagiu Luigi Di Maio, do Movimento 5 Estrelas (M5S), uma das formações políticas que rejeitaram a nomeação e que pediram eleições antecipadas. "É a marionete da marionete Renzi", comentou, por seu lado, Giorgia Melloni, líder do movimento de extrema direita Fratelli d'Italia.
Da mesma opinião não foi o presidente italiano, Mattarella, árbitro da situação, que antecipou desde logo que queria resolver rapidamente a crise que teve início após a recusa em referendo da reforma da Constituição, promovida por Matteo Renzi. "Trabalharei com dignidade e responsabilidade", anunciou, pela sua parte, Gentiloni, após ser oficialmente nomeado para o cargo. "Não por minha vontade, mas por senso de responsabilidade, trabalharei com as forças políticas da maioria em fim de mandato", afirmou, referindo-se à coligação de centro-esquerda liderada pelo Partido Democrático.
O presidente Mattarella concluiu, na noite de sábado, três dias de consultas políticas e espera evitar também que se desate uma crise bancária caso se atrase a recapitalização urgente do terceiro banco do país, o Banco Monte dei Paschi di Siena, uma decisão que depende do parlamento. Gentiloni comprometeu-se a promover um acordo no parlamento para "harmonizar" as leis eleitorais, tendo em vista que Itália não entre em paralisia devido a eleições antecipadas. Assim que a lei eleitoral for harmonizada, poderão ser realizadas eleições, uma das solicitações do Partido Democrata e do próprio primeiro ministro demissionário, Matteo Renzi. "O objetivo é ir para eleições no mínimo tempo possível", assegurou, no sábado, o porta-voz do Partido Democrático no Senado. O novo governo não contará com o apoio da segunda força política do país, o Movimento Cinco Estrelas (M5S), formação antissistema, que pede eleições sem esperar uma nova lei eleitoral e que já anunciou que não participará do voto de confiança ao novo governo, que considera "ilegítimo".
Neste domingo, o primeiro-ministro demissionário Matteo Renzi, cuja personalidade e estilo de governar dividiu o país, dirigiu-se aos italianos na sua página no Facebook para dizer que a sua demissão era "verdadeira", mas que estava disposto a voltar. "Volto a ser um cidadão comum. Não tenho paraquedas. Não tenho um assento no parlamento, não tenho um salário, não tenho uma pensão, não tenho imunidade, Começo de novo, como deve ser. A política para mim é servir ao país, não usá-lo", escreveu Renzi.
O novo chefe do governo italiano , que em 2014 substituiu a então chanceler Federica Mogherini, atual chefe da diplomacia europeia, conta com experiência política para lidar com as profundas divisões no Partido Democrático, que detém a maioria no parlamento. Gentiloni é também experiente em temas internacionais, um elemento que joga a seu favor, já que em 2017 Itália assume a Presidência do G7, grupo dos sete países mais ricos do mundo, e organiza uma cimeira dos seus líderes em maio, na Sicília. A Itália entra, também no ano que vem, no Conselho de Segurança das Nações Unidas e celebra, em março, na sua capital, os 60 anos do Tratado de Roma, data de nascimento da União Europeia, uma oportunidade para relançar o projeto após o Brexit.
Leal ao ex-primeiro-ministro Matteo Renzi, ao qual prestou homenagem depois de sua nomeação - "merece respeito pela sua coerência" - Gentiloni é apreciado pelos seus pares estrangeiros. Foi o primeiro ministro de um país da União Europeia a visitar Cuba (2015) para oferecer ao presidente Raúl Castro o apoio da Itália para a normalização das relações entre Cuba e Estados Unidos.
O novo líder do Executivo italiano faz parte do grupo fundador do Partido Democrático, atualmente no governo e que, depois do referendo da semana passada, se encontra profundamente dividido. Descendente de uma família nobre, a do conde Ottorino Gentiloni, recebeu educação católica, mas militou no movimento de esquerda maoísta, para depois iniciar uma longa carreira dentro do setor mais moderado da esquerda, como colaborador na década de 1990 do presidente da câmara de Roma, Francesco Rutelli, e nos anos 2000 do primeiro-ministro Romano Prodi, fundador do movimento El Olivo, sendo o ministro das Comunicações de 2006 a 2008.
Nascido e criado em Roma, estudou num conhecido colégio público da capital, trabalhou em várias publicações políticas, entre elas "Pace e Guerra", e foi diretor da publicação mensal do movimento ecológico Legambiente, "La Nuova Ecología". Nos anos 1990, abandonou a imprensa escrita para ser porta-voz da autarquia de Rutelli, quando foi encarregado da organização do Jubileu do ano 2000. Sucessivamente, foi eleito para o parlamento, onde era considerado um especialista em comunicações. Em 2012, tentou chegar à liderança na câmara de Roma, mas ficou em terceiro lugar durante as primárias, uma derrota lamentada pelos seus aliados, mas que serviu, posteriormente, para chegar a ser chanceler da Itália, em 2014.
A nível europeu, defendeu firmemente a política solidária e humanitária da Itália no que respeita à crise migratória e mantém excelentes relações pessoais com o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, assim como seu colega americano John Kerry, ambos presentes em Roma na semana passada para um encontro oficial. Discreto, algo tímido, com cabelos grisalhos desde jovem, é casado com uma arquiteta, não tem filhos e, segundo a imprensa italiana, ama a ópera, um bom vinho, ler e jogar ténis.
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