No debate sobre política geral na Assembleia da República, a líder parlamentar do PCP, Paula Santos, defendeu que “os trabalhadores iniciam um novo ano já a perder, depois de perderem um salário em 2022 devido à inflação”.
“Para uma ampla maioria a vida piorou, mas há uma minoria que inicia o novo ano com enormes vantagens: os grupos económicos que, ao longo de 2022, obtiveram lucros obscenos à custa do empobrecimento de quem cria e riqueza e vive do seu salário”, defendeu.
Depois de elencar casos específicos de subida de preços em determinados bens alimentares, na energia e na habitação, Paula Santos defendeu que o que os portugueses estão a pagar a mais, “está a ir para os lucros da grande distribuição”.
“Há, de facto, quem esteja a ganhar, e muito, com a conivência do Governo. Estamos perante uma das maiores transferências de riqueza do trabalho para o capital, com a cumplicidade do Governo e dos partidos à sua direita – PSD, Chega, IL e CDS – que apoiam e querem intensificar”, sublinhou.
A líder parlamentar do PCP defendeu ainda que as “sucessivas alterações” de membros do executivo são “sobretudo mais uma expressão da opção política do Governo aos interesses dos grupos económicos, ao invés de responder aos problemas que aí estão e que se agravam todos os dias”.
“A saída de um membro do Governo [a ex-secretária de Estado do Turismo, Rita Marques], passado pouco tempo para uma empresa na área que tutelava, par além de constituir um claro incumprimento da lei, é revelador da promiscuidade entre o poder político e o poder económico que é inaceitável”, exemplificou.
Paula Santos sustentou que a “questão de fundo não são os rostos dos executantes, mas o conteúdo e as opções políticas do Governo”, afirmando que é prioritária “uma política que enfrente os interesses dos grupos económicos, ponha fim à especulação e garanta uma justa distribuição da riqueza”.
Na resposta a esta intervenção, António Costa disse estar de acordo com Paula Santos na ideia de que “o essencial são as políticas”, mas disse divergir “num ponto”: “O seu ponto é a mudança, o meu ponto é a continuidade de políticas”.
O primeiro-ministro defendeu que a “continuidade das políticas” executadas desde 2016 é o que “tem permitido haver uma melhoria do rendimento das famílias, haver crescimento económico e haver sobretudo emprego”.
Costa avançou com várias estatísticas para salientar que, quando comparado com 2015, há hoje mais 587 mil pessoas com emprego e o salário mínimo nacional aumentou 40%.
O primeiro-ministro referiu ainda que a política do seu Governo permitiu que, em 2023, o aumento do salário mínimo, dos indexantes dos apoios sociais e “genericamente das pensões” esteja acima do valor da inflação.
“Trata-se de proteger os rendimentos de quem mais necessita de ver os seus rendimentos protegidos, e de uma forma estrutural”, defendeu.
Segundo António Costa, para além “destas medidas estruturais”, o Governo forneceu também “um conjunto de apoios extraordinários” e agiu “do lado dos custos”, dando o exemplo do limite em 2% do aumento das rendas da casa ou as medidas implementadas “para controlar o impacto brutal aumento do custo na energia”
“São mesmo essas medidas que estamos a adotar para procurar manter a continuidade desta política que viu sempre a melhoria dos rendimentos como um fator fundamental para o crescimento económico, para a criação de mais e melhor emprego. É essa continuidade que vamos manter”, disse.
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