Às primeiras horas da manhã, algumas viaturas já estavam estacionadas no exterior da praia fluvial da vila, no distrito de Leiria, e várias pessoas preparavam-se para um banho matinal, fruindo das ondas artificiais que são a “imagem de marca” do complexo turístico.
Foi desta praia que saíram algumas das famílias que morreram pouco depois na estrada nacional 236-1, no dia 17, na sequência do incêndio florestal que deflagrou na povoação de Escalos Fundeiros, no município de Pedrógão Grande, distrito de Leiria, e que provocou a morte a 64 pessoas.
“Temos de reagir. Temos de continuar as nossas missões e as nossas profissões”, afirmou à agência Lusa o administrador da Prazilândia e da Praia das Rocas, José Pais.
O responsável defendeu a importância de “contribuir para que não aconteça aqui uma segunda calamidade”, sendo ainda necessário retomar o trabalho, na Praia das Rocas, na ribeira de Pera, “para os visitantes se irem habituando” aos poucos.
“A nossa perda tem de ser temporária. Temos de pôr a economia a mexer e saber reconstruir tudo o que foi destruído pelo fogo no território”, adianta.
Os outros concelhos vizinhos mais atingidos pela tragédia são, além de Castanheira de Pera, sobretudo Pedrógão Grande e Figueiró dos Vinhos, e Góis, este no distrito de Coimbra.
Castanheira de Pera, que até finais do século XX teve uma das atividades têxteis mais pujantes da região Centro, “não pode perder atratividade em termos de futuro”, enfatiza José Pais, engenheiro silvicultor.
A Praia das Rocas, que reabriu ao público, com ondas cristalinas no centro da antiga vila industrial, nove dias após a tragédia que começou a poucos quilómetros e em que perdeu a vida um elemento dos Bombeiros Voluntários locais, estando ainda outros colegas hospitalizados, tem sido um motor do concelho.
“Está lindíssima”, congratula-se a artesã Natália Moreira, reagindo à reabertura do complexo balnear.
Residente na Castanheira de Pera, esta costureira criativa frequenta a praia sempre que os afazeres profissionais lhe permitem.
“Devemos agarrar isto com garra”, preconiza, ao abordar a necessidade de retomar as diferentes atividades económicas e sociais afetadas pelo incêndio.
A EN 236-1, onde morreram 47 pessoas, entre adultos e crianças, que tentavam fugir ao avanço das chamas, “não é a estrada da morte, é a estrada da esperança”, acredita Natália Moreira.
“Temos de continuar, mas o concelho vai levar algum tempo a recompor-se deste trauma muito grande”, declara.
Nas unidades hoteleiras da região, “tem havido muitas desmarcações, temos de ver isso com naturalidade”, refere José Pais, ao indicar que “ainda é cedo” para avaliar os prejuízos que os incêndios causaram ao turismo, nas zonas montanhosas dos distritos de Leiria e Coimbra.
“Daqui a um mês, vai-se notar a diferença”, opina, por sua vez, Elisabete Santos, dona do restaurante Casmel, junto aos Paços do Concelho da Castanheira de Pera.
Desde que a Praia das Rocas encerrou, “muitas pessoas”, incluindo figuras públicas, jornalistas, militares, operacionais de socorro e de saúde, têm permanecido nos concelhos mais atingidos pela catástrofe e procurado restaurantes, cafés e unidades de alojamento.
Assim, segundo Elisabete Santos, ainda “não dá muito” para perceber em que medida os fogos e o encerramento temporário daquela complexo teve reflexos negativos na visita de turistas.
“Acho que, daqui a um dois meses, vão esquecer-se do que se passou aqui”, lamenta a empresária.
O incêndio que deflagrou há uma semana, em Pedrógão Grande, no distrito de Leiria, provocou pelo menos 64 mortos e mais de 200 feridos, e só foi dado como extinto no sábado.
O fogo atingiu também os concelhos de Castanheira de Pera e Figueiró dos Vinhos, no distrito de Leiria, e chegou aos distritos de Castelo Branco, através da Sertã, e de Coimbra, pela Pampilhosa da Serra.
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